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Dmitry A. Markitan produzindo queijo na fazenda Koza Nostra. | James Hill /The New York Times
Dmitry A. Markitan produzindo queijo na fazenda Koza Nostra.| Foto: James Hill /The New York Times

O queijo de cabra produzido na Koza Nostra, uma fazenda de cinco hectares no vilarejo de Golovkovo-Marino, a 120 km ao sul de Moscou, era feito em grande medida por uma questão de gosto.

A fazenda tinha prejuízos de mais de US$ 5.000 (R$ 15 mil) por mês. Até que a Rússia foi atingida pelas sanções ocidentais adotadas em função da crise na Ucrânia, e Moscou retaliou, proibindo a importação de queijos e outros produtos da Europa.

Praticamente da noite para o dia a fazenda começou a receber pedidos constantes. Chefs de restaurantes e gerentes de empórios diziam “queremos queijo, queremos queijo”, contou Daniel G. Sokolov, que gerencia a fazenda com a mulher, Maria V. Sokolova.

Hoje a fazenda produz até 64 quilos de queijo de cabra por dia, que vende por até US$ 30 (R$ 90) o quilo. “As sanções nos beneficiaram tremendamente”, disse.

Produtores de laticínios do país de repente ganharam uma função nova: manter a Rússia abastecida de queijos brie, camembert, muçarela e ricota, nestes tempos geopoliticamente difíceis.

O balcão de queijos do LavkaLavka, em Moscou, um empório de alto padrão que privilegia produtos de origem local, está arcado sob o peso de queijos especiais de meia dúzia de produtores locais.

Uma produtora pequena, a Mosmedyn, diz que está se dando bem concentrando-se em produzir apenas muçarela.

“O camembert não fica parado nas prateleiras”, comentou a vendedora Olga Makarova, da LavkaLavka, que vende os queijos da Koza Nostra, entre outros produtores. “As pessoas compram na hora. E depois voltam, querendo mais e mais.”

Trata-se de um raro bolsão de otimismo na economia russa. As firmas financeiras foram devastadas pelas sanções ocidentais. As petrolíferas gigantes enfrentam o revés adicional dos baixos preços do petróleo. E as empresas voltadas ao consumidor sofrem os efeitos do mal-estar econômico geral.

Mas os produtores agrícolas estão indo de vento em popa. Ao mesmo tempo em que a economia russa como um todo encolhe, o volume de queijo e coalhada produzido no país cresceu 16% no primeiro trimestre em relação a um ano antes, segundo a agência estatística federal.

O queijo tem uma história improvável de sucesso no país. Nos últimos anos, quando o boom do petróleo foi fortalecendo a economia russa, a classe média passou a apreciar os queijos europeus. Produtos franceses, italianos e holandeses inundaram a Rússia.

“O queijo é como o petróleo: se você produz muito, o preço cai”, disse Dmitry A. Markitan, o queijeiro-mestre da Koza Nostra. “Tornou-se mais barato comprar da Europa que produzir aqui.”

A Rússia possui suas próprias especialidades em matéria de queijo. Mas a maioria dos produtores nacionais vendia um produto padronizado, muitas vezes vendido sob a marca Friendship Cheese (Queijo da Amizade).

Baseado numa receita da região de Vologda, esse queijo geralmente é de qualidade inferior aos importados, tendo dificuldade para competir com eles.

Nos últimos anos, os produtores menores vêm procurando criar queijos finos de estilo europeu para alimentar o movimento russo de comida artesanal. Quando as sanções foram impostas, eles estavam bem posicionados.

“Sentimos a demanda”, comentou Lyudmila Presnyakova, que comanda uma fábrica de laticínios situada ao sul de Moscou e que produz variedades de queijo azul batizadas com o seu nome.

“Não há importações, mas as pessoas querem comer queijo. Elas telefonam.”

O sucesso recente é evidente na Koza Nostra, cujo nome junta a palavra “cabra” em russo –“koza”—e o termo italiano que designa o crime organizado, Cosa Nostra. Seus paióis foram pintados recentemente. Este ano a fazenda comprou um novo bode, um puro-sangue anglo-núbio, aumentando seu rebanho para 154 animais.

A fazenda produz um crème de chèvre, uma ricota, uma bûche de chèvre e um camembert, entre outras variedades, e vende seus queijos a empórios e restaurantes de alto padrão moscovitas. Cada lote produzido termina imediatamente.

Mas a Koza Nostra está sentindo o efeito das sanções. Devido às restrições impostas aos bancos, as taxas de juros cobradas sobre empréstimos para pequenas empresas são de 20% ou mais. Por isso a produtora não consegue crédito para ampliar significativamente suas operações.

Sem crédito, o boom russo de queijo pode chegar a um limite. Apenas agora é que começam a ser disponibilizados empréstimos subsidiados pelo governo.

Aludindo às autoridades russas que proibiram as importações de produtos da União Europeia, Sokolov comentou: “Depois de lançarem as sanções, perceberam que nossa agricultura estava de joelhos.”

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