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Jutudi, aplicativo do Alibaba, une consumidores à rede de fazendas. A fazenda Nanbin exporta mangas | Billy H.C. Kwok/The New York Times
Jutudi, aplicativo do Alibaba, une consumidores à rede de fazendas. A fazenda Nanbin exporta mangas| Foto: Billy H.C. Kwok/The New York Times

O smartphone conta a história de uma fruta kiwi na China.

Com o rápido escaneamento de um código, compradores podem verificar a viagem de 1.600 quilômetros da fruta, do Rio Yangtze até uma gôndola de um supermercado em Pequim. O recurso do celular, que também dá detalhes sobre o solo e os testes da água da fazenda, procura garantir que o kiwi não tenha se contaminado no trajeto.

“Já escaneei alguns produtos eletrônicos antes, mas nunca comida. Prestamos muita atenção à qualidade da comida. Muitas famílias com crianças pequenas fazem isso”, disse um consumidor, Xu Guilin.

Controlar a crescente cadeia de abastecimento da China já provou ser uma tarefa frustrante. Reguladores do governo e empresas estatais de agricultura tentaram ampliar inspeções em fábricas, realizando testes de laboratório em massa e melhorando os processos de execução — mas escândalos relativos à segurança alimentar ainda surgem com frequência.

Empresas chinesas de tecnologia acreditam que podem fazer algo melhor. Da fazenda para a mesa, os maiores produtores do país buscam atualizar sistemas arcaicos com coleta de dados, aplicativos para smartphones, mercados on-line e engenhocas chiques.

O fundador da fábrica de computadores Lenovo começou o Joyvio, que rastreia frutas desde seu plantio até a entrega. O Alibaba, gigante da internet, conecta os consumidores aos produtores através de um serviço on-line de entrega de frutas e verduras. E a Baidu, mecanismo de busca líder no país, está desenvolvendo “pauzinhos inteligentes” que testam se a comida está contaminada.

“Na indústria agrícola e de produção de alimentos, a transparência é fundamental, mas não é bem assim na China”, disse Chen Shaopeng, do Joyvio.

Empresas de tecnologia ainda precisam ganhar a confiança dos clientes. Uma consumidora em um supermercado de Pequim testou o kiwi rastreável e ficou intrigada, mas não o suficiente para comprá-lo.

“É impressionante, mas na verdade realmente não confio em nenhum certificado”, disse Jiang, que não quis dar seu nome completo.

Com mais de um bilhão de bocas para alimentar, a China tem uma das mais complexas cadeias alimentares do mundo. Há problemas em quase todas as etapas.

Em 2008, em um dos piores episódios alimentares, produtores venderam leite em pó contendo melamina, o que levou 300 mil bebês para o hospital e matou seis. Chefs frequentemente cozinham com sobras de óleo, um ingrediente tóxico conhecido como óleo de sarjeta que geralmente passa despercebido, até que os consumidores ficam doentes.

Esses escândalos abalaram a confiança do consumidor e geraram protestos. O cinismo é tão visceral que piadas sobre contaminação alimentar estão por toda a parte na mídia social e em vídeos on-line.

Os pauzinhos inteligentes do Baidu supostamente seriam uma brincadeira do dia da mentira. A empresa publicou um anúncio falso mostrando dois pauzinhos que indicariam se a comida havia sido preparada com óleo de sarjeta. O anúncio dominou a mídia social chinesa. Com uma resposta tão grande, o Baidu decidiu criar o produto real. Os pauzinhos para testar o óleo de sarjeta contêm sensores e também indicam os níveis de pH e temperatura.

A empresa está fabricando um lote de protótipos para testes. Ainda não decidiu quando o produto será lançado ou quanto irá custar.

“Com os pauzinhos inteligentes do Baidu, não precisarei me preocupar mais com o óleo de sarjeta. Certamente comprarei um quando estiver à venda”, escreveu alguém no Weibo, um microblog chinês.

A população da cidade pode comprar diretamente de agricultores através do Jutudi, programa piloto criado pelo Alibaba que conta com cerca de dez mil usuários. O aplicativo permite a compra de frutas e verduras de fazendas de toda a China.

Jiang Hui, editora web de 27 anos, compra quase tudo on-line, então esse foi um passo fácil.

“O aumento do número de escândalos alimentares está transformando todos em especialistas em segurança alimentar. Quanto mais lemos, mais assustados e mais cautelosos ficamos”, disse a moradora de Pequim.

O Joyvio tenta assumir um desafio ainda maior: toda a cadeia alimentar.

Iniciado em 2009, é o maior fornecedor de kiwis e mirtilos na China. Tudo é controlado: ele verifica as sementes que são plantadas e depois averigua e coleta dados a cada etapa do processo. Os viveiros parecem coisa de ficção científica. A temperatura ambiente e a programação de irrigação podem ser controladas remotamente através de um celular ou de um computador.

A Joyvio focou na aquisição de tecnologia e know-how para construir seu negócio. Os executivos estudaram empresas agrícolas internacionais. A empresa também comprou fazendas no Chile e na Austrália e fez parceria com dois grandes produtores de fruta chilenos.

“Ampliamos nossa capacidade global para trazer um monte de tecnologia nova para a China. Queremos continuar comprando empresas ou fazendas em outros países, e aqui também, para ampliar nossa capacidade de fornecer produtos e bens de alta qualidade”, disse Chen.

Contribuiu Cao Li

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