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Membros do corpo docente do Wellesley College tiveram uma reação vigorosa quando se espalhou a notícia de que a Universidade de Pequim poderia demitir o professor Xia Yeliang, um crítico do governo chinês. O professor Xia, um economista, tinha visitado Wellesley durante o verão após a faculdade estabelecer uma parceria com a Universidade de Pequim.

Em setembro, 130 membros do corpo docente do Wellesley College enviaram uma carta aberta ao presidente da Universidade de Pequim, alertando que se o professor Xia fosse demitido por suas opiniões políticas, a parceria seria revista. No mês seguinte, o professor Xia foi demitido. A Universidade de Pequim afirmou que o motivo tinham sido as suas práticas de ensino, e não a sua posição política, mas muitos dos professores do Wellesley College duvidaram da alegação. Ainda assim, depois de muito debate, a faculdade decidiu em votação pela manutenção da parceria.

As faculdades e universidades americanas têm trabalhando para expandir as suas marcas no exterior, construindo campi, centros de estudos e parcerias, muitas vezes em países com governos autocráticos. Mas enquanto professores no exterior enfrentam consequências por conta de suas declarações, a maioria das universidades tem feito pouco mais do que falar.

"A globalização suscita todos os tipos de problemas que não apareciam quando se tratava apenas de adolescentes fazendo intercâmbio na França", disse Susan Reverby, uma das professoras do Wellesley College que apoiam o professor Xia. "O que significa permitir que o nosso nome seja usado? Quais são os limites disso? Será que uma parceria com outra universidade faz com que nos tornemos colegas dos membros do seu corpo docente, obrigando-nos a apoiá-los? Será que vamos esperar por outro massacre na Praça da Paz Celestial?" Muitas universidades americanas têm parcerias com a Universidade de Pequim, mas poucas reagiram à demissão do professor Xia.

"Estabelecemos uma parceria com a Universidade de Pequim cientes de que os padrões americanos de liberdade acadêmica são o produto de 100 anos de evolução", disse Richard Saller, decano da Faculdade de Ciências Humanas e Ciências da Universidade de Stanford, que estabeleceu um centro de sete milhões de dólares na Universidade de Pequim no ano passado. "Nós acreditamos que firmar um compromisso é uma estratégia melhor do que assumir uma posição de superioridade moral que impossibilita que trabalhemos conjuntamente com algumas dessas universidades."

Recentemente, Zhang Xuezhong, que leciona na Universidade de Ciência Política e Direito da China Oriental, em Xangai, perdeu o emprego depois de se recusar a pedir desculpas por escrever que o Partido Comunista era hostil ao Estado de Direito. A universidade em questão tem muitas parcerias firmadas, incluindo um programa de intercâmbio com a escola de Direito da Universidade Willamette, em Oregon, e um programa executivo oferecido com a Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin.

Com tantas universidades buscando uma colocação na China – a Universidade de Nova York abriu um campus em Xangai neste ano e a Universidade Duke, na Carolina do Norte, vai abrir um em Kunshan no ano que vem – a preocupação com o histórico de censura da China é cada vez maior. No início deste ano, o governo chinês proibiu a discussão de sete temas em sala de aula, incluindo os direitos humanos e os últimos erros do Partido Comunista Chinês.

Problemas semelhantes têm surgido em outros lugares. No ano passado, logo que a Universidade Yale estava começando uma parceria de sua faculdade de artes liberais com a Universidade Nacional de Cingapura, o corpo docente de Yale, apesar das objeções do diretor da universidade, aprovou uma resolução expressando preocupação com "a história recente de falta de respeito por direitos civis e direitos políticos em Cingapura".

Em novembro, Frederick M. Lawrence, diretor da Universidade Brandeis, em Massachusetts, suspendeu uma parceria com a Universidade Al Quds, uma universidade palestina localizada em Jerusalém, depois de manifestantes fazerem uma saudação nazista no campus, e de o diretor da Al Quds, a quem se pediu que condenasse a manifestação, respondeu com uma carta que Lawrence considerou ter aumentado ainda mais a tensão. A Universidade de Syracuse, no Estado de Nova York, seguiu o exemplo. Mas o Bard College, também no Estado de Nova York, manteve a parceria.

Muitas faculdades americanas argumentam que a sua presença no exterior ajuda a disseminar os valores liberais. "Defender o estabelecimento de compromissos está no DNA do nosso instituto, pois esse processo é o que traz mudanças", disse Allan Goodman, presidente do Instituto de Educação Internacional. Mas Kenneth Roth, diretor-executivo da Human Rights Watch, advertiu que as universidades devem estar preparadas para revogar parcerias que violam princípios básicos. "Se um país como a China quer legitimar uma versão compacta da educação liberal, atraindo prestigiadas universidades ocidentais, há uma possibilidade real de essas universidades comprometerem os valores sobre os quais elas foram construídas, já que estão tão ansiosas para entrar na China", disse ele.

O Professor Xia está sendo convidado a passar dois anos como professor visitante no Projeto Liberdade, um programa do Wellesley College. No entanto, dado que as universidades chinesas têm muitos representantes do Partido Comunista em sua administração, Thomas Cushman, que lidera o projeto, ainda está preocupado. "Nós não estamos pedindo que eles adotem a Carta dos Direitos dos Estados Unidos", disse ele. "Estamos questionando o que significa para o Wellesley College trabalhar com um regime que infunde o medo nas pessoas."

Em 2011, após a prisão de três dissidentes nos Emirados Árabes Unidos, a Human Rights Watch intimou a Universidade de Nova York, que possui um campus em Abu Dhabi, a protestar: "Será que a Universidade de Nova York pretende propagar a magnificência de estudar em Abu Dhabi enquanto o governo persegue um acadêmico por suas crenças políticas?", questionou Sarah Leah Whitson, diretora do grupo no Oriente Médio, na ocasião. A universidade respondeu que não se envolvia em questão alheias à sua missão acadêmica.

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