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Opinião

Dúvida continua

Rosendo Fraga

No dia 25 de junho vence o prazo para que sejam apresentadas as candidaturas à presidência. E com a aproximação da data a incerteza parece aumentar, ao invés de diminuir. O cenário mais provável segue sendo o da candidatura de Cristina Kirchner. Mas as próprias declarações dela, nos últimos dias, aumentam a dúvida sobre o que finalmente será decidido.

No caso de Cristina não se candidatar, o governador da província de Buenos Aires (distrito eleitoral mais importante, que detém 40% dos votos), Daniel Scioli, é quem tem mais possibilidade de ser o candidato oficialista [da situação]. Ainda que enfrente resistência do kirchenerismo – porque ele representa a ala moderada do peronismo –, ele é o candidato com o qual a situação ganharia de forma mais fácil.

Se as eleições fossem hoje, o candidato com mais votos seria Ricardo Alfonsin, mesmo assim ficaria muito atrás de Cristina. Ele ainda não ampliou suas alianças e, assim, dificilmente chegará a 30% dos votos. Mas cinco meses é muito tempo e as coisas na política sempre podem mudar.

Se a oposição ganhar, a grande pergunta é se ela conseguirá governar, sobretudo se for o candidato Ricardo Alfonsín. Desde que surgiu o peronismo, em 1945, nenhum dos quatro presidentes eleitos do partido de Alfonsín, a União Cívica Radical (UCR), terminou o mandato.

*Rosendo Fraga é diretor do Centro de Estudos Unión para la Nueva Mayoría (União para a Nova Maioria).

  • Conifra os candidatos da disputa presidencial

A frase "Este é o pior ano de minha vida" podia muito bem ser parte da letra de um dramático tango, mas foi dita pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no discurso que fez em rede nacional no fim do ano passado.

Desde a morte do marido, Néstor Kirchner, em 27 de outubro de 2010, ela só veste preto e diz que está fazendo um esforço físico imenso para continuar seu trabalho. Mesmo com pesquisas que indicam que ela teria até 50% dos votos nas próximas eleições, Cristina chegou a afirmar que não faz questão de se candidatar à presidência novamente.

"Não morro para voltar a ser presidente. Já dei tudo o que tinha para dar", declarou este mês sobre as eleições que devem ocorrer em 23 de outubro.

A fragilidade que demonstrou após a morte do marido teria ajudado a presidente a subir nas pesquisas. O consultor político Fabian Perechodnik, diretor da Poliarquia Consultores, de Buenos Aires, explica o efeito. "Há uma corrente de empatia com a figura de Cristina desde a morte repentina de Nestor. Isso fez sua imagem positiva crescer mais de vinte pontos."

A coordenadora do doutorado de Ciência Política da Universidade Nacional de Córdoba, Maria Susana Bonetto, aposta mais na presidente. "Embora a memória do marido sempre a favoreça, Cristina tem uma trajetória política própria. Isso permite a ela ter uma boa base de apoios políticos, independente de Nestor".

Para a professora, a chefe de estado argentina vai tentar a reeleição. "Não acho que ela tenha dúvidas sobre se candidatar, só não quer ser submetida a pressões de determinados setores do peronismo."

Os sindicalistas estão entre os que pressionam Cris­tina. Mesmo com a decla­ração de apoio do líder da Confe­dera­­ção Geral do Tra­­ba­­lho (CGT), Hugo Moyano, a presidente tem se mostrado contrariada com as greves por aumentos sa­­lariais, que também seriam uma maneira de reivindicar mais representatividade dos sindicatos entre os candidatos das próximas eleições.

Continuidade

Segundo Perechodnik, o único candidato do Partido Justicialista (PJ, peronista), do qual a presidente faz parte, que poderia substituir Cristina, é Daniel Scioli. "Ele está atrás da presidente nas pesquisas, mas teria condições de garantir o triunfo do PJ sem dificuldades", analisa.

Mas o consultor político avalia que as decisões do oficialismo (como também é chamado o PJ), indicam para a candidatura dela. "Todas as ações do partido são de encaminhamento do processo de reeleição", explica.

Na última quinta-feira, o conselho do PJ divulgou um documento em que dá "pleno respaldo" à candidatura de Cristina para um novo mandato. A reunião do partido foi liderada justamente por Daniel Scioli.

Nestor deixou a reeleição como uma herança

Entre comparações com Evita Perón e adjetivos não tão carinhosos, como "presidente-Barbie", Cristina Fernández de Kirchner conquistou o título na história argentina de primeira mulher a assumir o cargo de presidente do país por meio de eleições. Ela tomou posse em 2007, aos 54 anos, depois de ter sido deputada e senadora por diversas vezes.

Mesmo assim, os críticos di­­ziam que seu marido, Néstor Kirchner, estava nos bastidores dando continuidade ao mandato presidencial que ele teve entre 2003 e 2007.

Já havia projeções para as eleições deste ano com uma nova candidatura de Néstor, quando ele morreu repentinamente, após um infarto, em outubro do ano passado.

A morte de Néstor colocou Cristina na berlinda. Não bastasse ter de administrar o país sem as orientações do seu mentor, que a acompanhava desde o engajamento no Movimento Justicialista na universidade, ela tem que considerar a hipótese de ser presidente da Argentina mais uma vez.

A grande chance de Cristina se reeleger no primeiro turno parece não refletir a realidade do país. Desde que ela assumiu, a inflação só tem subido.

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