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| Foto: TOBIAS SCHWARZ/AFP

Em seu último dia na capital grega, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez um discurso em defesa dos princípios democráticos dentro e fora do seu país, reforçando o seu apelo contra os discursos ultranacionalistas de exclusão de minorias. Enquanto tenta acalmar líderes internacionais sobre o futuro das políticas externas americanas no governo do seu futuro sucessor, Donald Trump, o chefe da Casa Branca ressaltou o papel da boa diplomacia para evitar conflitos internacionais e combater o terrorismo e o fundamentalismo. E ainda afirmou que a democracia do seu país é maior do que uma só pessoa – apesar das preocupações provocadas pela retórica agressiva e isolacionista de Trump em sua campanha presidencial.

O presidente destacou as conquistas do seu governo para as relações diplomáticas do país, incluindo a normalização dos laços com Cuba e o acordo nuclear com o Irã. E disse que o seu ideal de garantir uma transição de poder pacífica ao seu futuro sucessor é um princípio fundamental da democracia.

“O próximo presidente americano e eu não poderíamos ser mais diferentes. Nós temos pontos de vista muito diferentes. Mas a nossa democracia é maior que uma só pessoa. Por isso, temos a tradição de dar as boas vindas aos novos membros e apoiar a transição de poder mais suave possível”, declarou.

Além disso, Obama disse que a manutenção das democracias é essencial porque estes governos têm mais chances de evitar guerras e solucionar conflitos entre nações – além de ser menor a probabilidade de travarem confrontos entre si. O presidente também voltou a reforçar seu compromisso com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – a que chamou de “a melhor aliança global” – e garantiu que o próximo governo americano continuará a investir e apoiar a organização, apesar de algumas das sugestões contrárias de Trump durante a campanha eleitoral. Em sua última viagem internacional como presidente, Obama tenta expressar à comunidade internacional que o próximo chefe da Casa Branca continuará as parcerias e obrigações dos EUA com a organização e com outros países.

“Trabalhamos com todos os países e muitos não são democracias. Alguns são democracias no sentido de que têm eleições, mas não são democracias no sentido de que não permitem participação. Mas a nossa trajetória como país é de apoio aos esforços de quem acredita nas ideias de auto governo. Não se trata apenas de ser verdadeiro sobre nossos valores, mas acredito que seja conveniente para os EUA apoiar democracias”, disse.

Em seu discurso, Obama ainda voltou a ressaltar o forte papel da Grécia na crise de refugiados, um país que se vê sobrecarregado pelo grande fluxo de pessoas que chegam para serem abrigadas em acampamentos improvisados. E ressaltou que a democracia no país é essencial para incentivar a compaixão humanitária às pessoas em necessidade. Na véspera, ele pediu que a Europa se mantenha forte e seja capaz de se unir para lidar com a questão migratória como um desafio global.

“Nossa democracia mostra que somos mais fortes que terroristas, fundamentalistas e absolutistas: que não podem tolerar ideias diferentes das suas, tentam mudar o modo de vida das pessoas pela violência e nos faria trair nossos valores. As democracias são mais fortes do que o Estado Islâmico porque são inclusivas. Somos capazes de receber pessoas e democracias em necessidade em nosso país. E não há lugar onde isso seja mais evidente do que na Grécia. A generosidade das pessoas com os refugiados inspira o mundo, o que não significa que vocês deveriam ser deixados sozinhos. Mas o fato de vocês serem uma democracia abre o coração de vocês”, declarou Obama, sob aplausos.

”Onda de medo e frustração”

Na terça-feira (15), Obama afirmou que a eleição de Trump para sucedê-lo na chefia da Casa Branca é reflexo de uma onda de medo e frustração no país. Obama realizou uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, em que pediu união dentro e fora do seu país para lidar com desafios globais e evitar divisões de caráter nacionalista ou étnico.

Na entrevista, o presidente foi questionado sobre eventuais semelhanças entre os resultados das eleições americanas e do referendo que decidiu, no Reino Unido, pela saída britânica da União Europeia (UE) em junho. Em resposta, disse que, embora tenham sido votações em formatos diferentes, o Brexit e a eleição de Trump mostram que há uma onda de medo e preocupação no mundo globalizado, em que muitas pessoas parecem estar menos seguras das suas identidades nacionais e do “seu lugar no mundo”. E argumentou que isso favorece o surgimento de movimentos populistas em diversos países, incluindo na Europa, e o avanço de candidatos não convencionais, como Bernie Sanders e Donald Trump nos EUA.

“Estas tendências sempre estiveram ali e é trabalho dos líderes tentar abordar as reais e legítimas preocupações das pessoas. Reconheci que havia raiva e frustração na população americana? Claro que sim”, disse Obama, em tom mais duro do que vem adotando desde as eleições nos EUA. “O tempo dirá agora se o Brexit ou o resultado das eleições vão realmente satisfazer as pessoas que estão com medo, revoltadas ou preocupadas. Acho que será um teste interessante. (...) Porque eu acredito que estas pessoas que votaram pelo presidente eleito estão melhores hoje do que quando cheguei ao governo. Vamos ver se estes fatos vão afetar os cálculos das pessoas na próxima eleição.”

Além disso, o discurso de Obama foi marcado por um apelo contra as divisões dentro e fora do seu país. E argumentou que é necessário lutar contra o surgimento de tendências nacionalistas ou de exclusão das minorias – citando, como exemplo negativo, o século XX, a que chamou de um “banho de sangue” por conta das divisões, sobretudo, na Europa.

“Nos EUA, sabemos o que acontece quando começamos a nos dividir pela raça, cor ou etnia. É perigoso, não apenas para as minoriais, mas porque não percebemos nosso potencial como país e impedimos que negros, latinos, asiáticos, gays ou mulheres participem do projeto de construir um modelo de vida americano.”

Obama também declarou que o mundo precisa de uma Europa forte, que se una para lidar com a crise global de refugiados que atinge duramente a Grécia.

“Uma Europa forte, próspera e unida não é apenas positiva para os povos europeus, mas também para o mundo e para os EUA”, declarou Obama a Pavlopoulos, que o recebeu no palácio presidencial. “A Grécia passou por momentos muito desafiadores e dramáticos nos últimos meses. Estamos contentes que progressos estejam sendo feitos, mas reconhecemos que há significativos desafios pela frente. E nós pretendemos ficar lado a lado com o povo grego ao longo deste processo.”

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