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Justo na hora em que poderíamos estar começando a acreditar que o levante egípcio está acabando, mais egípcios esperavam em longas filas ontem para chegar até a Praça Tahrir e lá clamar pelo fim do regime do presidente Hosni Mubarak. Um dos motivos que fez com que as filas ficassem tão grandes é a passagem obrigatória de todos pelo verdadeiro funil que é a barreira de verificação imposta pelo Exército. A passagem é cercada por arame farpado e conta com a presença permanente de um tanque de guerra norte-americano. Não dá para saber se o tanque está lá para proteger os protestantes ou intimidá-los. E esta pode ser a questão mais importante no Egito atualmente: de qual lado está o Exército?

Até agora o respeitável Exército do Egito está se mantendo neutro – protegendo tanto o palácio de Mubarak quanto os revolucionários na Praça Tahrir –, mas tal situação não pode perdurar.

O Exército pode ficar do lado de Mubarak, cuja única estratégia parece ser ganhar tempo e torcer para que os revoltosos se cansem e se dispersem. Por outro lado, o Exército também pode se dar conta de que o que está acontecendo na Praça Tahrir é uma onda do futuro. Se esta consciência for atingida e os militares perceberem que esta seria uma forma de garantir os privilégios estendidos das forças armadas, o Exército irá forçar Mubarak a sair do poder e assim poderá assumir o controle do país no papel de instituição garantidora de uma transição pacífica para a democracia – o que incluiria a formação de um gabinete de unidade nacional que formularia uma nova Constituição e, por fim, realizaria eleições assim que novos partidos fossem criados.

Mubarak quer que todos acreditem que o que está acontecendo é o mesmo que se passou no Irã em 1979, mas a situação não é a mesma. Este levante se mostra como pós-ideológico.

Os acontecimentos da Praça Tahrir "não têm nada a ver com direita ou esquerda. São jovens se rebelando contra um regime que estagnou todos os canais de ascensão social e econômica. Eles querem modelar seu próprio destino, e também querem justiça social", diz Dina Shehata, pesquisadora do Centro Al-Ahram para Estudos Políticos e Estratégicos, sobre o sistema em que poucas pessoas ficaram assustadoramente ricas, e todo o resto completamente estagnado. Qualquer grupo ideológico que tentar sequestrar a mente desses jovens hoje não terá sucesso.

Um dos melhores pontos de vista sobre o que acontece no Egito foi dado em 2009 em um livro chamado "Generation in Waiting", editado por Navtej Dhillon e Tarik Yousef, que examinava como os jovens estão envelhecendo em oito países árabes. A obra afirma que a grande tarefa que é desdobrar o mundo árabe hoje não está relacionada ao Islã político, mas sim a um "jogo de gerações" no qual mais de 100 milhões de jovens árabes fazem pressão contra a economia estagnada e estruturas políticas que tomaram todas as liberdades e não lhes deram nada além de um dos sistemas educacionais mais pobres de todo o mundo, altas taxas de desemprego e enormes disparidades de renda.

Este é o motivo pelo qual esta revolta se baseia, antes de tudo, no fato de o povo estar farto de ser deixado para trás. A boa notícia é que muitos egípcios têm consciência de sua situação atual, e não estão dispostos a perder mais tempo. A má notícia é saber que eles ainda deverão penar bastante para conseguir o que querem.

Tradução: Thiago Ferreira

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