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Os cientistas em geral não conseguem prever quais serão as descobertas dos próximos dez anos, mas prestam muita atenção às tendências em suas áreas de estudo. Por isso, eles são capazes de dar bons palpites sobre os avanços a serem obtidos no futuro próximo. Nesta página, 10 figuras de destaque em 10 disciplinas científicas – da Bio­­química à Matemática, da As­­tronomia às Ciências da Terra – fa­­zem prognósticos para 2011. Independentemente de se revelarem verdadeiras ou não, as previsões oferecem pistas sobre o que anima os cientistas neste exato momento.

Ecologia

"Teremos uma noção maior do tamanho da diversidade marinha."Stuart Pimm, professor de ecologia preservacionista da Duke University.

Em 2000, uma rede de 2,7 mil cientistas deu início ao Censo da Vida Marinha, a ten­­tativa mais ambiciosa de catalogar os seres oceânicos. Após dez anos e 30 mi­­lhões de observações, o projeto foi con­­cluído. Em 2011, é provável que os estudiosos divulguem as primeiras esti­­ma­­tivas sobre o número de espécies que existem nos mares. Além disso, de­­ve­­rão ser estabelecidas as hipóteses pa­­ra explicar por que certos locais abrigam tanta diversidade enquanto em outros há pouca variedade de ani­­mais e organismos. Caso a vida marinha seja baseada em espécies de pouco alcance, crescerão as preocupações sobre a extinção de seres aquáticos.

Desenvolvimento de jogos

"Serão apresentados games que abordam os direitos das mulheres, games sobre as mudanças climáticas e jogos sobre as inovações da medicina."Jane McGonigal, diretora de desenvolvimento de jogos do Instituto para o Futuro.

Pesquisadores da Universidade de Wa­­shing­­ton já criaram o Foldit, um jogo que permite aos usuários competir en­­tre si ao mesmo tempo em que ajudam os cientistas a de­­terminar com maior pre­­cisão o formato das proteínas. A maioria das pessoas gosta de jogos de guer­­ra e aventuras medievais, mas a doutora Jane McGonigal diz que em 2011 games como o Foldit – pouco con­­ven­­cionais, mas com impacto no mundo real – se tornarão mais po­­pu­­lares.

Biotecnologia

"No próximo ano, é bem provável que alguém consiga gerar células-tronco a partir de uma simples amostra de san­­gue."Rob Carlson, diretor da Biodesic e autor do livro Biology is Technology: The Promise, Peril, and New Business of Engineering Life.

Muitas pes­­qui­­sas já foram feitas para ten­­tar induzir cé­­lu­­las adultas a regredirem ao estágio das células-tronco. Em julho passado, George Da­­ley e seus colegas da Escola de Medicina de Harvard de­­ram um grande pas­­so nesses estudos: eles retiraram amostras de sangue de adultos saudáveis e reprogramaram as células geneticamente pa­­ra que retornassem ao seu estágio mais primitivo. Em 2011, a previsão é que essa técnica seja mesclada a um método anterior, por meio do qual as células eram misturadas a um coquetel de RNA (o modelo pa­­ra a construção das proteínas celulares). A partir dessa receita, Rob Carlson acredita que – voilá! – surgirão células-tronco de maneira barata, rápida e relativamente fácil.

Astronomia

"Em julho, a nave Dawn entrará na órbita de um grande asteroide, chamado Vesta. Diversas perguntas sobre a evolução desses astros serão respondidas."Heidi Hammel, pesquisadora sênior do Instituto de Estudos Espaciais dos EUA.

Os asteroides surgiram logo após o nascimento do sistema so­­lar, há 4,6 bilhões de anos. Alguns deles poderiam ter se tornado planetas completos não fosse a poderosa força gravitacional de Júpiter. Os astrônomos querem entender a formação dos asteroides de di­­mensões consideráveis. Vesta, por exemplo, tem 530 quilômetros de diâmetro. Além disso, especula-se que tenha desenvolvido um núcleo e até um campo magnético próprios.

Oceanografia

"Novos instrumentos científicos serão im­­plan­­tados no Oceano Índ­­ico. Esse oceano possui ver­­da­­deiros tentáculos que abra­­çam o mundo intei­­ro."Michael McPhaden, cientista sênior do Laboratório Ambiental Marinho do Pacífico.

