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A passarela levando a Akhshtyr, uma aldeia acima de Sochi excluída das opções de transporte que costumava ter | James Hill for The New York Times
A passarela levando a Akhshtyr, uma aldeia acima de Sochi excluída das opções de transporte que costumava ter| Foto: James Hill for The New York Times

Até quem mora a 10 minutos dali parece não saber como chegar a Akhshtyr, uma aldeia na montanha que teoricamente devia desfrutar da construção multibilionária para os Jogos.

"Atravesse a ponte", disse Valentina Kvasnikova certa tarde, gesticulando em direção a uma estrutura instável, feita de ripas de madeira frágeis, pregadas umas nas outras, suspensas acima do turvo Rio Mzymta.

Após cruzar a ponte, Akhshtyr parecia tentadoramente perto ̶ bem em frente da nova via férrea de 48 km e da nova via expressa que leva o resort do Mar Negro de Sochi às montanhas logo acima.

No entanto, nenhuma rampa conecta Akhshtyr à nova estrada. O trem não para na aldeia e, segundo os policiais, os pedestres são estritamente proibidos de atravessar de um lado para o outro.

Não ter acesso à estrada principal não é a única indignidade enfrentada pelos cerca de 200 moradores de Akhshtyr desde que a Rússia decidiu gastar US$ 8 bilhões em um plano para transformar uma estrada largada em um importante corredor de transporte.

Toda Olimpíada tem seu preço ̶ bairros deslocados, comerciantes que perdem seus negócios, moradores reclamando do trânsito ̶ e algumas comunidades aqui têm se saído melhor. Akhshtyr, uma coleção de casas em ruínas e animais de fazenda, não foi exceção.

Nos últimos cinco anos, caminhões de construção têm retumbado constantemente pela aldeia. Akhshtyr ficou sem água potável desde 2008, quando seus poços de água potável foram destruídos pelo novo lixão a serviço da pedreira na montanha. Agora os moradores dependem do abastecimento de água intermitentes por parte das autoridades.

Outras comunidades ao redor de Akhshtyr também se deram mal, mas pelo menos foram colocados de lado. Relutantes em criticar o governo em função do número excessivo de policiais que os cercam, os moradores próximos disseram que esperam que parte do dinheiro que está fluindo para a região chegue até eles.

Em Kazachy Brod, Kvasnikova (59) estava sacudindo o tapete de seu banheiro na frente de seu prédio. Ela disse que estava animada porque "o mundo inteiro está vindo para cá" para as Olimpíadas. O prédio onde mora foi pintado e "eles prometeram trazer tubulação de gás", afirmou.

Por outro lado, Alexei Ivanovich, 36 anos, que trabalha na maior atração turística de Kazachy Brod, pesca de trutas, disse que nada de bom resultou das Olimpíadas até agora, pelo menos para ele. "São mais óbvios os benefícios para o governo", disse o Ivanovich. Ele e a esposa moram com suas quatro filhas em um apartamento de apenas 14 metros quadrados.

"Seria bom se Putin olhasse para as famílias com muitos filhos", disse ele, referindo-se ao presidente da Rússia, Vladimir V. Putin.

Com os Jogos Olímpicos em andamento, a segurança foi reforçada e policiais estão pressentes em todos os lugares ao longo do novo corredor de transporte: em aterros, em trilhas de montanha, em pontos de ônibus e até atrás das árvores.

Há um caminho para chegar à aldeia: vindo de outra direção em uma velha estrada sinuosa sem saídas, por uma única entrada perto do aeroporto de Sochi. É extremamente inconveniente para os moradores, pois muitos não têm carro.

"Nos velhos tempos, podíamos atravessar o rio e pegar o ônibus lá no local de pesca de trutas", disse Sergei Shegevsky (32), um segurança de Akhshtyr.

"Por exemplo, eles nos prometeram que haveria uma saída para a estrada principal, mas agora estão falando que não vai ser possível", disse Shegevsky.

Depois que o novo lixão contaminou a água dos moradores, as autoridades instalaram uma bomba de água ̶ operada à mão que "parecia tirada do século 19", disse Jane Buchanan, a diretora adjunta da Human Rights Watch na Europa e Ásia Central. A bomba funcionou naquele dia e parou de funcionar no outro.

"É bem por aí. Quando as Olimpíadas foram programadas para acontecerem em Sochi, o governo e Putin prometeram que nenhum mal seria feito a ninguém. As pessoas, essa aldeia, já viviam em condições precárias, e os Jogos Olímpicos só pioraram tudo."

INTERNET: Uma aldeia esquecida

Imagens de uma cidade russa excluída das melhorias em Sochi: nytimes.com Busca Akhshtyr

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