• Carregando...
A população de carneiros do estado de Nevada aumentou de um mínimo de dois mil em meados do século 20 para mais de onze mil | Chris Huber/Rapid City Journal,via Associated Press
A população de carneiros do estado de Nevada aumentou de um mínimo de dois mil em meados do século 20 para mais de onze mil| Foto: Chris Huber/Rapid City Journal,via Associated Press

"Nós estamos chegando com três ovelhas e um carneirinho", crepitou o aparelho de rádio bidirecional. Dois minutos mais tarde, um helicóptero com quatro grandes sacos de náilon pendurados apareceu no horizonte. Ele aterrissou em uma bacia rochosa cuidadosamente para não atropelar sua carga delicada. Uma dúzia de trabalhadores e voluntários correu para abrir os sacos. Cada um deles tinha um carneiro silvestre do deserto com os olhos vendados.

Esses carneiros silvestres, capturados a uma distância não muito grande de Las Vegas pelo Departamento de Vida Selvagem de Nevada, seriam libertados no Monumento Nacional de Grand Staircase-Escalante, no sul de Utah. Realocações como essa fazem parte de um plano de preservação de longo alcance cujo objetivo é ajudar a restabelecer os carneiros silvestres nos espaços que costumavam ocupar em todo o Oeste dos Estados Unidos.

Os carneiros silvestres são descendentes de ovelhas siberianas que cruzaram o estreito de Bering até a América do Norte cerca de cem mil anos atrás. Tais rebanhos se espalharam em direção ao sul, diversificando-se e adaptando-se aos habitats locais. Os animais – conhecidos como "bighorn" nos EUA, graças aos seus imensos chifres enrolados, que podem pesar até 15 quilos – habitam terrenos íngremes, áridos, que poucas outras espécies conseguem suportar.

Graças à sua resistência, os carneiros silvestres se tornaram uma espécie simbólica nos Estados Unidos. Os antigos nativos americanos talharam a imagem dos animais em rochas, e os primeiros colonos os consideravam símbolos da aridez do deserto do Oeste americano. No auge da espécie, mais de dois milhões de carneiros silvestres percorriam o Oeste, brincando graciosamente em encostas rochosas da Califórnia até o Nebraska.

No final do século 19, porém, a indústria de ovelhas tomou conta do Ocidente, e os carneiros silvestres não tinham imunidade contra as doenças introduzidas pelo gado europeu. À medida que milhões de ovelhas passaram a tomar conta da paisagem, patógenos mortais, como a sarna e a pneumonia, dizimaram a população local. A caça não regulamentada afligiu os poucos rebanhos silvestres que ainda existiam. Em 1940, a população de carneiros silvestres havia diminuído para menos de vinte mil indivíduos, isolados em pequenos enclaves espalhados por todos os estados do Oeste.

Nas últimas décadas, as agências de gestão da vida selvagem do estado realizaram um extenso trabalho de preservação para ajudar os carneiros silvestres a se restabelecerem. Grande parte do trabalho se concentra na captura e realocação de rebanhos dos animais, que são então levados a áreas nas quais a espécie se desenvolveu bem em outras épocas.

Para encontrar essas áreas, as agências estatais estudaram uma série de fontes, desde estudos arqueológicos sobre a caça pelos nativos americanos até anotações de expedições de Lewis e Clark.

Os biólogos realizaram então levantamentos para avaliar se as áreas ainda teriam como abrigar os carneiros silvestres. Rodovias, conjuntos habitacionais e campos solares dominam hoje grande parte da paisagem do Oeste do país, tornando grandes áreas inabitáveis para esses animais. Em outros lugares, a mineração poluiu fontes de água necessárias para a sobrevivência de animais de grande porte.

Os biólogos descobriram que a melhor maneira de capturar o carneiro silvestre era jogar grandes redes de helicópteros em movimento. Os carneiros silvestres são transportados em sacos sob o helicóptero para uma área de manejo, onde os veterinários tiram amostras de sangue e verificam a presença de lesões e sinais de doenças nos animais. Se eles estiverem saudáveis, são colocados em um grande reboque e transportados para o seu novo lar.

Até o momento, mais de dois mil carneiros foram transportados com sucesso nos EUA e no Canadá. Essas realocações "são provavelmente a coisa mais importante que já fizemos" para ajudar a aumentar a população de carneiros silvestres, disse Paul Krausman, professor de preservação da vida selvagem na Universidade de Montana.

Esse tipo de trabalho de preservação intensiva ajudou a aumentar a população de carneiros do estado de Nevada de um mínimo de dois mil em meados do século 20 para mais de onze mil.

Contudo, o sucesso também trouxe perigos. O crescimento das populações de carneiro silvestre tem aumentado a possibilidade de contato com animais domesticados, colocando o carneiro silvestre novamente em risco de contrair doenças.

Assim, a Agência da Vida Selvagem de Nevada tem o cuidado de deixar grandes zonas vagas – de preferência com pelo menos 30 quilômetros – entre os carneiros silvestres transplantados e 70 mil ovelhas espalhadas por todo o estado. "Nós simplesmente não queremos correr riscos com os carneiros silvestres", disse Cox, biólogo do Departamento de Vida Selvagem de Nevada.

"Sem dúvida", disse Kevin Hurley, diretor de preservação da Fundação Carneiros Silvestres, um grupo sem fins lucrativos, "um dos maiores desafios que temos é a questão do contato das ovelhas e dos caprinos com os carneiros silvestres."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]