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Combatentes pró-Ucrânia que combatem os rebeldes no leste do país recebem comida e suprimentos de um centro voluntário de Dnepropetrovsk. “Quero ajudar nossos homens como puder. Eles estão passando maus bocados”, diz a voluntária Tatyana Sirko, abaixo. À esquerda, membros do batalhão de voluntários em Pervomaisk | Brendan Hoffman /The New York Times
Combatentes pró-Ucrânia que combatem os rebeldes no leste do país recebem comida e suprimentos de um centro voluntário de Dnepropetrovsk. “Quero ajudar nossos homens como puder. Eles estão passando maus bocados”, diz a voluntária Tatyana Sirko, abaixo. À esquerda, membros do batalhão de voluntários em Pervomaisk| Foto: Brendan Hoffman /The New York Times

Em uma cozinha apertada que cheirava a repolho e beterraba, um pequeno exército de mulheres trabalhava noite adentro, preparando o que seria a refeição dos soldados ucranianos no campo.

Cada saquinho é acompanhado de um bilhetinho escrito à mão, dizendo, "Bom apetite! Feito com carinho".

"Quem é que vai fazer borscht no Ministério da Defesa?", questiona a obstetra Tatyana V. Sirko, referindo-se à sopa tradicional do país, voluntária no mutirão da cozinha. "Quero ajudar nossos homens como puder. Eles estão passando maus bocados."

Em agosto, com os rebeldes enfraquecidos por uma investida concentrada do governo, choveram tropas russas e equipamentos militares na fronteira para lançar um contra-ataque devastador, impedindo os ucranianos de avançarem. Uma trégua frágil, estabelecida no início de setembro, evitou a guerra declarada.

Grande parte dos reforços para as tropas ucranianas agora vem de voluntários, na maioria de mulheres, que trabalham 24 horas por dia em um centro de logística para mandar uma variedade de produtos – vidros de picles caseiro, roupas íntimas feitas manualmente e equipamentos militares disponíveis comercialmente, como miras de visão noturna para espingardas.

Em uma sala, um homem empilhava coletes à prova de bala, costurados à mão – peculiaridade da guerra na Ucrânia, um país com rica tradição em trabalhos manuais, mas com um Exército desesperadamente carente de recursos. Outras pessoas separavam sacos de dormir, fogões diminutos e meias de lã.

Na cidade de Zhovti Vody, um grupo de mecânicos civis conserta caminhões e tanques já velhos que quebram com frequência.

"Os nossos homens estão defendendo o país; tudo depende deles", diz Natasha L. Naumenko, agente de viagens que organizou a operação.

"Eles precisam manter o espírito fortalecido. Nossa intenção é mandar-lhes o calor humano de casa, fazê-los sentir que não estão lá em vão. É por isso que as mulheres, as mães, as filhas e irmãs estão preparando borscht", completa ela.

O movimento é mais pronunciado em Dnepropetrovsk, cidade industrial a 240 km do fronte, mas vem crescendo. No oeste, em Lviv, os moradores deixam doações em uma caixa em formate de tanque. Mais cozinhas foram abertas recentemente em Kiev e Odessa.

Os voluntários também estão combatendo: já são entre 15-20 mil reunidos em trinta batalhões ativos no leste.

"Sem a gente, a situação estaria muito pior. Somos advogados, empresários e donas de casa", conta Vitaly G. Feshenko, ex-vendedor de móveis e atual vice-comandante do batalhão Dnipro-1. Servindo em uma de suas unidades, por exemplo, está um ex-contabilista de uma loja de celulares que, sob o apelido "Contador", é temido ao longo da frente.

Essa dedicação reflete o péssimo estado em que se encontra o Exército, precariamente equipado por um governo falido e recebendo uma ajuda mínima do Ocidente. O presidente Petro O. Poroshenko anunciou que o Exército era capaz de defender o território, só que as Forças Armadas da Ucrânia pós-soviética há anos patinam entre a corrupção e a má administração.

"O que está acontecendo com o nosso governo? O inverno está aí e os soldados não têm roupas quentes. Eles vão ter que ficar no meio da neve, dormir nas trincheiras e são as crianças que estão mandando meias para eles!", reclama Anastasia S. Kuznetsova, assistente social de 22 anos de Dnepropetrovsk que ajuda a coordenar as doações Em um reduto, em uma manhã de novembro, os soldados se reuniam ao redor de uma fogueira, comendo torrada com geleia caseira.

"É o Exército do povo. Tem os que lutam e os que fornecem equipamento; o Estado não é intermediário, nem um elo nessa corrente", comenta Mikola I. Fakas. Em relação aos que doaram a geleia, ele se diz muito agradecido. "São pessoas que amam a gente, confiam em nós e contam conosco".

Aos voluntários é permitido o uso de armas poderosas como fuzis de calibre .50 e RPGs antitanque, mas não o acesso aos veículos blindados de fábrica; por isso, no lado ucraniano, o que mais de vê pelas ruas são engenhocas monstruosas como as vans que recebem placas de aço de proteção.

No centro de coleta de Natasha, há pouco tempo, apareceu uma mulher oferecendo duas bolsas de náilon camuflado que tinha feito em casa, perfeitas para armazenar a munição dos fuzis.

Um grupo de mulheres faz cuecas boxer, cada uma em um tecido floral diferente. E à mão, uma notinha em cada uma: "Juntos pela vitória!".

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