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O Irã vai às urnas escolher o novo presidente no próximo mês de junho, mas especialistas acreditam que as diretrizes sobre o programa nuclear independem da eleição. Um dos principais adversários para a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad é o ex-presidente Mohammad Khatami, considerado um reformador – ao contrário do atual presidente.

"Khatami pode ganhar as eleições. Mas é bom lembrar que ele estava no governo até 2005. O programa nuclear iraniano certamente foi incentivado durante sua administração. Em 2005, houve uma suspensão do enriquecimento de urânio no Irã. Ahmadinejad foi eleito em junho, mas não assumiu até agosto. Em julho, porém, quando Khatami ainda era presidente, os iranianos voltaram a enriquecer urânio. Então é preciso perguntar: importa quem será o novo presidente?", questiona Michael Adler, do Woodrow Wilson Center.

Para ele, o que pode mudar com Khatami é uma amenização da retórica iraniana. "Podemos ter menos comentários incendiários, como ‘Israel deve ser varrido do mapa’ (frase dita por Ahmadinejad)", afirma ele. "Mas, sobre o programa nuclear, não importa quem seja o presidente. É uma questão de enorme prioridade para o Irã", garante.

Lawrence Haas, do grupo Committee on the Present Danger, nos EUA, tem opinião semelhante. "Não acho que vai ter algum impacto. O programa iraniano está em processo há mais de 20 anos, a maior parte do tempo escondido do resto do mundo. Nesse tempo, o regime iraniano passou por inúmeras mudanças de lideranças, mas o programa sempre progrediu", afirma Haas.

Do lado norte-americano, o homem apontado por Obama para negociar com o Irã é Denis Ross, que, segundo Adler, possui um histórico pró-Israel. "Acaba de ser lançado um relatório do Washington Institute, onde Ross trabalhava antes de entrar para a administração Obama, que deixa claro que os EUA devem impedir o Irã de avançar na questão nuclear. Mas onde Denis está sentado hoje, eu diria que seu passado não importa muito. Agora ele trabalha para o governo e o presidente. De alguma maneira, deve fazer o que eles pedem", afirma Adler.

Uma das principais missões de Ross será tentar abrir a sociedade iraniana para o resto do mundo. Para um país que foi manipulado em boa parte do século passado pelos EUA e governos europeus, não será uma tarefa fácil, mas também não será impossível. Atualmente, 70% da população do país nasceu depois da Revolução Islâmica de 1979. A juventude é engajada na internet e consome a cultura americana. Obama e seu time terão que aproveitar as oportunidades – algo que outros presidentes americanos não souberam fazer.

O próprio George W. Bush, antes dos ataques de 11 de setembro, era um defensor do fim das sanções contra o Irã. Em agosto de 2001, Condoleezza Rice fez lobby, sem sucesso, no Congresso para derrubar o Ato de Sanções contra o Irã e a Líbia (ILSA), lei que deu direito aos EUA de punir empresas que investissem mais de US$ 20 milhões no setor de energia de qualquer um dos dois países.

Outra medida importante, sugere Adler, é que o governo americano acabe com a restrição para embaixadores de manterem contato com seus homólogos iranianos. "Por exemplo, acabar com a restrição para o embaixador americano em Viena de falar com seu colega iraniano na cidade. Essa seria uma boa medida. Ambos conhecem a fundo as questões técnicas do programa nuclear (Viena é sede da Agência Internacional de Energia Atômica). Quando esse tipo de conversa tem início, pode-se desencadear outras negociações". (BB)

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