Ao longo de quase uma década, Taylor Swift vem travando, e vencendo, uma guerra, sem deixar de sorrir. A música country foi era um inimigo natural para ela: inflexível, lenta, permissiva com o machismo. Swift podia quebrar suas regras e fazer com que as pessoas ficassem nervosas só por ela estar ali. Mesmo assim, o country sempre a acolheu. Ela quase não enfrentou nenhuma concorrência direta, e é um gênero que atrai o sucesso, mesmo que a contragosto.
Mais importante ainda, a música country colocou Taylor Swift em um contexto. O gênero fez dela uma transgressora, o que significa que até mesmo suas músicas mais boazinhas pareciam conter uma certa malícia. Vista de fora, ela era uma guerreira conquistadora. Mas para quem é do ramo, mesmo sendo a maior estrela do gênero, ela sempre foi uma espécie de azarão, apesar dos vários álbuns de platina e dos elogios.
Ficou claro faz tempo que um dia ela teria que deixar o country de lado. Ele é uma caixa pesada, porosa, mas uma caixa do mesmo jeito. E "1989 ", seu quinto álbum e o primeiro que não se preocupa mais com o country, encontrou um novo adversário.
Cheio de músicas sobre infelicidades amorosas habilmente construídas e ligeiramente assexuadas, "1989" não diz ao que se opõe. Mas há um inimigo implícito neste álbum leve e eficiente: o resto do pop convencional, com o que "1989" não tem quase nada em comum. Pop stars modernos quer dizer, pop stars brancos fazem sucesso principalmente imitando a música black. Por exemplo, Miley Cyrus, Justin Timberlake e Justin Bieber. Katy Perry é, provavelmente, a estrela pop que menos depende do hip-hop e do rhythm&blues para fazer o seu som, mas seu maior sucesso recente foi com o rapper Juicy J. Ela não está imune.
Taylor Swift, no entanto, não quer nem saber. Sua concepção de música pop remonta a um período meados da década de 1980 quando o pop não era tão escancaradamente híbrido. Essa escolha permite que ela consiga ganhar espaço no gosto popular sem ter que se preocupar com as modinhas mais recentes e sem ser acusada de apropriação cultural.
Fica claro que Taylor Swift quer ser deixada de fora dessa discussão no vídeo feito para o primeiro single do álbum, a esperta "Shake It Off", em que ela aparece no meio de dançarinos de hip-hop e falha em todos os movimentos. Mais para a frente no vídeo, ela se cerca de pessoas comuns, e todas elas requebram sem se importar, tentando não ser cool.
Dá para entender o que Taylor Swift fez? A cantora que provavelmente venderá mais cópias do que qualquer outro álbum este ano escreveu para si mesma uma história em que ela continua a ser uma outsider. Ela é acessível, a garota da cidade pequena que está aprendendo se orientar na metrópole.
Nesse sentido, a decisão mais importante que Taylor Swift tomou nos últimos anos não tem nada a ver com música: ela comprou uma casa em Nova York, pagando cerca de US$ 20 milhões por uma penthouse.
Em Nashville, no Tennessee, ela já havia aprendido todas as regras.
Agora, abre "1989" com a música "Welcome to New York", uma trêmula e ligeiramente turva celebração da liberdade de se perder em Gotham: "Todo mundo aqui era outra pessoa antes". Denominado a partir do ano em que ela nasceu, "1989" tem produção executiva de Taylor e Max Martin, e a maioria das músicas são escritas por Martin e seu colega sueco Shellback. Os dois ajudaram a construir a última década da música pop, mas o notável aqui é o quanto estão contidos. O álbum é, em grande parte, preenchido com músicas alegres, mas tensas, em que a cantora pisoteia o que quer que tenha sobrado de sua inocência juvenil. A Taylor Swift que aparece nesse álbum é selvagem, sarcástica e afiada.
Taylor Swift muitas vezes canta de maneira falada, enfatizando a intimidade sobre a potência e as nuances, mas em "1989" ela usa sua voz -mais refinada do que nunca - de forma diferente do que fazia antes. A mudança vocal mais acentuada está em "Wildest Dreams", que conta a suada e pesada história de um amor perigoso. Nos versos, Taylor Swift canta de maneira sonolenta, como se tentando seduzir alguém ou se estivesse apenas acordando: "Eu disse: Ninguém tem de saber o que nós fazemos/ As mãos dele estão no meu cabelo / Suas roupas estão no meu quarto". Em seguida, na transição, ela sobe uma oitava, lançando choramingos de êxtase, antes de voltar para debaixo das cobertas.
Sabe-se que Taylor Swift já teve alguns namorados famosos, mas o álbum parece menos pessoal do que seus trabalhos anteriores. Se a cantora quisesse fazer o som da moda, ela poderia ter ido por caminhos mais óbvios, ou até mesmo ter ficado no country, que anda tão afetado pelo hip-hop. Mas, ao fazer música pop quase sem referências contemporâneas, busca algo maior, uma atemporalidade que poucas estrelas pop além de, digamos, Adele, que tem um dom vocal que exige uma abordagem desse tipo nem pensam em atingir.
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