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Um tema sombrio em roupagem delicada: foi o que reuniu a dupla improvável composta pela voz suave de Norah Jones e a força do pop-punk de Billie Joe Armstrong, vocalista do Green Day. Eles decidiram regravar, imaginem só, um álbum inteiro de 1958, "Songs Our Daddy Taught Us", dos Everly Brothers.

O original disputa o título de disco mais mórbido da fase inicial do rock ‘n’ roll. Lançado menos de um ano depois dos sucessos que Don e Phil fizeram em 1957 ‒ "Bye Bye Love" e "Wake Up Little Suzie" ‒ é recheado de canções deprimentes, algumas em estilo country, que falam de pais mortos ou agonizantes, uma criança moribunda, amantes traídos e alguns assassinatos.

"Fizemos uns trabalhos bem esquisitos na nossa época", admite Phil Everly, de 74 anos, por telefone da Califórnia, "mas esse foi o que se destacou não só pelo tema mas também pelo fato de as músicas serem parte da nossa herança".

O tributo de Armstrong e Jones, "Foreverly", trata as músicas com respeito e mantém o clima meio lúgubre das composições.

Os dois estiveram em Nova York recentemente, às vésperas do lançamento, e faziam um par no mínimo estranho: ele, com 41 anos, magérrimo, o cabelo preto no melhor estilo punkabilly; ela, com 34, de olhos escuros, rosto redondo, parecendo a garota mais comum do bairro.

E, apesar da suavidade, seu último álbum solo, "Little Broken Hearts", também inclui uma balada sobre assassinato, "Miriam"; já Armstrong é responsável pela melodia e narrativa das músicas do Green Day. Se esses dois artistas prestigiados tinham que se encontrar, um disco com músicas dos Everly Brothers é um bom começo.

"’Songs Our Daddy Taught Us’ é quase um exercício de meditação", Jones comenta. "As vozes são altas às vezes, quase infantis, num tom muito bonito, mas as letras são tão deprimentes! Sem dúvida há uma inocência inegável na gravação, mas, combinada com os temas pesados, deixa a coisa meio assustadora."

Armstrong conta que descobriu o disco dos Everly há alguns anos e teve a ideia de regravá-lo com uma voz feminina. Sua mulher, Adrienne, sugeriu Jones.

Como mora em Oakland, na Califórnia, ele viajou para Nova York para realizar o trabalho com a parceira, que é do Brooklyn. E não contaram nada para as respectivas gravadoras. Trabalharam durante nove dias, gravando com o baterista Dan Riser e o baixista Tim Luntz.

"Foreverly" é o tipo de projeto paralelo que os astros do pop fazem por capricho. Não altera, de forma alguma, o estilo dos dois, mas trabalha com um aspecto vital: o da espontaneidade. "Acho que de agora em diante só vou fazer meus álbuns assim, na surdina. É muito melhor", disse Armstrong. Phil Everly se disse lisonjeado com a regravação: "Eles fizeram um trabalho ótimo e combinam muito bem entre si". E afirma que "Foreverly" foi tão inesperado como "Songs Our Daddy Taught Us".

"Hoje em dia o pessoal prefere o esquema ‘não se mexe em time que está ganhando’. É só mais do mesmo. Eles têm o meu respeito por ousarem."

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