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Manifestantes do Ocupe Wall Street entram em conflito com a polícia depois de terem sido expulsos do Zuccotti Park; pelo menos 200 pessoas foram presas | Lucas Jackson/Reuters
Manifestantes do Ocupe Wall Street entram em conflito com a polícia depois de terem sido expulsos do Zuccotti Park; pelo menos 200 pessoas foram presas| Foto: Lucas Jackson/Reuters

Decisão

Juiz proíbe acampar no Zuccotti Park

EFE

Um juiz de Nova York decidiu ontem proibir os integrantes do movimento Ocupe Wall Street (OWS) de voltarem a acampar no Zuccotti Park, de onde foram removidos na madrugada de quarta-feira pela polícia sob ordem do prefeito Michael Bloomberg.

A sentença do juiz Michael Stallman, da Corte Suprema estadual de Nova York, apoia a ordem de despejo da praça, onde os membros do movimento estavam instalados desde o dia 17 de setembro para protestar contra os excessos do sistema financeiro nos EUA e no mundo.

A ordem do juiz não os impede de voltar ao Zuccotti, rebatizado de "Praça da Liberdade", mas os manifestantes não poderão instalar barracas de novo, tal como a empresa proprietária do espaço, Brookfield Properties, havia solicitado às autoridades.

Outro rumo

Pouco depois da expulsão do Zuccotti Park, os manifestantes fizeram a ocupação de uma nova praça, propriedade da paróquia da igreja Trinity. A praça situa-se na confluência da Rua Canal com a Sexta Avenida, muito perto da entrada do túnel Holland, que une Nova York a Nova Jersey.

Eles ocuparam o local durante uma hora, quando a polícia chegou e prendeu alguns dos manifestantes. Não foi divulgado o número total de presos.

  • Trabalhadores limpam o parque no distrito financeiro de Nova York
  • Depois de ter sido limpo, o Zuccotti foi fechado e guardado pela polícia

Centenas de policiais cercaram ontem o Zuccotti Park, no distrito financeiro de Nova York, para impedir que centenas de manifestantes do movimento Ocupe Wall Street (OWS) voltem a se instalar no local, de onde foram expulsos na madrugada, em ação realizada pela polícia à 1h20 (4h20 no Brasil) sob ordens do prefeito Michael Bloomberg.

Até o fechamento desta edição, depois que os manifestantes foram expulsos do parque, não houve confronto eles e a polícia. Porém, durante a desocupação, pelo menos 200 manifestantes acabaram presos.

Agora, sem barracas, eles se limitam a entoar o coro do movimento "nós somos os 99%", erguer faixas de protestos e gritar que não irão desistir e que o governo não os silenciará.

Alguns cartazes sugerem que Bloomberg renuncie. O prefeito defendeu ontem sua decisão, alegando que as condições de higiene e segurança no local se tornaram "intoleráveis". Após a retirada dos manifestantes, a praça foi varrida e lavada por funcionários da prefeitura.

A desocupação e prisão de ativistas do OWS ocorreram em outras cidades dos Estados Unidos nos últimos dias. Os ativistas tomaram a praça em Nova York no dia 17 de setembro.

Ainda ontem, um homem conseguiu furar o cerco e entrar na praça Zuccotti Park. O ativista conseguiu correr e chegar ao meio da praça até ser detido por um grupo de dez policiais. Os manifestantes que rodeiam o local começaram a aplaudir e gritar em apoio ao ativista, que foi algemado sem oferecer resistência. Ele foi levado do local pelos policiais.

Durante todo o tempo, os manifestantes gritaram que não vão desistir do protesto e nem abandonar o local. Mas, certamente o fato de não terem mais suas barracas e um lugar onde possam sentar e se proteger da chuva e do frio atrapalha o movimento. A ocupação da praça completaria dois meses amanhã.

Expulsão

Na madrugada de terça-feira, policiais entregaram notificações do proprietário do parque, o Escritório Imobiliário Brook­field, e da prefeitura di­­zen­­do que o local deveria ser limpo. Os manifestantes disseram que retornariam em algumas horas, mas sem sacos de dormir, lonas ou tendas.

Minutos mais tarde, o gabinete do prefeito Bloomberg postou no Twitter que os manifestantes deveriam "sair temporariamente".

Paul Browne, um porta-voz do Departamento de Polícia de Nova York, disse que muitas pessoas começaram a desocupar o parque assim que receberam o aviso; outros foram presos por desordem. Ele afirmou que o parque não estava intensamente ocupado.

Os manifestantes anunciaram segunda-feira em seu site na internet que planejavam "desligar Wall Street" com um protesto amanhã para comemorar os dois meses do início do acampamento, o que tem estimulado ações similares em outras partes do país.

