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Depois do curso, Alison Raleigh fez um quadro usando ratos brancos adquiridos de fonte eticamente correta | Tony Cenicola/The New York Times
Depois do curso, Alison Raleigh fez um quadro usando ratos brancos adquiridos de fonte eticamente correta| Foto: Tony Cenicola/The New York Times

A casa de Alison Raleigh é cheia de animais empalhados. De verdade. Há uma cabeça de veado no banheiro, um faisão e um corvo na cornija da lareira e uma cabeça de um carneiro no estúdio. Muita coisa foi comprada no eBay, mas algumas peças ela mesma fez.

"Estava colecionando todos esses animais empalhados e aí pensei: ‘Mas por que eu mesma não faço?’ Não tenho nojo de sangue nem nada", conta a dona de casa de 40 anos, mãe de dois filhos. Há quem diga que se arriscar na taxidermia por conta própria é levar a filosofia do faça-você-mesmo um pouco longe demais – mas não para Alison, nem para muitos outros como ela que estão aprendendo esse passatempo vitoriano em cursos oferecidos em museus, centros naturais e até restaurantes.

Fazer os próprios trabalhos em casa, como ela se apressa em explicar, é a única maneira de ter certeza de que os modelos vêm de fonte segura.

Para aqueles que querem garantir que o alce ou o veado que têm pendurado na parede foi tratado de forma ética, agora a moda é a taxidermia ética.

Mickey Alice Kwapis, professora de 23 anos de Cleveland, em Ohio, explica que os animais que usa foram criados e sacrificados, sem dor, para servir de alimento para répteis e grandes felinos. E ensina como preparar a carne para consumo, preservar os órgãos em vidros e limpar os ossos para fazer peças de bijuteria ou moê-los para ser usado como fertilizante.

"Não desperdiçamos nada", garante. Alison, que aprendeu a técnica em um curso oferecido pelo Museu de Anatomia Mórbida, no Brooklyn, adquire os animais em casas especializadas em alimento para répteis. Também não desperdiça nada, inclusive dando as vísceras dos camundongos que empalha para sua cachorra. A definição de ética na taxidermia, porém, depende muito a quem se pergunta.

"Usar animais mortos que viram comida de outra espécie, para mim, é como o abate em massa", afirma Allis Markham, 31 anos, assistente do Departamento de Taxidermia do Museu de História Natural de Los Angeles e dona da Prey, empresa que cria peças para produções de Hollywood.

Ela obtém os espécimes – geralmente pássaros, codornas, esquilos, patinhos e texugos – de empresas que fazem o controle de pragas/desinsetização e que acabariam jogando no aterro sanitário, ou de criadores de animais de caça, se pereceram por morte natural. Allis decorou a própria casa com cerca de trinta peças, incluindo um urso negro, impalas, antílopes e um falcão-chacal.

A maioria dos cursos é popular a ponto de gerar listas de espera. Quase todas as participantes são mulheres nas casas dos vinte, trinta e 40, tanto dando como recebendo as aulas.

Os preços variam de US$100 a US$500 e ensinam como tirar a pele, retirar as vísceras, prender os membros com fios e criar uma pose definitiva para o animal.

Parte do fascínio pode ser a ilusão de enganar a morte, teoriza Margot Magpie, 31 anos, que, às vezes, dá aulas no Museu de Anatomia Mórbida.

"Fazer um animal morto parecer vivo de novo ajuda algumas pessoas a aceitar a morte", diz ela.

E conta que Magpie é o nome que adotou depois de receber ameaças de ativistas de direitos animais que são contra sua arte. De onde se conclui que o que é ético para alguns pode ser um anátema para outros.

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