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Alguns dos desenhos originais, à esquerda, ao lado das provas finais do novo livro de Theodor Seuss Geisel, que morreu em 1991 | Richard Perry/The New York Times
Alguns dos desenhos originais, à esquerda, ao lado das provas finais do novo livro de Theodor Seuss Geisel, que morreu em 1991| Foto: Richard Perry/The New York Times

Depois que Theodor Seuss Geisel —mais conhecido como Dr. Seuss— morreu, em 1991, sua viúva, Audrey Geisel, e uma assistente limparam seu escritório. A maioria das ilustrações e dos esboços do artista foi doada à Universidade da Califórnia em San Diego, e outros papéis ficaram guardados em uma caixa.

Foi só em outubro de 2013 que elas examinaram o conteúdo da caixa com cuidado. Encontraram ali cartões ilustrados com o alfabeto, alguns desenhos intitulados “o museu do cavalo” e uma pasta com a inscrição “nobres fracassos”, contendo desenhos divertidos que Dr. Seuss não havia conseguido encaixar em nenhuma de suas histórias.

No entanto, ao lado desses desenhos órfãos, havia um projeto mais completo chamado “The Pet Shop”, com 16 ilustrações em preto e branco, acompanhadas por textos que ele havia datilografado, recortado e colado aos desenhos. As páginas estavam manchadas e amareladas, mas a história estava completa, com as inconfundíveis e divertidas rimas do Dr. Seuss.

“Não sabíamos que tínhamos um tesouro como esse”, disse a assistente, Claudia Prescott, que começou a trabalhar para Geisel em 1972 e agora ajuda Audrey Geisel, 93, a dirigir a Dr. Seuss Enterprises.

Por meio de uma meticulosa reconstrução do processo criativo de Geisel, essas páginas abandonadas resultaram em um novo livro chamado “What Pet Should I Get?”. A publicação da obra, em 28 de julho pela Random House, representa um epílogo inesperado para a obra considerável do Dr. Seuss.

Geisel escreveu e ilustrou 44 livros infantis, entre os quais clássicos como “O Gatola da Cartola” e “Green Eggs and Ham” (não traduzido para o português), que ajudaram gerações de crianças a aprender a ler. Os livros dele venderam mais de 650 milhões de cópias, mundialmente, e as vendas continuam a crescer a cada ano.

O último livro original do Dr. Seuss, “Ah, os Lugares Aonde Você Irá!”, foi lançado em 1990 nos EUA, e ninguém na Random House antecipava que um novo trabalho surgisse 24 anos depois da morte de Geisel. A única pessoa que restava na empresa que já havia ainda trabalhado com ele era Cathy Goldsmith, que cuidou do design gráfico e da direção de arte de seus últimos seis livros.

Uma semana depois de ser informada sobre o manuscrito, ela foi a San Diego. Goldsmith, hoje vice-presidente e diretora editorial associada da Random House/Golden Books Young Readers, ficou ansiosa com a proposta de transformar o achado em livro. Ninguém sabia por que Geisel o havia abandonado.

Ainda que ele tenha publicado o seu primeiro e elogiado livro infantil em 1937, foi só 20 anos mais tarde, com “O Gatola da Cartola”, que Dr. Seuss se tornou uma grife e uma figura amada e influente. Os anos que se seguiram foram prolíficos, e Geisel escreveu muitas outras obras, como “Como Grinch Roubou o Natal”.

Foi nesse período, entre o final dos anos 1950 ou começo dos 1960, que Goldsmith e os arquivistas de Seuss acreditam que ele tenha escrito a história sobre a loja de animais. As crianças do livro são virtualmente idênticas às de “One Fish Two Fish Red Fish Blue Fish”.

Geisel, perfeccionista, só enviava trabalhos à editora quando os considerava completos. O manuscrito estava a diversos passos da conclusão. Ele tipicamente datilografava o texto de cada página e depois o colava aos desenhos. Quando revisava o texto, ele datilografava novas versões e as colava sobre as antigas. No entanto, na obra encontrada, o papel estava solto, e por isso não estava claro qual seria o texto final no manuscrito revisado. Algumas das imagens tinham cinco diferentes esquemas de rima.

O tema de “What Pet Should I Get?” é o da escolha. Como o menino e a menina da história —que vacilam entre comprar um cachorro, um gato, um passarinho ou um peixe— Goldsmith tinha muitas escolhas a fazer. Quando não estava claro que versão do texto deveria ser usada, Goldsmith e dois colegas colavam as páginas à parede e liam os versos em voz alta, para ver quais deles soavam melhor.

Goldsmith estudou os livros publicados por Geisel nas décadas de 1950 e 1960, quando ele preferia cores primárias e fortes. Então, escolheu tons amarelos e azuis parecidos para os fundos.

A história termina em tom incerto, com as crianças saindo da loja carregando uma cesta. Dentro dela, vê-se um par de olhos, mas o animal permanece oculto. Goldsmith preferiu não adivinhar que bicho eles compraram, limitando-se a dizer que “provavelmente não é um peixe”.

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