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O prêmie do Japão, Shinzo Abe, à esq., e o presidente da China, Xi Jinping, avançaram na cooperação bilateral | Kim Kyung-Hoon/Reuters
O prêmie do Japão, Shinzo Abe, à esq., e o presidente da China, Xi Jinping, avançaram na cooperação bilateral| Foto: Kim Kyung-Hoon/Reuters

A expressão vaga que o presidente da China, Xi Jinping, fez quando apertou a mão do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, foi sua face mais despreocupada em toda a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec na sigla em inglês), no mês passado. Foi o primeiro encontro entre os dois líderes, e ele durou apenas 25 minutos.

No entanto, foi um ponto de virada nas relações entre a China e o Japão, especialmente depois das tensões renovadas sobre as ilhas do mar do Leste da China que os dois países reivindicam —chamadas de Senkaku em japonês e Diaoyu em chinês.

Como o governo de Pequim havia manifestado recentemente sua revolta sobre o assunto, ele precisou de uma desculpa muito boa para justificar ao público chinês um contato direto com o premiê japonês.

Daí as condições assimétricas que Xi impôs antes da reunião com Abe: o Japão teria de reconhecer formalmente que há uma disputa territorial entre os dois países e Abe teria de prometer que não visitaria mais o santuário de Yasukuni, que abriga criminosos de guerra Classe A entre os mortos de guerra do Japão.

Pouco antes da cúpula, porém, os dois lados chegaram a um acordo muito bem elaborado e convenientemente aberto a diversas interpretações.

Ele afirma que a China e o Japão têm opiniões diferentes sobre suas recentes tensões no mar do Leste da China —permitindo que o lado chinês afirme para sua população que o Japão reconheceu formalmente a existência de uma disputa, como Xi desejava, ao mesmo tempo que o governo japonês diga a seu próprio público que não é assim. (Yasukuni não foi mencionado.)

Abe e Xi merecem crédito por essa imprecisão construtiva.

Ao adotá-la, eles deram um passo responsável no sentido de acalmar as tensões. Abe, em particular, parece ter calculado que, mesmo que perdesse pontos com alguns de seus eleitores, poderia suportar essa carga mais facilmente que Xi, que luta para superar as divisões entre falcões e pombos no meio militar e de política exterior da China.

Isso não poderia ter sido fácil para Abe.

A China frequentemente envia barcos de patrulha para as águas ao redor das ilhas Senkaku/Diaoyu, e o público japonês em geral apoia uma posição dura contra tais provocações e em questões de segurança relacionadas à China.

Segundo uma pesquisa conjunta conduzida neste verão pelo grupo não governamental japonês Genron NPO e pelo jornal "China Daily", 93% dos japoneses não têm uma boa impressão da China.

Mas muitos japoneses também compreendem que a China é um vizinho importante e essencial para sua paz e prosperidade.

No entanto, também há um princípio geral na política chinesa de que um líder sem uma base de poder sólida não pode melhorar as relações com o Japão.

A julgar pela cobertura morna da mídia chinesa a esse aperto de mãos histórico, Xi ainda não está suficientemente seguro para promover de forma ativa o relacionamento China-Japão.

Mas esse encontro abriu caminho para uma melhora.

Embora isto não tenha sido divulgado na China, Abe disse a Xi que acredita que o Japão e a China poderiam avançar em quatro questões: na cooperação no mar do Leste da China (inclusive na implementação de um pacto de 2008 sobre o desenvolvimento conjunto de petróleo e gás na área); no aprofundamento das relações econômicas; na promoção de um ambiente de segurança mais estável no Extremo Oriente; e na maior compreensão mútua.

O aperto de mãos entre Abe e Xi já reanimou negociações que estavam paradas, como o Diálogo de Políticas sobre a Região do Mekong e o Novo Comitê de Amizade Japão-China para o Século 21. O Comitê de Amizade, no qual servi como secretário-geral no lado japonês, é um painel de não políticos que atua como órgão assessor para os primeiros-ministros dos dois países.

Agora Abe e Xi devem mostrar a seus governados os benefícios tangíveis dessa cooperação.

Ela começa por permitir que se saibam fatos promissores. Por exemplo, a China e o Japão já cooperam em questões econômicas e de segurança não tradicional, como conservação de energia e controle de poluição.

A Força Marítima de Autodefesa do Japão protege navios mercantis operados por chineses em operações internacionais antipirataria ao largo da costa da Somália. O governo japonês fornece assistência técnica significativa e verbas para escolas e ONGs locais na China. Um número recorde de turistas chineses tem visitado o Japão.

O Comitê de Amizade também discutiu maneiras de reforçar o programa de intercâmbio que desde 2007 levou ao Japão pelo menos 30 mil jovens da região Ásia-Pacífico, incluindo a China.

Por mais trivial que possa parecer esse contato entre os povos, ele pode mudar a dinâmica entre os dois países ao dissipar mal-entendidos comuns.

Mais que tudo, na verdade, a maior compreensão entre os japoneses e os chineses pode ajudar Abe e Xi a superarem a pressão das forças nacionalistas existentes nos establishments do Japão e da China.

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