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Manifestantes entram em choque com a polícia durante o protesto em Santiago, pedindo reformas no sistema educacional do Chile | Victor Ruiz Caballero/Reuters
Manifestantes entram em choque com a polícia durante o protesto em Santiago, pedindo reformas no sistema educacional do Chile| Foto: Victor Ruiz Caballero/Reuters

Propostas

Para jovens, soluções são superficiais

Enquanto não ocorre um acordo entre o governo e o movimento estudantil, as manifestações no Chile tomam mais repercussão internacional. Na última quinta-feira, Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes Universitários do Chile e outros dirigentes do movimento estudantil viajaram para a Europa a fim de se reunir com a Comissão de Direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), representantes da Unesco e de outras organizações.

O ministro da Educação do Chile, Felipe Bulnes, apresentou propostas como a redução de juros do crédito educativo de 6% para 2% ao ano e a ampliação do número de bolsas. Para os estudantes, essas soluções são superficiais. "A gratuidade tem sido descartada, já que, para Piñera, ‘a educação é um bem de consumo’", diz a estudante Katherine Torres, recordando as palavras ditas pelo presidente do Chile em julho.

O movimento social considera que a iniciativa do governo vai na mesma linha das políticas vigentes, o que significa respaldo ao lucro e às empresas privadas que mantêm instituições de ensino com recursos públicos", diz o jornalista da Universidade de Santiago Javier Armijo Allendes.

Ao mesmo tempo em que tenta conduzir negociações com os estudantes, o governo chileno se apressa para aprovar o projeto de lei "antitoma", que prevê sanções para quem fizer ocupações de locais públicos ou privados e participar de desordem pública.

Para o professor Cristian Gasmuri, a resolução do problema passa por "aumentar os impostos das empresas e diminuir ou manter o que as pessoas pagam. Isso favoreceria a classe média e, indiretamente, a educação". (JN)

  • Estudantes arremessam pedras contra policiais em série de manifestações que já dura cinco meses

Manifestações e ostensiva presença policial se tornaram rotina nas principais ruas do Chile nos últimos cinco meses. Bombas de gás lacrimogêneo, carros que lançam violentos jatos de água e presença dos carabineros (polícia nacional do país) são as respostas aos protestos dos estudantes universitários e secundaristas que reagem à realidade de um sistema educacional que é herança da ditadura militar, encerrada em 1990.

Entre as principais reivindicações dos manifestantes estão igualdade no acesso ao sistema educacional e mais investimentos na educação.

O diretor da Escola de So­­ciologia da Uni­­versidade Central do Chile, Luis Gajardo Ibañez, explica que até o anos 1980 a educação no país era pública, gratuita e financiada pelo Es­­tado. A partir das mudanças instaladas pelos militares, "a educação se coloca no mercado como qualquer outro produto. Con­­sequentemente, se você deseja qualidade, deve pagar [por ela]", diz o sociólogo.

Por outro lado, Ibañez considera que o Chile teve avanços significativos na educação nas últimas duas décadas. Ele destaca que em 1990 o país tinha 200 mil estudantes universitários, enquanto neste ano já beira 1 milhão. Além disso, 7 em cada 10 estudantes representam a primeira geração de suas famílias a entrar na universidade.

Cristian Gazmuri, especialista em Atualidade Nacional da Universidade Católica do Chile também aponta os resquícios da ditadura no sistema educacional.

"Durante a ditadura militar foram criadas cerca de 50 universidades privadas, a maioria com finalidade de lucro e qualidade muito ruim, que não são monitoradas pelo Ministério da Edu­­cação e são só um pouco mais baratas que as universidades tradicionais".

Mesmo nas universidade públicas do Chile é preciso pagar para estudar.

"Ainda que existam universidades públicas em nosso país, essas instituições funcionam por um sistema de autofinanciamento, que as obriga a cobrar taxas altas e as torna inacessíveis aos setores mais pobres, que são maioria na po­­pulação", diz Katherine Torres, estudante de Jornalismo na Universidade de Santiago do Chile. A instituição é pública, mas a jovem precisa desembolsar US$ 4 mil por ano em taxas.

Se esse sistema educacional é herança de uma ditadura que acabou há 20 anos, por que agora em 2011 as manifestações se tornaram tão intensas?

"Se a economia do país estivesse bem, alguns dos problemas sociais, como esse, teriam sido esquecidos até hoje", avalia Gazmuri.

"O presidente Piñera é possivelmente um bom chefe de empresa, mas não é um estadista e nem um bom político. Os estudantes e o Partido Comunista se aproveitam disso para atacá-lo e têm muita razão em fazer isso", acrescenta o professor.

O apoio da população chilena às manifestações é de 80%. Para Viviana Cuevas Salazar, estudan­­te de Licenciatura em Es­­tudos Internacionais na Uni­­versidade de Santiago, o movimento deixou de ser estudantil e diz respeito à sociedade inteira. "As pessoas têm sofrido com o endividamento para escolher qual entre quatro filhos vai estudar. Mi­­lha­­res de pais, mães, avós, avôs, ir­­mãos e trabalhadores têm saído às ruas para mostrar seu desgosto com esse sistema desigual".

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