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É uma época difícil no Vale do Silício. Empresas que existem há dois anos são avaliadas em bilhões, casas caindo aos pedaços valem milhões e a arrogância chegou a tal ponto que empresários mais conscientes sonham em sair dos Estados Unidos.

Mas os capitalistas de risco do setor de tecnologia — aqueles que apostam em empresas quando elas são pouco mais do que uma ideia — fazem de tudo para evitar a palavra que poderia descrever a situação à sua volta: bolha.

“Acho que é uma palavra assustadora, porque em certo sentido, ninguém quer parar. Então, se você a pronunciar, será capaz de estourá-la?”, disse Tomasz Tunguz, sócio da Redpoint Ventures.

Uma bolha, no sentido econômico, é um período de especulação excessiva em torno de algo, desde tulipas, até empresas de tecnologia ou imóveis. E é um termo pesado no setor de tecnologia, porque traz de volta a lembrança da bolha da internet nos anos 90, quando empresas com pouca receita e lucro zero venderam bilhões de dólares em ações para um público ingênuo. Em 2000, as ações de tecnologia despencaram, o capital de risco acabou e muitas empresas desapareceram.

“Quem viveu isso sempre vai acordar com medo de fantasmas”, disse Jerry Neumann, fundador da Neu Venture Capital em Nova York.

Hoje, as pessoas veem as sombras do ano 2000 nas avaliações de empresas privadas como o Uber, a empresa de táxi por demanda, que está levantando US$1,5 bilhão com base em seu valor calculado de US$50 bilhões, e o Slack, o serviço de mensagens corporativas que tem cerca de um ano de idade e foi avaliado em US$2,8 bilhões na última rodada de financiamento.

Há alguns anos, empresas privadas que valiam mais de US$1 bilhão eram tão raras que os capitalistas de risco as chamavam de “unicórnios”. Hoje, existem 107, de acordo com a CB Insights, empresa analítica focada na indústria de capital de risco.

Ninguém duvida de que muitos dos unicórnios tecnológicos são empresas reais e que algumas poderiam prosperar durante décadas. Porém, por causa das baixas taxas de juros, as empresas de tecnologia conseguem rios de dinheiro de investidores cuja necessidade urgente de retorno as coloca em território mais arriscado. Novas empresas começaram a atrair dinheiro de fundos que normalmente não investem em empresas de tecnologia antes que elas cheguem ao mercado de ações.

O problema com a questão da bolha é que parece que ninguém concorda com sua definição. O economista Robert Shiller, cujo trabalho sobre preços de ações lhe valeu o prêmio Nobel de 2013 e que escreveu o livro “Irrational Exuberance” (Exuberância Irracional), definiu a bolha especulativa como “uma epidemia psicológica” onde as pessoas colocam a razão de lado e acreditam no que é dito.

“É um fenômeno social complicado que acaba deixando muita gente em apuros, assim como fumar e beber muito”, disse Shiller.

E as bolhas sempre se repetem, como a da tulipa holandesa em 1636, a das ações de 1929, que levou à grande depressão, a bolha imobiliária que assolou Wall Street em 2008.

Nem os mais espertos escapam. Isaac Newton, cujas leis de movimento e da gravidade sem dúvida fizeram dele um dos mais importantes cientistas já vistos, acabou entrando na bolha da South Sea em 1720. Foi uma má aposta em uma empresa britânica que tinha o monopólio do comércio com a América do Sul. Ele teria dito: “Posso calcular o movimento dos corpos celestiais, mas não a loucura das pessoas”.

Então, será que os altos valores das empresas privadas de tecnologia de hoje são outra bolha?

“Há sem dúvida alguma loucura e gente pagando demais” por participações em empresas, disse Anand Sanwal, fundador da CB Insights. “Mas algumas más decisões não significam necessariamente que estamos em uma bolha.”

Será que George Zachary, sócio da CRV, uma empresa de capital de risco, acredita que estamos em uma bolha? “Acho que estamos em um período de sobrevalorização e inconsequência”, ele disse.

Alguns investidores fazem tanto esforço para evitar o uso da palavra ‘bolha’ que acabam descrevendo situações que parecem um pouco pior.

Por exemplo, Charlie O’Donnell, fundador da Brooklyn Bridge Ventures. Quando fica mais difícil arrecadar fundos, as empresas que financiam as perdas com dinheiro de fora serão forçadas a cortar empregos e a desacelerar a expansão, disse O’Donnell. Mas isso não é uma bolha, ele disse. Isso se assemelha mais à “aproximação do apocalipse zumbi das startups”.

peter dasilva para The New York Times

As avaliações de algumas empresas podem trazer lembranças das empresas pontocom. A Palantir, empresa de análise de dados na Califórnia

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