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A missão indiana com destino à Marte chama atenção por seu custo de 75 milhões de dólares. O satélite Mangalyaan sobre o foguete no Centro Espacial Satish Dhawan | Organização Indiana de Pesquisa Espacial/European Pressphoto Agency
A missão indiana com destino à Marte chama atenção por seu custo de 75 milhões de dólares. O satélite Mangalyaan sobre o foguete no Centro Espacial Satish Dhawan| Foto: Organização Indiana de Pesquisa Espacial/European Pressphoto Agency

Embora o recente lançamento de uma espaçonave feita pela Índia com destino a Marte seja por si só um feito impressionante, foi a abordagem econômica em relação ao tempo, ao dinheiro e aos materiais da missão de 75 milhões de dólares que mais chamou atenção.

Poucos dias depois que a Índia lançou o satélite Mangalyaan, a NASA enviou para Marte a missão Maven, que demorou cinco anos para ficar pronta e custou 671 milhões de dólares. O orçamento da missão indiana, em contraste, foi de apenas três quartos dos 100 milhões de dólares que Hollywood gastou no sucesso espacial, "Gravidade".

"A missão é um triunfo da Engenharia indiana de baixo custo", afirmou Roddam Narasimha, professor do Centro Jawaharlal Nehru de Pesquisa Científica Avançada, em Bangalore. "Primando por fazer tanto com tão pouco, estamos entre os centros com maior eficiência de custo no mundo para uma variedade de tecnologias avançadas".

O satélite indiano enviado à Marte pesa 1.360 quilos e carrega cinco instrumentos que irão medir o volume de gás metano, um indicador de vida no planeta. O Maven pesa quase o dobro, mas carrega oito instrumentos potentes para investigar o que deu errado com o clima marciano, que já pode ter sido propício à vida.

"O nosso, em comparação, é uma abordagem barata e inovadora para uma missão muito complexa", afirmou K. Radhakrishnan, diretor da Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ou ISRO, na sigla em inglês). "Ainda assim, ela é uma missão tecnicamente bem concebida e projetada".

Países mais ricos podem ter pouco incentivo para buscar avanços científicos sem gastar muito dinheiro, mas esse não é o caso de um país populoso e sem muitos recursos. Portanto, o "jugaad", ou a capacidade de construir coisas de forma criativa e barata, se tornou uma das maiores forças do país. A Índia construiu o carro mais barato do mundo (2.500 dólares), o tablete mais barato do mundo (49 dólares), e até mesmo ideias mais extravagantes, como moendas movidas por mobiletes.

Na Índia, até mesmo um setor prioritário, como a pesquisa espacial, recebe apenas 0,34 por cento do orçamento nacional anual. O orçamento espacial de um bilhão de dólares equivale a apenas 5,5 por cento do orçamento da NASA.

A ISRO aprendeu a transformar a eficácia de custo em seu mantra diário. Sua capacidade de fazer lançamentos baratos e eficientes se tornou popular após o lançamento de pequenos satélites franceses, alemães e britânicos. Embora a agência espacial tenha construído sistemas terrestres do zero, a missão lunar Chandrayaan, de 2008, custou um décimo das missões lunares de outros países, de acordo com o diretor da missão Mylswamy Annadurai.

"Os cientistas espaciais da Índia custam muito pouco", afirmou Ajey Lele, autor de "Mission Mars: India’s Quest for the Red Planet" (Missão Marte: a busca indiana pelo Planeta Vermelho, em tradução livre).

A média de idade da equipe de 2.500 pessoas envolvidas na missão Marte é de 27 anos.

Os indianos também possuem um calendário de desenvolvimento curto que contribui intensamente para os baixos custos da missão, afirmou Andrew Coates, cientista planetário do University College London e líder da expedição europeia ExoMars, planejada para 2018. Os engenheiros precisaram limitar seus esforços a 18 meses (outros países demoraram seis anos ou mais para construir seus veículos espaciais). Ele deveria ser lançado em novembro de 2013, ou então esperar mais 26 meses até que a geometria do Sol, de Marte e da Terra se alinhassem perfeitamente para o lançamento.

O orçamento não permite muitos ciclos de trabalho. Ao invés de construir diversos modelos, conforme é a norma das agências americana e europeia, os cientistas constroem o modelo final desde o princípio.

Testes caros no solo também são limitados. "A vantagem indiana de ter começado mais tarde é que podemos aprender com as falhas de missões anteriores", afirmou Lele.

A ISRO cortou custos por meio de outra técnica comum aos negócios indianos: renovar velhas tecnologias.

O veículo de lançamento foi desenvolvido pela primeira vez nos anos 1970 e foi aumentado diversas vezes até se tornar o sólido sistema de propulsão utilizado atualmente no Veículo Geosincrônico de Lançamento de Satélites, ou GSLV, na sigla em inglês. O motor do veículo foi feito no início dos anos 1970. A mesma abordagem, chamada pelos cientistas indianos de modularidade, se estende à construção de espaçonaves e sistemas de comunicação. A economia de custos também vem do uso de sistemas similares ao longo de dezenas de projetos concomitantes.

"Os blocos de construção são sempre os mesmos para que a gente não tenha que fazê-los sob medida para cada missão. Além disso, temos substitutos a postos, caso o sistema falhe", afirmou Annadurai.

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