• Carregando...

Jerusalém (AE) – Em sua autobiografia "Guerreiro", Ariel Sharon conta como teve a idéia de criar um partido. Logo depois que entrou para a reserva, no início de 1973, como o maior comandante de campo de Israel, Sharon dirigia o trator em sua fazenda no Neguev e pensava no que faria da vida a partir dali. Para estimulá-lo, tinha de ser algo que fizesse diferença, assim como tinha sido sua brilhante carreira militar até ali, de herói nas guerras de 1948 e 1956 e grande comandante da divisão de tanques da guerra de 1967.

Sharon começou então a pensar sobre o cenário político de Israel, engessado pelo domínio do Partido Trabalhista antes mesmo da criação do Estado. A oposição fragmentária de uma dezena de partidos pequenos de oposição, incluindo o Herut, do proeminente Menachem Begin, que se digladiavam entre si, mantinha aquele domínio incontestável.

Ele pensou então que era hora de criar um novo partido, a partir de uma coalizão daqueles partidos pequenos, para fazer frente aos trabalhistas. Inspirado num hábito da época entre generais de alto perfil quando davam baixa, Sharon resolveu chamar uma entrevista coletiva. "Isso lançaria a idéia para o público de uma forma mais dramática", recorda no livro, publicado em 1989. "Se atraísse alguma atenção da mídia ou apoio popular, eu ficaria então numa posição forte para abordar Begin e os outros." Ele alugou um salão no Edifício da Imprensa de Bet Sokolov, em Tel-Aviv, e lançou a sua proposta. Depois de alguns meses nascia o Likud, que passaria a dividir o poder com os trabalhistas.

Retirada

No ano passado, num rompante que lembrou suas manobras surpreendentes no Deserto do Sinai, Sharon resolveu retirar os soldados e os 8.500 colonos judeus da Faixa de Gaza, passando como uma divisão de tanques sobre as resistências de seu Likud. Isso foi em agosto em agosto e setembro. Em novembro, tolhido não tanto pelas resistências internas de seu partido, como pela intuição de que havia um espaço, no centro do espectro político, a ser ocupado, Sharon criou o Kadima, que traz consigo um significado, afinal, militar: Adiante.

Na virada do ano as pesquisas já conferiam ao novo Kadima – que atraiu um ícone do trabalhismo, Shimon Peres – a liderança nas eleições de 28 de março. Depois de romper, três décadas antes, com o unipartidarismo de fato, Sharon instaurava agora o tripartidarismo, assumindo o cobiçado centro, o que nenhum partido até hoje conseguira em Israel.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]