• Carregando...
Painel no centro de Caracas, Venezuela, anuncia a criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) | Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Painel no centro de Caracas, Venezuela, anuncia a criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac)| Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Declaração

Cúpula vai defender democracia e liberdade de expressão

A declaração de nascimento da futura Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) inclui um parágrafo que deveria deixar desconfortáveis alguns dos membros do novo fórum: a defesa formal da democracia e da liberdade de expressão na região. Defendido pelo Brasil, o texto deixa claro que os dois temas são valores essenciais e devem ser respeitados.

Apesar das visões no mínimo diversas sobre democracia, países como Cuba e Venezuela assinarão o texto, negociado entre todas as partes durante um ano. A intenção dos defensores da declaração é afastar visões "divergentes" sobre democracia e evitar casos como a tentativa de golpe em Honduras, em 2009, rejeitada por todos os países da região. No entanto, o texto também deveria servir como uma espécie de alerta a países que, nos últimos anos, têm adotado formas muito particulares de democracia. Em uma cúpula que reúne Cuba – onde opositores ainda são presos e a imprensa é controlada – e a Venezuela – onde coisas semelhantes acontecem, mesmo que disfarçadas em processos jurídicos – o recado cai em ouvidos bastante seletivos. Ainda assim, a declaração não encontrou resistência. A avaliação de diplomatas ouvidos pela reportagem é a de que cada país faz a interpretação que quiser do texto e, com isso, ninguém se sente atingido diretamente.

Em toda a América Latina não faltam problemas, apesar de quase todos os países – a exceção é Cuba – terem eleições presidenciais abertas e regulares.

Agência Estado

A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) será oficializada hoje em Caracas, durante encontro com líderes da região. O novo bloco marca o fim de um lento processo de afirmação regional e das articulações para a criação de um espaço político sem Washington.

A criação da Celac, herdeira dos fóruns Cúpula da América Latina e do Caribe e Grupo do Rio, foi proposta em fevereiro de 2010 no México pelos líderes da região, lançando uma clara mensagem de que chegou a hora de contar com um órgão político genuinamente latino-americano e caribenho, que se afasta da histórica influência dos EUA.

Em outras palavras, mais de 60 anos depois do lançamento da Organização de Estados Ameri­­canos (OEA), a região concordou em criar uma série de alternativas instituicionais, incluindo Cuba e excluindo Estados Unidos e Canadá.

"A criação da Celac é uma de­­monstração da confiança da região em si mesma e do crescente desejo de independência em relação aos Estados Unidos", afirmou Cynthia Arnson, diretora do programa latino-americano do Wilson Center.

Desde a Colômbia até o Equa­­dor, que representam extremos nas relações com Washing­­ton, os presidentes latino-americanos apóiam a criação da Celac e a maioria confirmou sua participação na reunião, um mês de­­pois de a tribuna da Cúpula Ibero­­americana em Assunção – que inclui as antigas potências colonizadoras, Espanha e Por­­tugal –, ter ficado quase vazia de líderes.

"Esta é a década da América Latina, porque temos para oferecer tudo o que o mundo está buscando e quanto mais nos integramos, mais preparados estaremos para enfrentar esse furacão que está atingindo a economia mundial", disse on­­tem o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.

Os especialistas, apesar de admitirem que a existência do novo órgão é suscetível a rivalizar com a Organização dos Estados Americanos (OEA), descartam uma ameaça imediata para o órgão com sede em Washington. Os dois órgãos "operam de alguma forma na mesma região, com uma natureza política e uma vocação de resolver os problemas regionais", diz o brasileiro Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Conselho Empresarial da América Latina.

"Mas a OEA sempre teve algo a oferecer, com um mandato, um sistema de cooperação e recursos financeiros. Por enquanto, a Celac não tem nada disso", acrescenta Pfeifer, também professor de Relações Internacionais.

Para Milos Alcalay, ex-embaixador venezuelano na ONU, "o sucesso da cúpula dependerá de se a Celac for apresentada por seus membros como um órgão além da OEA, e que evitem declarações excludentes por parte de países hostis a esse órgão com sede em Washington".

A reunião "deve levar uma mensagem de unidade latino-americana e integração regional sem pretender substituir a já existente, algo que não ficaria bem entre os aliados de Washing­­ton, como Colômbia, Brasil ou Chile", afirma Alcalay.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]