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Quando a diretora Julie Taymor começou a imaginar sua produção de "Sonho de Uma Noite de Verão", peça de William Shakespeare, ela fez duas escolhas: crianças povoariam o mundo das fadas e todas as fadas teriam os pés no chão. "Eu não queria ninguém voando", ela afirmou.

Diretora do musical de maior sucesso de todos os tempos ("O Rei Leão") e talvez do mais problemático de todos ("Spider-Man: Turn Off the Dark"), Taymor afirmou que sabia como demorava criar cenas de voo – e, também, presumivelmente, o quanto elas podem dar errado. Porém, ao logo do tempo ela foi se deixando vencer pela ideia; para as grandes entradas de Puck e Titânia, ambos interpretados por adultos, "simplesmente não parecia correto fazê-los entrar andando no palco".

Desta vez ela manteve a tecnologia de voo simples. O fato de Taymor ter incluído voos na produção, cujas apresentações começaram no mês passado no novíssimo Theater for a New Audience, no Brooklyn, sugere que ela não se deixa intimidar pela experiência em "Spider-Man", cujos problemas iniciais incluíram diversas lesões durante as cenas de ação.

Espetáculo mais caro já produzido na Broadway, "Spider-Man" foi violentamente criticado nas resenhas. Quando Taymor foi colocada para escanteio, ela entrou com um processo, acusando os colaboradores – os compositores Bono e Edge, do U2, e seu coautor Glen Berger – de tramarem pelas suas costas. Seguiu-se um processo contra ela e as partes fecharam um acordo.

Seus problemas com "Spider-Man" lhe ensinaram que "tudo se resume a com quem você trabalha".

Em sua primeira investida de volta aos palcos de Nova York, ela escolheu trabalhar com Jeffrey Horowitz, com quem colaborou pela primeira quase 30 anos atrás. Sua sobrinha, Danya Taymor, é a assistente de direção, e o parceiro de Taymor, Elliot Goldenthal, compôs a música.

Ela também se sente encorajada pela invulnerabilidade da peça em si. "As pessoas não vão falar que o roteiro precisa ser trabalhado." Ela riu, dizendo o óbvio: "O roteiro funciona".

Agora com 60 anos, Taymor parece desconcertantemente jovem para sua idade. Quando a música do primeiro ato se acelerou, ela pulava na cadeira; enquanto os atores falavam, ela repetia as palavras junto com eles.

"Sei que faço isso", ela reconheceu posteriormente. "É vergonhoso."

Em sua concepção de "Sonho", 17 crianças, com idades variando entre sete e 16 anos, interpretam fadas, a quem ela chama de "elementais rudes", representações da energia natural bruta.

"Elas me divertem completamente. A empolgação delas pegou em todo mundo – as crianças ficam tão encantadas com tudo que fazemos. Elas fazem cara de espanto quando se abre um alçapão."

Taymor continua sendo muito admirada. "Eu certamente trabalharia com Julie, e ficaria honrado", disse Scott Sanders, que produziu "A Cor Púrpura" e, nesta temporada, "After Midnight", na Broadway. "Entretanto, eu precisaria me sentir mil por cento convicto de que nós queremos o mesmo espetáculo, e que temos a mesma visão do que desejamos, incluindo o orçamento."

Taymor tem tido uma carreira movimentada longe dos palcos. Entre seus filmes estão adaptações shakespearianas ("A Tempestade", "Titus"), a cinebiografia "Frida" e "Across the Universe", obra baseada nas canções dos Beatles. Inspirada pelo seriado "Downton Abbey", ela está desenvolvendo três séries para televisão, incluindo "Fanny", a releitura de Erica Jong para "Fanny Hill". E ela vem tentando levantar dinheiro para a adaptação do romance "As Cabeças Trocadas", de Thomas Mann, como um filme musical.

O alcance dos talentos de Taymor e as especificidades de sua visão podem ser demais para seus colaboradores processarem, disse Tom Schumacher, presidente do Disney Theatrical Group, que a contratou para "O Rei Leão" depois que ela ficou famosa como criadora de bonecos, diretora de ópera e de teatro experimental. "Que ela seja tão articulada, passional e que também faça isso", disse ele em referência à sua capacidade visual, "pode ser – acho que ‘irritante’ não é justo, mas desconcertante para as pessoas que alguém consiga fazer tantas coisas".

Exigente consigo mesma, ela é igualmente exigente com seus atores. Max Casella, que interpreta um Bottom proletário e suburbano no novo "Sonho", trabalhou com ela pela primeira vez em "O Rei Leão", onde, como "Timão", manipulava um boneco de corpo inteiro. "Lembro-me dela gritando – gritando – comigo: ‘Não roube o brilho do boneco!’. Se uma grande artista berra comigo, é isso que eu quero."

Enquanto lida com "Sonho", Taymor não pensa sobre o futuro no Broadway. "Sou feito o Puck, eu subo e desço, subo e desço." Ela sorriu. "Mas hoje em dia, eu mais subo."

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