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Esse vilarejo espanhol tem um cemitério novo, embora ninguém tenha sido enterrado ali ainda. Criado antes do início da crise financeira, foi mais um plano de investimento que não deu certo.

Apesar disso, em agosto, acabou ganhando vida quando dois artistas locais "enfeitaram" parte de seus muros e nichos com pôsteres falsos anunciando a improvável inauguração de um Museu Guggenheim em Genalguacil, que tem 522 habitantes.

Os criadores, Juan Francisco Casas e Eugenio Merino Troncoso, estão entre os treze artistas que participaram de um festival de duas semanas cujo objetivo, segundo os organizadores, é transformar Genalguacil em um "vilarejo museu", garantindo que todas as obras produzidas nesse período permaneçam em exibição.

Muitas iniciativas semelhantes oferecem residência, subsidiando um local para os artistas enquanto exibem seu trabalho, mas a de Genalguacil é uma tentativa pouco comum de apoiar artistas espanhóis e, ao mesmo tempo, provocar o ressurgimento econômico de uma aldeia antiga.

Genalguacil é um dos chamados "pueblos blancos", a série de vilazinhas de casinhas caiadas empilhada sobre os despenhadeiros perto do litoral sul da Espanha. Sua igreja foi construída sobre as ruínas de uma mesquita e as ruas ainda seguem o desenho originalmente criado pelos mouros que conquistaram a região.

Entretanto, só esses encantos não são suficientes para atrair o nível de turismo e comércio necessários para segurar o movimento.

A princípio, o festival bienal de artes daqui, de certa forma, foi uma vítima das ambições exageradas. Em 2004, antes que a bolha imobiliária do país estourasse, o mesmo prefeito que fez o cemitério indesejado construiu um museu de três andares para abrigar parte das obras produzidas no evento.

"Dez anos atrás todo mundo na Espanha queria um museu, sem nem pensar no que ia pôr lá dentro; hoje, duvido que alguém construa um desse tamanho aqui", conta Fernando Bayona, que recentemente assumiu o posto de coordenador do festival. Porém, o prefeito atual, Miguel Ángel Herrera, disse que a aposta nas artes contemporâneas para atrair turistas já está dando bons resultados. Durante as duas semanas do festival, cerca de oito mil pessoas passaram por Genalguacil, do total de vinte mil esperados este ano. O orçamento era de 110 mil euros, ou US$144.400. Cada um dos participantes recebeu US$1.300, além de alimentação e acomodação gratuitas. Alguns artistas disseram que participar do festival de Genalguacil não era só a chance de conhecer outros colegas, mas os moradores também. A pintora Maria Bueno pediu aos moradores que preparassem suas receitas favoritas e permissão de transformá-las em um mural na parede de suas casas e/ou restaurantes.

"Acho mesmo que essa é uma oportunidade única para o vilarejo respirar arte de uma forma que nunca foi tentada antes", afirma ela.

Francisco Izquierdo, produtor aposentado, confessa não ligar para os murais e estátuas que agora enfeitam a cidadezinha, embora aprecie o foco na estética e o fato de que "toda essa arte ajuda a manter o lugar mais limpo". Mas mesmo que as artes e o turismo gerem caixa e criem empregos, ele diz que é preciso fazer muito mais. "O setor agrícola é muito pequeno; por isso, os jovens continuarão a ir embora e os mais velhos, a ficar para trás".

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