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 | Underwood & Underwood/A Biblioteca do Congresso
| Foto: Underwood & Underwood/A Biblioteca do Congresso
  • A obra de Norman Rockwell é popular e está atraindo o interesse dos colecionadores. O seu filho, Peter Rockwell, com a pintura ‘’O Novato’’

"O maior pecado de Rockwell como artista é simples: a sua arte é de um cliché interminável". Em uma crítica feita no jornal Washington Post sobre uma exposição das pinturas de Norman Rockwell em 2010, no Instituto Smithsonian, Blake Gopnik se juntou à longa fila de críticos importantes atacando Rockwell, o artista e ilustrador americano que pintava a vida em meados do século 20 nos EUA, e que morreu em 1978.

"Rockwell foi demonizado por uma geração de críticos que não apenas o via como um inimigo da arte moderna, como também de toda a arte", disse Deborah Solomon, cuja biografia do artista, "American Mirror" ("Espelho Americano", em tradução livre, ainda sem título no Brasil), foi lançada no ano passado. "Ele era tido como um trivial ilustrador de calendários cuja obra não tinha ressonância com as elevadas ambições da arte", ela prosseguiu, ou, como mencionou em seu livro, ele era visto como "piegas e retrógado". A rejeição da crítica "obviamente foi uma fonte de muita dor em toda a sua vida", disse Solomon, colaboradora do The New York Times.

No entanto, Rockwell atualmente está passando por uma grande reavaliação crítica e financeira. No final de maio, as principais casas de leilão montaram suas vendas da arte americana em torno de duas pinturas do artista: "Após a Festa de Formatura", na casa de leilão Sotheby’s, e "O Novato", na casa de leilão Christie’s. A pintura "Após a Festa de Formatura" foi vendida por 9,1 milhões de dólares; "O Novato", por 22,5 milhões de dólares. Em dezembro, o quadro "Agradecendo pelo Alimento" bateu o recorde de Rockwell no leilão, vendido na Sotheby’s por 46 milhões de dólares.

Rockwell ainda não está no nível de Francis Bacon (maior preço no leilão: 142,4 milhões de dólares), Picasso (104,5 milhões de dólares) ou Andy Warhol (105,4 milhões de dólares) – todos que se tornaram queridinhos da crítica – mas já está pronto para se juntar a um grupo seleto de artistas cuja obra é reconhecida instantaneamente não apenas por sua qualidade artística como também pelos milhões necessários para sua aquisição.

A explicação para um aumento repentino e, para muitos, improvável no preço das pinturas de Rockwell data de pelo menos 2001, quando o Museu Guggenheim em Nova York fez uma grande retrospectiva de sua obra. Lançada logo após os ataques terroristas às Torres Gêmeas, a exposição pode ter emocionado o público americano, carente da confirmação dos valores tradicionais retratados na visão de Rockwell. "Essa foi a grande virada", segundo Solomon. "Ele finalmente começou a receber o reconhecimento do mundo da arte".

Alguns críticos ficaram irritados com a exposição, mas ela bateu o recorde de público.

Um ano depois, "Rosie, a Rebitadeira", uma das imagens mais famosas de Rockwell, foi vendida por quase cinco milhões de dólares na Sotheby’s, quebrando um recorde do artista. A pintura foi revendida por um preço não divulgado para o Museu de Arte Americana Crystal Bridges em Bentonville, no Arkansas, o museu fundado pela herdeira do Walmart, Alice Walton.

Rockwell também recebeu um selo de aprovação de Hollywood. Dois dos mais conhecidos diretores americanos, George Lucas e Steven Spielberg estavam comprando seus trabalhos. Rockwell "é um grande contador de histórias, e utilizava mecanismos cinematográficos", George Lucas disse em entrevista no Museu Smithsonian, que montou a exibição da coleção dele e de Spielberg, "Contando Histórias", em 2010. "Rockwell ‘escolhia o elenco’ para uma pintura", Lucas declarou. "Não era apenas um grupo aleatório de personagens".

Laurie Norton Moffatt, diretor do Museu Norman Rockwell em Stockbridge, em Massachusetts, observou: "O que estamos vendo no mercado é que os colecionadores, de certa forma, estão acompanhando a incrível qualidade, o significado duradouro e a mensagem das pinturas de Rockwell".

Warhol foi o primeiro entre os artistas proeminentes a reconhecer o mérito de Rockwell. Ele esteve numa exposição em 1968 e comprou dois trabalhos. As obras de Rockwell – e seus recentes preços de venda – criaram comparações com a obra de Warhol. "Norman Rockwell está para a pintura americana como Warhol está para a arte contemporânea", declarou Elizabeth Goldberg da Sotheby’s. "Você entra em uma sala, e sabe quem é o artista. Os dois são artistas apaixonados. Eles produziram imagens às quais as pessoas se conectam instantemente".

O Museu de Belas Artes em Boston exibiu "O Novato" durante seis dias este ano e atraiu um grande público. "Pessoas de todas as idades e gêneros reagiram à pintura", disse Elizabeth Beaman da Christie’s. "Existe um caráter universal na obra. Por causa das exposições e da atitude dos colecionadores nos leilões, ele finalmente foi aceito no círculo da elite dos artistas americanos". Rockwell vendeu uma de suas imagens mais famosas, "Reunião na Cidade", um estudo a óleo da "Liberdade de Expressão", para o Metropolitan Museum of Art em 1952 por 100 dólares, e, segundo o jornal The Saturday Evening Post, soltou um "grito de alegria" quando soube que o museu havia comprado o quadro. Moffatt dirige o Museu Rockwell há 28 anos, e em grande parte desse tempo, "estávamos em conflito com o resto do mundo da arte", ela afirmou, completando, "Acho que estamos em uma nova era agora. Os ideais de sua obra são atemporais, e eles mexem com o público".

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