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O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani (à dir.), e seu primeiro-vice-presidente, Abdul Rashid Dostum | Farshad Usyan/Agence France-Presse — Getty Images
O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani (à dir.), e seu primeiro-vice-presidente, Abdul Rashid Dostum| Foto: Farshad Usyan/Agence France-Presse — Getty Images

A reunião do Conselho de Segurança do Afeganistão já estava quase no final quando o primeiro vice-presidente (há mais de um vice no país), o ex-líder paramilitar Abdul Rashid Dostum, começou a chorar.

Foi um encerramento perturbador para o encontro. Dostum, que já foi acusado pelo assassinato em massa de centenas de prisioneiros do Taleban, estava inconformado. Ele dizia estar farto de ser ignorado pelos presentes, inclusive pelo presidente Ashraf Ghani e por seu assessor de segurança nacional, Hanif Atmar.

“Ninguém retorna minhas ligações!”, disparou durante o encontro, algumas semanas atrás, segundo duas testemunhas.

“Só quero ajudar o país. Fizeram de mim um general, mas ninguém nem sequer pede os meus conselhos.”

A cena ilustrou a peculiar transformação de Dostum, antes visto como “o senhor da guerra por excelência”, nas palavras de diplomatas americanos, em um dos homens mais poderosos do governo afegão —ao menos no papel.

Desde que assumiu o cargo, em setembro, ele se viu marginalizado e passou a se mostrar cada vez mais irritado com o que considera ser um descaso pelas décadas de experiência que possui em combates e como líder da minoria étnica uzbeque, segundo autoridades afegãs e ocidentais.

Ativistas de direitos humanos acusam Dostum de crimes de guerra, e as lembranças dos abusos cometidos por alguns dos seus combatentes ainda estão vivas.

Mas ele tem a lealdade de uzbeques do Afeganistão, que compõem cerca de 10% da população e formam um contingente eleitoral do qual Ghani precisava desesperadamente.

Foi uma barganha incômoda, mas a maioria das autoridades achava que Dostum ficaria satisfeito. Aparentemente, foi um erro de cálculo.

Em dezembro, Dostum repentinamente anunciou planos para criar uma força de elite com 20 mil soldados para eliminar militantes de uma das áreas mais letais do país.

Ele mais tarde recuou dessa promessa, mas só depois de causar preocupação entre funcionários públicos e civis afegãos temerosos de que o ex-líder paramilitar possa constituir outro grupo armado.

Na qualidade de primeiro vice-presidente, ele é o próximo na fila para assumir o comando do país se algo acontecer com Ghani. Milícias associadas ao seu partido continuam ativas no norte do Afeganistão.

Em resposta por escrito enviada por assessores, Dostum contestou os rumores de que teria tentado criar uma nova milícia em dezembro.

Sobre a questão de ser marginalizado pelo círculo íntimo de Ghani, seu gabinete disse: “O sr. Dostum é a segunda autoridade legal e autorizada da República Islâmica do Afeganistão”.

Para se manter ocupado, Dostum lançou uma campanha intitulada Boa Forma para Todos, que estimula os afegãos a fazerem exercícios e a levarem uma vida mais saudável.

Ele também tem um papel ativo na promoção do desenvolvimento de atletas olímpicos afegãos.

Ainda assim, deixou claro que não considera serem essas as únicas contribuições que tem a fazer.

Em uma reunião citada por duas pessoas, Dostum avisou que “não é o Ronaldo”. “Vocês não podem simplesmente atirar uma bola de futebol em mim.”

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