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No Peru, uma cidadezinha foi construída pela chinesa Chinalco para realocar moradores e abrir espaço para uma mina de cobre | Oscar Durand para The New York Times
No Peru, uma cidadezinha foi construída pela chinesa Chinalco para realocar moradores e abrir espaço para uma mina de cobre| Foto: Oscar Durand para The New York Times

Poucas regiões estão tão preocupadas com a desaceleração da economia chinesa como a América Latina.

Afinal, a China não só compra quase 40 por cento do cobre chileno como sua demanda, que já deu a impressão de ser insaciável, como ajudou a elevar o preço do minério de US$2 para US$9/kg.

Ao mesmo tempo, Pequim ganhou bilhões de dólares na mineração e na indústria da pesca do Peru e gastou outros tantos comprando soja da Argentina e do Brasil. Para completar, socorreu o governo venezuelano com um empréstimo de US$50 bilhões, a ser pago com remessas de petróleo.

O apetite voraz da China pela matéria-prima latino-americana resultou na década mais próspera da região desde os anos 70, enchendo os cofres dos governos e ajudando a diminuir pela metade o nível de pobreza local.

Porém, essa fase já acabou. "A febre das commodities evitou que governos e empresas tomassem medidas drásticas; pelo amor de Deus, até a Argentina cresceu de cinco a seis por cento durante quase dez anos", comenta Andrés Velasco, que foi ministro das Finanças do Chile de 2006 a 2010.

O cobre já está abaixo dos US$7. E conforme os preços continuam a cair, devido em grande parte à baixa demanda chinesa, a situação fica mais complicada.

E é especialmente difícil para os principais exportadores de petróleo, prejudicados pelo colapso no preço do produto, consequência da queda na demanda mundial combinada ao aumento do fornecimento dos EUA e outras regiões.

A Venezuela, por exemplo, está em queda livre. O FMI calcula que a contração de sua economia dure este ano e o próximo – e já foi forçada a limitar a remessa de petróleo à China, comprometendo assim o pagamento da sua dívida com o país.

O fenômeno não poupa ninguém. "O crescimento na América Latina deve voltar ao nível anterior ao da alta", afirma Alejandro Werner, diretor da divisão do FMI responsável pelo hemisfério ocidental. O fundo espera uma expansão de 1,3 por cento em 2014, um terço do ritmo de três anos atrás.

O tropeço simplesmente enfatiza o fato de que as economias latino-americanas não conseguiram superar uma de suas fraquezas históricas: a da dependência das matérias-primas, que limita o desenvolvimento da região a uma sequência de altos e baixos.

Do Brasil e Argentina no extremo sul ao México no norte, durante anos as autoridades locais temeram que a China solapasse seus esforços de criar um setor de manufatura que pudesse representar a entrada no mundo desenvolvido.

De fato, não só a mão de obra chinesa superou a indústria regional e atraiu a maior fatia do investimento global na manufatura, como seu apetite pelos minerais, petróleo e produtos agrícolas latino-americanos elevaram o valor das moedas da região, tornando seus produtos industrializados ainda menos competitivos.

A fatia do setor na produção econômica local vem caindo há mais de uma década, ou desde que a China se posicionou de forma agressiva na economia mundial ao entrar para a Organização Mundial do Comércio.

Ao mesmo tempo, o volume de exportações de matérias-primas da América Latina – que era de 52 por cento nos anos 80 e caiu para 27 no fim dos anos 90 – tinha crescido mais de 50 por cento às vésperas da crise financeira mundial.

O efeito chinês na América Latina está contribuindo para o que o especialista Dani Rodrik, da Universidade de Harvard, chama de desindustrialização prematura", interrompendo o padrão de desenvolvimento econômico adotado por praticamente o mundo todo desde a Revolução Industrial.

Velasco, de 54 anos, conta que, uma vez, um estudante de 23 de Antofagasta lhe perguntou o que o governo chileno faria com a produção da mineração do cobre, ao que ele respondeu: "Quando você tiver a minha idade, o Chile não terá mais cobre".

"A questão não é o que devemos fazer com o cobre, mas sim como vamos nos virar sem ele", concluiu.

Já para Werner, do FMI, o caso da consequência da desindustrialização é exagerado.

"Em termos de médio prazo, a China representa um benefício imenso para a América Latina", afirma ele.

Na agricultura, por exemplo, as exportações para aquele país estão forçando o surgimento de inúmeras inovações e melhorias na eficiência. E a demanda pela soja brasileira e argentina – principal fonte de ração animal – não deve cair, pois a China vai continuar enriquecendo e consumindo carne.

E como disse Huang Haizhou, diretor da China International Capital Corporation, aos latino-americanos nervosos na conferência do FMI realizada aqui recentemente, apesar da desaceleração, a demanda por matéria-prima de seu país continua alta.

"A procura da China por commodities é mais importante para o crescimento da América Latina do que as exportações para os EUA e assim continuará por vários anos", afirma ele.

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