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Berlim – Os 15 anos da reunificação da Alemanha não marcam somente simbolicamente o fim do regime comunista no leste do país. Pelo contrário: a derrubada do comunismo alemão ganhará em breve contornos literais, com a destruição do Palácio da República Democrática Alemã (a Alemanha Oriental era conhecida como RDA, por mais irônico que possa parecer). No lugar, uma parceria público-privada iniciará a reconstrução do Castelo de Berlim, da época do Império Germânico, incendiado durante a Segunda Guerra Mundial e depois derrubado por líderes socialistas.

O assunto foi amplamente discutido na comunidade berlinense – afinal, o edifício fica ao lado da catedral da cidade, por onde passam milhares de turistas todos os dias. Um plebiscito decidiu que o edifício comunista, com sua fachada marrom e seu desenho arquitetônico de gosto discutível, deveria ser destruído e dar lugar ao castelo berlinense, reconstruído ao custo estimado de 700 milhões de euros, dê olho na atração de turistas para a cidade.

Entretanto, mesmo depois de Berlim ter decidido pela derrubada o Palácio da República, a discussão não terminou. Afinal, o argumento de muita gente – especialmente de quem viveu na Berlim Oriental da época comunista – é que o edifício socialista também tem valor histórico, representando, aliás, um período mais recente e mais importante para a história do país do que o Império Germânico.

O projeto de financiamento do Castelo de Berlim, que vai tomar quase duas quadras da capital alemã e só ficará pronto em 2015, foi desenvolvido pela Comissão do Centro Histórico de Berlim, em associação com investidores públicos e privados. A estrutura inicial, que deve ser erguida a partir do ano que vem, vai ser financiada por meio de uma ajuda aprovada pelo Parlamento alemão. Depois, o objetivo dos responsáveis pela obra é arrecadar dinheiro por meio de um sistema de contribuições populares que podem ser transformadas em ações negociadas em Bolsa de Valores, a partir de 2006. Quem quiser ajudar a reerguer o castelo, pode contribuir com um mínimo de 50 euros (140 reais).

Durante a maior parte de 2005, a palavra Zweifel (dúvida, em alemão) ficou estampada em néon branco na fachada do Palácio da República. Após a comunidade berlinense chegar a seu veredicto, figuras ilustres se sentiram à vontade para dar opinião sobre a polêmica. A candidata democrata-crista à chancelaria alemã, Angela Merkel, que nasceu na Alemanha Oriental e hoje não mora muito longe da Catedral de Berlim, afirmou ser a favor da destruição do Palácio da República. "Estou feliz que o Castelo de Berlim será reerguido", afirmou ela.

Embora a decisão seja final e a implosão do Palácio da República esteja marcada para dezembro, os defensores do símbolo comunista ainda não desistiram: a Casa da Democracia e dos Direitos Humanos montou uma exposição chamada "O Palácio Vive", em que as decisões históricas tomadas no edifício são relembradas. Da mesma forma, os arredores do prédio estão cheios de pichações e cartazes afirmando que o Palácio da República é o verdadeiro "prédio do povo". Enquanto isso, as estruturas remanescentes do Castelo de Berlim já foram escavadas e podem ser vistas pelos turistas.

E como tudo em Berlim acaba em arte, o Palácio da República está se despedindo em grande estilo. Além de ter as portas abertas para visitantes pela primeira vez em anos – o tour custa 5 euros (R$ 14) –, o edifício comunista tem seu fim refletido por uma exposição que reúne 25 obras de arte contemporâneas sobre o tema morte. A exposição fica aberta até 22 de outubro. Depois, o Palácio da República fecha as portas, desaparecendo da paisagem de Berlim para sempre.

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