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Paris está prestes a ficar maior. No ano que vem, se os planos prosseguirem, a cidade e os subúrbios à sua volta serão unidos em um esforço para corrigir séculos de decisões que ampliaram a divisão cultural.

A nova Métropole du Grand Paris incluirá quase 7 milhões de pessoas e irá mais do que triplicar a população atual da cidade central. Deverá favorecer um melhor acesso ao trabalho e, se der certo, um maior sentido de inclusão para milhões de imigrantes que vivem na pobreza na periferia da cidade. A França está lutando para corrigir as desigualdades que foram realçadas pelo ataque à Charlie Hebdo e os problemas que alienam jovens muçulmanos e imigrantes.

A renovação urbana e o remapeamento da capital são um começo. Porém, em primeiro lugar, a França precisa lidar com o racismo que afastou os cidadãos indesejados para longe do centro de Paris. As pessoas vieram para cidades como esta nos subúrbios. A viagem até aqui do centro de Paris leva uma hora de trem, e termina em uma estação ao lado de um conjunto habitacional. Pela estrada, um segundo conjunto esconde-se atrás de paredes que lembram prisões: La Grande Borne, antigo lar de Amedy Coulibaly. Coulibaly é o terrorista que matou um policial na rua e quatro reféns em um supermercado kosher.

Em uma tarde recente, o prefeito de Grigny, Philippe Rio, supervisionou uma cerimônia de formatura em La Grande Borne, distribuindo diplomas a adultos que haviam terminado um programa de treinamento profissional. O desemprego se aproxima dos 40 por cento entre os jovens daqui; as empresas ao longo da estrada do outro lado da parede não costumam contratar localmente. O prefeito citou um relatório mostrando que a França agora gasta 47 por cento mais em alunos do ensino fundamental em Paris do que com os dos subúrbios pobres como este. “Os moradores de Grigny incorporam a exclusão em sua identidade. Consideram-se forasteiros porque é assim que são tratados”, ele disse.

Esse subúrbio batalhador mostra como o desenvolvimento urbano falhou com milhões de famílias de imigrantes e contribuiu para o que o primeiro ministro, Manuel Valls, recentemente denunciasse um “apartheid territorial, social, étnico”. Sua observação provocou apreensão na França. Mas, como mostram todos os tipos de planejadores e cientistas políticos franceses, a tradição de exclusão faz parte do próprio layout de Paris e de lugares como Grigny, que tem belas casas antigas, mas é um depósito para milhares de muçulmanos menos favorecidos.

Em essência, o Paris Métropole promete um novo conselho regional para coordenar a habitação, o planejamento urbano e o trânsito para a Grande Paris. Pierre Mansat passou anos desenvolvendo o plano. “As pessoas nos subúrbios pobres irão pertencer à mesma cidade que as pessoas no 7« Arrondissement”, ele disse.

Pertencer é uma questão complexa. “Os jovens de Grigny têm avós que fizeram parte do império colonial”, disse o historiador social Pascal Blanchard. “Agora seus pais vivem nos subúrbios à margem da sociedade, no que é basicamente uma continuação da situação colonial, e eles estão presos lá sem trabalho, sem esperança. Continuamos despejando dinheiro em melhorias urbanas, falando sobre novas estações de trem e reafirmando os valores franceses. Mas o problema é a cor da pele. E não dá para mudar isso reformando edifícios.”

Blanchard não é o único que vincula a discriminação ao desenvolvimento urbano de Paris. Os subúrbios pobres onde motins eclodiram em 2005 já foram parte da floresta medieval de Bondy, cujos moradores eram tratados como servos pelos parisienses. Quando Napoleão III contratou o Barão Haussmann para transformar a capital em uma metrópole moderna, os habitantes das favelas internas foram expulsos para a periferia da cidade. Uma terra sem nada, a “zona”, era uma reserva militar além do muro, onde o moderno anel viário agora parece um fosso de concreto, dividindo os subúrbios da cidade. Desenhada por Émile Aillaud, com 3.600 apartamentos, La Grande Borne foi inaugurada na década de 60 para abrigar inquilinos despejados de distritos proletários em Paris. Aillaud projetou o complexo de edifícios baixos com curvas elegantes em torno de pequenas áreas verdes. Mas com a crise econômica na década de 70, o layout se tornou um desastre, impossível para a polícia. As coisas só pioraram durante a década de 80. O presidente François Mitterrand viu o futuro em carros e casas para famílias. Os moradores que ainda podiam se dar ao luxo de deixar lugares como Grands Ensembles fugiram, deixando-o para os imigrantes pobres.

Como disse Nicolas Grivel, diretor geral da ANRU, a Agência Estatal para a Renovação Urbana: “Precisamos mudar o sistema de transportes e o governo da Grande Paris. Mas também temos que acabar com o anel psicológico ao redor da cidade.”

Grigny, um subúrbio ao sul, fica a uma hora de trem do centro de ParisThe New York Times
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