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Um homem que alguns acreditam ser o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau | Vídeo dos Militantes, via Associated Press
Um homem que alguns acreditam ser o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau| Foto: Vídeo dos Militantes, via Associated Press

Ele era o quietinho que caminhava silenciosamente para se reunir com os colegas discípulos em uma casa perto das ferrovias. Mas quando se agitava – sobre pegar em armas contra o governo, ou sobre o seu ódio aos cristãos e judeus – não adiantava discutir com Abubakar Shekau.

Um discípulo iniciante que fez isso quase morreu quando Shekau o prendeu em um quarto por uma semana sem comida nem água no calor de 40 graus.

Há uma década, a seita ainda não se intitulava Boko Haram, porém sua ideologia já era linha dura.

"Ele estava instigando os garotos a se tornarem selvagens", disse Aji Modu, produtor da televisão estatal na região, que se lembra da voz dura de Shekau pregando perto de sua casa em 2008.

Após anos assassinando civis e incendiando aldeias, Shekau e seus colegas militantes finalmente chamaram a atenção do mundo ao sequestrar centenas de alunas de uma escola. No entanto, em um vídeo divulgado recentemente, mostrando o sequestro das meninas pela primeira vez, o homem que acham ser Shekau não deu nenhum sinal de que temesse ser um homem caçado.

"Vocês estão dizendo que me afastei dos valores morais", o homem gritou, por vezes olhando atravessado e dando risadas no vídeo. "Vocês têm valores morais?".

A liderança do grupo é um mistério, e existe grande discordância por aqui se Shekau ou um sucessor secreto está no comando. Os funcionários da inteligência dos EUA afirmam que eles não têm nenhuma razão para duvidar da autenticidade do vídeo, tampouco de que a pessoa que aparece nele não seja Shekau.

Shekau, que pode ter de 35 a 40 e poucos anos, nasceu em uma aldeia remota na fronteira com a República do Níger. Quando menino, foi levado pelo pai para estudar o Alcorão com um malam, ou "estudado", em Maiduguri. "Ele discutia com o malam o tempo todo", contou o filho do professor, Baba Fanani.

Após 11 anos de estudo, o pai de Baba Fanani lhe pediu para sair. Fanani recordou que o jovem Shekau já mostrava sinais de agressividade.

E em todos esses anos de estudo, os pais do menino não o visitaram nenhuma vez, o que alguns em Maiduguri acreditam explicar em parte a dureza de Shekau.

Em outros aspectos, ele foi um típico estudante do Alcorão – varrendo a casa, por exemplo, de Bulama Mali Gubio, um funcionário público aposentado. Gubio não acredita que o homem que ele viu no vídeo seja o mesmo que conheceu anos atrás.

O jovem Shekau caminhava na direção de Mohammed Yusuf, o fundador da seita que foi morto sob custódia policial em 2009, durante a primeira insurreição do Boko Haram. Em Maiduguri, Yusuf criava uma reputação de pregador islâmico instigador e crítico do governo e da educação ocidental. Shekau era mais radical do que Yusuf, em alguns relatos.

O grupo que se tornou o Boko Haram se juntou em Maiduguri em meados de 2000; Yusuf atacava as escolas e o governo, e Shekau, o seu tenente, ampliava as mensagens nos bairros.

Em boa parte dos últimos quatro anos, o Boko Haram tem realizado incursões com bombas, assassinatos, ataques às igrejas e às instalações militares, e cada vez mais ataques bárbaros a civis.

As forças de segurança da Nigéria responderam na mesma moeda, juntando e matando homens jovens acusados de serem membros do Boko Haram. Mais de 4.000 foram mortos, segundo a Anistia Internacional.

Quer o homem no vídeo seja Shekau ou não, ele parecia ser tão movido pela violência quanto o homem lembrado por aqui. "Yusuf tinha medo dele", Gubio disse. "Ele era muito perigoso. Foi ele o responsável por motivar esses garotos a lutarem".

Contribuiu Eric Schmitt

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