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Nashville pode ter lhe ensinado as regras, mas Taylor Swift se mudou para Nova York em “1989” | Sarah Barlow
Nashville pode ter lhe ensinado as regras, mas Taylor Swift se mudou para Nova York em “1989”| Foto: Sarah Barlow

Ao longo de quase uma década, Taylor Swift vem travando, e vencendo, uma guerra, sem deixar de sorrir. A música country foi — era — um inimigo natural para ela: inflexível, lenta, permissiva com o machismo. Swift podia quebrar suas regras e fazer com que as pessoas ficassem nervosas só por ela estar ali. Mesmo assim, o country sempre a acolheu. Ela quase não enfrentou nenhuma concorrência direta, e é um gênero que atrai o sucesso, mesmo que a contragosto.

Mais importante ainda, a música country colocou Taylor Swift em um contexto. O gênero fez dela uma transgressora, o que significa que até mesmo suas músicas mais boazinhas pareciam conter uma certa malícia. Vista de fora, ela era uma guerreira conquistadora. Mas para quem é do ramo, mesmo sendo a maior estrela do gênero, ela sempre foi uma espécie de azarão, apesar dos vários álbuns de platina e dos elogios.

Ficou claro faz tempo que um dia ela teria que deixar o country de lado. Ele é uma caixa pesada, porosa, mas uma caixa do mesmo jeito. E "1989 ", seu quinto álbum e o primeiro que não se preocupa mais com o country, encontrou um novo adversário.

Cheio de músicas sobre infelicidades amorosas habilmente construídas e ligeiramente assexuadas, "1989" não diz ao que se opõe. Mas há um inimigo implícito neste álbum leve e eficiente: o resto do pop convencional, com o que "1989" não tem quase nada em comum. Pop stars modernos — quer dizer, pop stars brancos — fazem sucesso principalmente imitando a música black. Por exemplo, Miley Cyrus, Justin Timberlake e Justin Bieber. Katy Perry é, provavelmente, a estrela pop que menos depende do hip-hop e do rhythm&blues para fazer o seu som, mas seu maior sucesso recente foi com o rapper Juicy J. Ela não está imune.

Taylor Swift, no entanto, não quer nem saber. Sua concepção de música pop remonta a um período — meados da década de 1980 — quando o pop não era tão escancaradamente híbrido. Essa escolha permite que ela consiga ganhar espaço no gosto popular sem ter que se preocupar com as modinhas mais recentes e sem ser acusada de apropriação cultural.

Fica claro que Taylor Swift quer ser deixada de fora dessa discussão no vídeo feito para o primeiro single do álbum, a esperta "Shake It Off", em que ela aparece no meio de dançarinos de hip-hop e falha em todos os movimentos. Mais para a frente no vídeo, ela se cerca de pessoas comuns, e todas elas requebram sem se importar, tentando não ser cool.

Dá para entender o que Taylor Swift fez? A cantora que provavelmente venderá mais cópias do que qualquer outro álbum este ano escreveu para si mesma uma história em que ela continua a ser uma outsider. Ela é acessível, a garota da cidade pequena que está aprendendo se orientar na metrópole.

Nesse sentido, a decisão mais importante que Taylor Swift tomou nos últimos anos não tem nada a ver com música: ela comprou uma casa em Nova York, pagando cerca de US$ 20 milhões por uma penthouse.

Em Nashville, no Tennessee, ela já havia aprendido todas as regras.

Agora, abre "1989" com a música "Welcome to New York", uma trêmula e ligeiramente turva celebração da liberdade de se perder em Gotham: "Todo mundo aqui era outra pessoa antes". Denominado a partir do ano em que ela nasceu, "1989" tem produção executiva de Taylor e Max Martin, e a maioria das músicas são escritas por Martin e seu colega sueco Shellback. Os dois ajudaram a construir a última década da música pop, mas o notável aqui é o quanto estão contidos. O álbum é, em grande parte, preenchido com músicas alegres, mas tensas, em que a cantora pisoteia o que quer que tenha sobrado de sua inocência juvenil. A Taylor Swift que aparece nesse álbum é selvagem, sarcástica e afiada.

Taylor Swift muitas vezes canta de maneira falada, enfatizando a intimidade sobre a potência e as nuances, mas em "1989" ela usa sua voz -mais refinada do que nunca - de forma diferente do que fazia antes. A mudança vocal mais acentuada está em "Wildest Dreams", que conta a suada e pesada história de um amor perigoso. Nos versos, Taylor Swift canta de maneira sonolenta, como se tentando seduzir alguém ou se estivesse apenas acordando: "Eu disse: ‘Ninguém tem de saber o que nós fazemos’/ As mãos dele estão no meu cabelo / Suas roupas estão no meu quarto". Em seguida, na transição, ela sobe uma oitava, lançando choramingos de êxtase, antes de voltar para debaixo das cobertas.

Sabe-se que Taylor Swift já teve alguns namorados famosos, mas o álbum parece menos pessoal do que seus trabalhos anteriores. Se a cantora quisesse fazer o som da moda, ela poderia ter ido por caminhos mais óbvios, ou até mesmo ter ficado no country, que anda tão afetado pelo hip-hop. Mas, ao fazer música pop quase sem referências contemporâneas, busca algo maior, uma atemporalidade que poucas estrelas pop — além de, digamos, Adele, que tem um dom vocal que exige uma abordagem desse tipo – nem pensam em atingir.

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