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Imagem criada pela Nasa: fotos oficiais do encontro da sonda New Horizons com o corpo celeste Ultima Thule ainda não foram divulgadas | Reprodução /Nasa
Imagem criada pela Nasa: fotos oficiais do encontro da sonda New Horizons com o corpo celeste Ultima Thule ainda não foram divulgadas| Foto: Reprodução /Nasa

A festa de ano-novo mais nerd do sistema solar aconteceu a 6,5 bilhões de quilômetros da Terra, onde uma nave espacial solitária e intrépida se encontrou com o objeto espacial mais distante que os humanos já exploraram.

Não há champanhe nesta região escura e distante, onde um halo de mundos gelados chamado Cinturão de Kuiper circunda a borda mais externa do sistema solar. Não houve interpretações das tradicionais músicas de ano-novo (no espaço, ninguém pode ouvi-las). E ainda não há fotos do encontro.

Mas há uma espaçonave do tamanho de uma minivan chamada New Horizons. E há uma rocha primitiva e insignificante chamada “Ultima Thule”, uma relíquia rochosa das origens do sistema solar cujo nome significa “além das fronteiras do mundo conhecido”.

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No local de nascimento da New Horizons, o Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, Maryland, vários cientistas se reuniram para estudar – e celebrar – a ocasião. Enquanto seus conterrâneos contavam até meia-noite, eles estavam esperaram chegar 12h33 (3h33 desta terça-feira em Brasília), momento em que a espaçonave estaria mais próxima de seu alvo.

Nas imagens tiradas na noite de domingo (30), a “Ultima Thule” parecia pouco mais que uma mancha branca alongada contra a escuridão do espaço.

Mas um “oooh” espantado percorreu o auditório do APL quando o vice-cientista do projeto, John Spencer, projetou a imagem borrada em uma tela. Até então, ninguém jamais havia visto um objeto do Cinturão de Kuiper em um tamanho maior que um único pixel de luz.

“Este é apenas um primeiro vislumbre do que rapidamente vai melhorar a partir de agora”, disse Spencer. “Nós vamos aprender muito mais em breve e mal podemos esperar”.

Este é o maior e mais movimentado momento para a equipe da New Horizons desde que sua espaçonave sobrevoou Plutão há três anos, capturando fotos detalhadas do distante planeta anão.

Histórico

A espaçonave, lançada em 2006, é a primeira missão da Nasa projetada especificamente para explorar essa área desconhecida do sistema solar – uma região que o cientista Alan Stern chama de “uma maravilha científica”. No cinturão de Kuiper, onde as temperaturas são próximas a zero, os primitivos blocos de construção dos planetas persistem inalterados por 4,6 bilhões de anos.

Não só a “Ultima Thule” é o objeto planetário mais distante já explorado, como também é provavelmente o mais primitivo. Ao contrário dos planetas, que são transformados pelas forças geológicas em seus interiores, e asteroides, que são aquecidos pelo sol, pensa-se que “Ultima Thule” existiu em um “congelamento profundo” desde que se formou.

“É provavelmente a melhor cápsula do tempo que já tivemos para entender o nascimento do nosso sistema solar e os planetas nele”, disse Stern.

O encontro com “Ultima” está entre os feitos mais difíceis que a Nasa tentou. As grandes distâncias significam que os cientistas devem suportar um longo atraso de comunicação e os instrumentos devem operar com pouca luz. A “Ultima Thule” só foi descoberta há quatro anos e a sua órbita e arredores ainda não são bem conhecidos. E New Horizons é uma nave espacial de 13 anos de idade; seu gerador de energia produz apenas para o mínimo necessário, o que significa que os operadores devem priorizar cuidadosamente o uso do combustível restante.

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As velocidades e distâncias envolvidas são impressionantes. A “Ultima Thule” tem 1% do tamanho de Plutão. No momento de aproximação mais próxima, a espaçonave estava se movendo a uma velocidade impressionante de 52.000 km/h. Suas câmeras estavam programadas para girar e rastrear a Ultima Thule enquanto ele passava; se algo deu errado, tudo o que verá será um borrão em meio ao preto.

“É arriscado”, disse o administrador-associado da NASA para a ciência, Thomas Zurbuchen, na noite de segunda-feira. “Mas se isso funcionar, os cientistas terão visto algo inteiramente novo”.

A equipe da New Horizons planejaram durante muito tempo o breve encontro. Se tudo deu certo, os detectores de partículas e poeiras investigaram o ambiente em volta da Ultima. As três câmeras da espaçonave estavam programadas para tirar fotos em cores e em preto e branco, em um esforço para mapear o pequeno mundo e determinar sua composição.

Spencer disse na segunda-feira que estava especialmente interessado nas fotos coloridas detalhadas, que poderiam iluminar um “mistério particular” sobre objetos do Cinturão de Kuiper, como a “Ultima Thule”, que nunca passaram por mudanças geológicas dramáticas. Embora estas rochas devam ser principalmente feitas de gelo, todas elas parecem avermelhadas quando vistas pelo Telescópio Espacial Hubble. Pode ser que os gelos contenham impurezas que mudam de cor quando atingidos por raios cósmicos, disse Spencer – uma possibilidade que ele espera verificar olhando para as crateras de material exposto mais recentemente.

A equipe da New Horizons também usou o momento do encontro para tentar um experimento científico de rádio sem precedentes. Seis horas antes do momento de aproximação, os pratos da Deep Space Network – que a NASA usa para se comunicar com espaçonaves distantes – lançaram um poderoso sinal de rádio na direção de Ultima Thule. O sinal foi programado para chegar à rocha ao mesmo tempo em que a New Horizons, permitindo que a espaçonave estude como essas ondas de rádio são refletidas em sua superfície. Quando os funcionários da APL começaram a preparar copos de plástico com vinho espumante na noite de segunda-feira, esses sinais estavam indo de encontro com a New Horizons e a Ultima Thule – uma mensagem de um ano antigo neste mundo, para o próximo ano em um novo.

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