Ainda na segunda, um pequeno grupo de manifestantes, incluindo moradores locais e comerciantes, fez um protesto em City Hall. Nas últimas semanas, eles têm reivindicado ao prefeito a limpeza do parque por causa do impacto negativo na vizinhança e nos pequenos negócios.

* * * * *

Opinião

La commedia è finita!

Anne Applebaum

Todas as carreiras políticas terminam em fracasso, disse uma vez certo político britânico. Mesmo assim, políticos raramente fracassam de modo tão espetacular quanto Silvio Berlusconi, que finalmente renunciou na noite de sábado, para a comemoração de seus conterrâneos ("la commedia è finita!" escreveu um amigo italiano) e para a aprovação de bolsas de valores do mundo inteiro.

Não que ele esteja ciente de seu fracasso. Pelo contrário, Berlusconi se agarrou ao poder – de modo petulante e furioso – até o mais amargo final. Ele finalmente deixou o gabinete porque "oito traidores", em suas próprias palavras, fracassaram em lhe dar apoio durante votação da semana passada, e ele perdeu a maioria parlamentar. Se isso não houvesse acontecido, ele teria continuado, muito embora o sistema financeiro italiano tenha entrado em colapso, criando um inferno ao seu redor.

Eu deixo para os outros montarem o quebra-cabeça do que acontecerá ao sistema financeiro italiano. Já é ruim o bastante que a Grécia esteja prestes a desmoronar. Mas a Itália? A quarta maior economia da Europa? A oitava maior economia do mundo?

A história do longo reinado de Berlusconi no cume da política italiana traz tristes lições para os que se pretendem revolucionários no mundo todo.

Pois, como muitos podem não se lembrar agora, a carreira política de Berlusconi foi um resultado direto de uma revolução muito dramática, uma que tive a sorte de poder testemunhar ainda em estágio inicial. Em 1993, eu fui a Milão para entrevistar Luca Magni, um empresário italiano dono de uma companhia de limpeza. Após anos pagando subornos para assegurar seus contratos, Magni decidiu alguns meses antes que, para ele, bastava. "Só queria cuidar dos ne­­gó­­cios sem me preocupar", ele me contou. Então, ele fez uma gravação de um oficial do governo que lhe pediu dinheiro, passou a gravação a um promotor público chamado Antonio Di Pietro – e assim pôs em movimento uma cadeia de investigações que levou à prisão de centenas de políticos.

Cada prisão foi levando a outra, e, em tempo, toda a hierarquia política da Itália entrou em colapso. Bettino Craxi, líder do partido socialista, fugiu para a Tunísia e nunca mais voltou. Giulio Andreotti, o líder dos democratas cristãos e ex-primeiro ministro, foi investigado por conexões com a máfia e nunca retornou à vida pública. Seus partidos públicos desapareceram.

Neste vácuo, entrou Silvio Berlusconi. Embora seja difícil de acreditar agora, na época ele também parecia ser revolucionário. Ele falava em libertar os italianos das correntes da burocracia, corrupção e altos impostos. Ele trouxe um grupo inteiramente novo de jovens à política, todos trajando suéteres de caxemira. Ele batizou seu partido político de Forza Italia – por causa do slogan do time de futebol – e, por um breve momento, tudo parecia divertido. Por um momento ainda mais breve, a política se tornou chique, mesmo entre as classes médias do norte da Itália, que sempre se mantiveram distantes. Em Milão, me contaram em 1993, era até considerado rude perguntar a um homem em que partido ele votava, muito pior do que lhe perguntar quanto dinheiro ganhava. Era o suposto papel de Berlusconi mudar tudo isso.

Mas ele foi incapaz de mudar a si mesmo, que dirá seu país. Algumas pessoas se tornam mais maduras ao obterem poder político. Algumas se tornam mais arrogantes. Ele caiu nesta última categoria. Em vez de anunciar uma nova era, ele fez com que a revolução parasse. Em vez de facilitar a vida para os Luca Magnis da Itália, ele evitou reformas impopulares, acumulou ainda mais déficits estatais, passou boa parte de seu tempo com seus amigos bilionários (entre eles, o primeiro ministro da Rússia, Vladimir Putin) e organizou "bunga-bunga", seja lá o que isso signifique exatamente, em suas residências palaciais.

Ele permaneceu popular o bastante para se reeleger, em parte porque a oposição era muito fraca. Agora, os mercados de obrigações o alcançaram e os promotores não estarão muito atrás.

O que me leva à triste lição de sua carreira: Ocupe Wall Street! Rebeldes líbios! Indignados espanhóis! Tomem cuidado com o que se deseja: a eliminação da classe política de um país não irá necessariamente resultar num estado melhor administrado ou numa sociedade mais feliz. Se não tiver cuidado, pode-se acabar ganhando um Berlusconi.

*Anne Applebaum é diretora de estudos políticos no Instituto Legatum. Este artigo foi apresentado originalmente na revista Slate.

Tradução de Adriano Scandolara.

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