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Curitiba – Imagine que seu filho chegue em casa um certo dia e diga: "pai, mãe, eu quero ser taxonomista". Acredite, a esse menino não faltará trabalho. O esforço para descrever a variedade de animais na Terra está longe de terminar. A projeção mais modesta indica que existem hoje 3 milhões de espécies vivas. Outras dizem que há 30 milhões. Seja qual for, é muito mais do já que foi catalogado em quase 250 anos, desde que o sueco Carlos Lineu, considerado o pai da taxonomia, inventou uma forma de classificar e descrever animais. Segundo dados da União Mundial para a Conservação (IUNC, na sigla em inglês), "apenas" 1,2 milhão das criaturas vivas foram devidamente nomeadas. Desde 2000, em média, são 17 mil novas espécies descritas a cada ano.

Os invertebrados são sem dúvida os mais desconhecidos. A velocidade com que eles são descobertos, portanto, é grande. O contrário ocorre com o grupo dos vertebrados. Hoje, achar uma nova espécie de mamífero ou de ave é privilégio de poucos – e sempre são essas as descobertas que causam maior repercussão na comunidade científica. Entre 2000 e 2006, apenas 37 novas aves foram identificas em todo o mundo. Oito delas no Brasil.

O Paraná fez duas importantes identificações na década de 1990. O bicudinho-do-brejo (Stymphalornis acutirostris), em 1995, foi o primeiro novo gênero de ave encontrado no Brasil depois de cem anos. Em 1997, foi a vez do macuquinho-da-várzea (Scytalopus iraiensis). Os dois foram encontrados no litoral do estado.

Estimativa feita pela ONG Conservação Internacional (CI) mostra que o Brasil possui uma grande diversidade de espécies. Abriga, por exemplo, 29% de todos os primatas do planeta. "O Brasil, além da extensão territorial muito grande, tem uma variação de ambientes que favoreceu o maior número de espécies", diz o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodney Cavichioli.

No início desse ano, duas novas espécies de pequenos lagartos, um da divisa entre Minas Gerais e Bahia e outro do interior do Piauí, foram apresentadas pela CI. A descoberta de ambos é uma prova de que a biodiversidade do cerrado brasileiro é muito maior do que se imaginava. "Nenhuma dessas descobertas vai melhorar a qualidade de vida no planeta do dia para a noite, mas elas fazem parte de uma pesquisa científica básica para entender a natureza", afirma o analista de biodiversidade da Conservação Internacional, Adriano Paglia. Entender como esses dois reptéis vivem nesse bioma brasileiro, aliás, é um dos desafios dos pesquisadores. Os parentes mais próximos dos dois lagartos vivem a milhares de quilômetros daqui: nos Andes.

Os fatores decisivos para o surgimento de uma nova espécie ainda são motivo de discussão entre biólogos e cientistas. Uma pequena variação no ambiente pode resultar na formação de uma nova espécie. Normalmente, por causa de algum fenômeno da natureza, há uma separação geográfica de um grupo, que acaba se subdividindo. "A evolução é um processo contínuo e o tempo de evolução de um grupo para outro é variável dependendo das condições do ambiente. A especiação (formação de novas espécies) é totalmente diferente, por exemplo, para um elefante e para um inseto, que tem duas ou três gerações em um ano", afirma Cavichioli.

O sistema criado para identificar e descrever novas espécies foi criado por Lineu em 1758. Se não há consenso sobre a grandeza da diversidade das espécies, isso em grande parte ocorre pela falta de um único órgão que centralize todas as descobertas. Cada nova descrição é direcionada para uma diferente publicação, e todas ficam espalhadas uma da outra. No ano passado, o Museu de História Natural do Reino Unido lançou o Zoobank, que se propõe a acabar com o problema e se tornar o banco de dados oficial de todos os animais.

Para o biólogo inglês Richard Dawkins, a taxonomia de DNA irá revolucionar essa ciência. "Uma sonda de excelente qualidade, ligada a um computador, será inserida numa árvore, num rato silvestre recém-apanhado ou num gafanhoto. Em poucos minutos, o computador examinará alguns segmentos do DNA, e então devolverá o nome da espécie e todos os outros detalhes que possam estar armazenados em seu bando de dados", escreveu Dawkins em seu livro O Capelão do Diabo.

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