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Fábrica da Cargill na Indonésia; exportações do país caíram, mas demanda interna continua firme | Andri Tambunan /The New York Times
Fábrica da Cargill na Indonésia; exportações do país caíram, mas demanda interna continua firme| Foto: Andri Tambunan /The New York Times
  • Desaceleração na China pode afetar a economia da Indonésia, que já registrou queda das exportações; porto de Surubaya

As docas dos grandes portos indonésios, como o de Surubaya, andam calmas ultimamente, já que a demanda da China por matérias-primas começou a esfriar.

Mas a uma hora de distância, no interior, a gigante Cargill está correndo para concluir uma unidade de processamento de sementes de cacau, enquanto uma grande fábrica de macarrão instantâneo trabalha a todo vapor para atender à demanda da crescente classe média indonésia. "Estamos tendo dificuldades para conseguir dar conta", disse Tjun Sulestio, gerente-geral da fábrica de macarrão, pertencente à PT Suprama.

O contraste nos mercados emergentes entre os sinais de uma crise cambial iminente e a forte demanda interna é visível em todo o mundo. O valor das ações e das moedas caiu nos últimos meses em lugares como Buenos Aires, Jacarta, Manila e Istambul, à medida que aumentou entre os investidores o receio de que a desaceleração do crescimento chinês e a política do Fed (banco central dos EUA) de injetar menos dólares na economia possam provocar um tropeço global em nações em desenvolvimento.

Os mercados emergentes precisarão se arrastar por um período de fuga de capitais e redução nas exportações de commodities antes de conseguirem recuperar seu equilíbrio e permitir que a forte demanda interna por produtos como carros, eletrônicos e macarrão instantâneo possa novamente levar suas economias adiante. A questão é se os seus consumidores e empresas vão continuar gastando ou se os problemas internacionais vão respingar para as economias internas de uma maneira incontrolável para esses países.

Entretanto, há motivos para otimismo. Muitos mercados acionários em economias emergentes se recuperaram nas últimas semanas. Os problemas internacionais ainda não causaram uma corrida aos bancos nem a fuga maciça de investidores, fatores que aprofundaram crises anteriores, como a crise financeira asiática de 1997 e 98.

Os Bancos Centrais dos mercados emergentes acumularam dólares e outras moedas em fundos para tempos bicudos. Com a notável exceção da China, reguladores bancários em mercados emergentes também impuseram normas mais rígidas para empréstimos e mantiveram sob controle as operações financeiras à margem do sistema bancário.

E, embora os mercados emergentes possam enfrentar problemas além de suas fronteiras, em muitos deles os gastos internos raramente foram tão elevados.

A Índia e a Indonésia tiveram uma forte queda na cotação de suas moedas e no mercado acionário no segundo semestre do ano passado, depois que Ben Bernanke, então presidente do Fed, indicou que o BC americano começaria a abrandar as medidas que ajudaram a manter as taxas de juros de longo prazo em níveis historicamente baixos.

Depois disso, tanto a Índia como a Indonésia reduziram os deficits em suas contas correntes, uma medida de amplo alcance no comércio e nas finanças. Esses países também permitiram uma significativa depreciação das suas moedas, o que encareceu suas importações e tornou as exportações mais competitivas. Como resultado, seus mercados financeiros têm atualmente menos necessidade de financiamento externo.

A grande questão agora é saber até que ponto o crescimento chinês irá se desacelerar. Uma forte redução na demanda da China prejudicaria não apenas os embarques diretos dos mercados emergentes para o país, como também provocaria maior erosão nos preços, já em queda, de produtos como carvão, cobre, óleo de palma e outras commodities dos mercados emergentes. O HSBC, banco com atuação global, calcula que o crescimento econômico da China injete atualmente o dobro de dólares por ano na demanda global do que a expansão da economia americana.

Para os países em desenvolvimento do Sul e Sudeste Asiático, uma forma de evitar sérios prejuízos por causa da desaceleração nas exportações de commodities seria que eles próprios assumissem o lugar dos fornecedores de carvão, alumínio e outros minérios da própria China, cujos custos estão cada vez mais altos. Parte disso já está acontecendo, pois a China anunciou um salto nas importações em janeiro.

Outra tática consiste em os mercados emergentes começarem a substituir a China como local preferencial para a aquisição de mercadorias como roupas, sapatos e produtos eletrônicos.

A China ainda está ampliando sua participação no mercado mundial de produtos eletrônicos, mas isso pode mudar. Bayu Krisnamurthi, vice-ministro indonésio de Comércio, disse que a empresa taiwanesa Foxconn Technology Group, principal fabricante de aparelhos da Apple, está se preparando para construir uma grande fábrica na Indonésia.

A Indonésia já foi um símbolo do que pode dar errado em uma economia dependente de commodities em épocas difíceis. Durante a crise financeira asiática, os bancos quebraram e a agitação social levou a uma mudança de governo. Mas, pelo menos por ora, Rolls-Royces ainda podem ser vistos em Surabaya, a segunda maior cidade da Indonésia.

"As pessoas ficam pedindo o fim do mundo na Indonésia", disse Jean-Louis Guillou, presidente das operações da Cargill no país. "E até agora não vi sinal disso."

Colaboraram Joe Cochrane, de Jacarta, Neha Thirani Bagri, de Mumbai, e Thomas Fuller, de Bancoc

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