Os oceanos cobrem 70% do planeta, mas formam um universo pouquíssimo explorado. Nesse contexto, o Oceano Índico guarda ainda mais mistérios. As correntes marítimas e a variação de temperatura desse oceano afeta as monções na Índia, bem como a precipitação do noroeste dos EUA e os furacões do Oceano Atlântico. As oscilações do Índico são tão poderosas que os ventos gerados por elas podem acelerar ou frear a rotação da Terra. Em outubro, um grupo internacional de cientistas irá implantar sensores em diferentes partes do oceano. Essa operação, batizada de Dynamo, poderá ajudar a entender o que provoca as mudanças do Índico e quais as consequências dessas variações.

Climatologia

"Os modelos climáticos deverão passar por uma revisão para checar se foram ou não aperfeiçoados desde o último relatório lançado pelo grupo internacional que trata do assunto."Ken Caldeira, climatologista do Instituto Carnegie (EUA).

De tempos em tempos, o Painel Intergovernamental sobre Mu­­danças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) publica relatórios sobre a evolução da climatologia e sobre o que devemos esperar do clima no futuro. Os modelos usados em 2007 eram bem mais sofisticados do que os anteriores, mas os cientistas apontaram que ainda havia muito a ser melhorado nos números e nas informações apresentadas. Um exemplo de falha no do­­cumento de três anos atrás: faltou estabelecer qual seria o aumento máximo para o nível dos oceanos nos diferentes cenários traçados para as próximas décadas.

Bioquímica

"O número de pessoas que terão o genoma completamente mapeado aumentará, mas, além disso, haverá novos tipos de genoma sendo decifrados."David Haussler, diretor do Centro de Ciência e Engenharia Biomolecular da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.

Cada indivíduo carrega em si vários genomas, e não apenas um código genético. Toda vez que uma célula se divide, um erro pode ocorrer na cópia dos genes. O Con­­sórcio Internacional de Geno­­ma do Câncer tem como objetivo sequenciar 25 mil genomas de vá­­rios tipos de tumor, que são um agregado de células "defeituosas". As células responsáveis pela imunidade também mudam com frequência ao longo da vida, mas es­­sas mutações ocorrem para reforçar a saúde do organismo. Os dois exemplos de­­vem oferecer avanços para a medicina. A genômica (ciên­­cia do genoma) do câncer pode ajudar os médicos a determinar quais remédios têm mais chances de erradicar um tumor. No caso do sistema imunológico, as descobertas auxiliarão nas pesquisas sobre o combate a infecções e sobre co­­mo minimizar as chances de rejeição no transplante de órgãos.

Engenharia

"A inspiração da biologia e os próprios processos biológicos ficarão cada vez mais importantes para a engenharia de objetos reais."Charles Vest, presidente da Academia de Engenharia dos EUA e presidente emérito do Massachusetts Institute of Technology.

Os engenheiros têm prestado cada vez mais atenção aos seres vivos. A evolução, afinal de contas, refinou animais e plantas ao longo de bilhões de anos e lhes conferiu propriedades que essa categoria profissional adora, como eficiência, força e flexibilidade. Agora, os engenheiros tentam copiar a natureza. Pesquisa­­dores da Universidade de Delft, na Holanda, estão em estágio avançado no desenvolvimento de um concreto preenchido com bactérias. Quando surgem rachaduras, os microorganismos soltam uma es­­pécie de calcário, que preenche e "cura" o material.

Neurociência

"Acredito que, no curto prazo, alguns mecanismos físicos da memória serão revelados."André Fenton, professor do Centro de Ciências Neurais da Universidade de Nova York.

Uma descoberta recente mostrou que uma molécula das ramificações dos neurônios, a PKMzeta, é a responsável pela manutenção da memória. Ao bloquear esse composto químico, as lembranças simplesmente somem do cérebro. Agora, os cientistas querem treinar animais para executar tarefas simples e então comparar o cérebro dos bichos que aprenderam a lição daqueles que não a captaram. Espera-se que um único punhado de PKMzeta seja o responsável pela absorção do aprendizado. Caso isso se confirme, os cientistas poderão "ver" a memória pela primeira vez na história.

Matemática

"Algumas das novas equações estarão corretas, mas não terão explicação. Teremos de aprender a fazer ciência sem a intuição. Os computadores nos darão respostas verdadeiras, mas que não entenderemos." Steven Strogatz, professor de Matemática Aplicada da Universidade Cornell.

Em 2011, os computadores se­­rão capazes de dar grandes contribuições à ciência. Um grupo de cientistas da Universidade Cor­­nell, por exemplo, usa as máquinas para explicar a quebra das proteínas dentro das células. Esse mesmo equipamento é capaz de redescobrir as leis de Newton ao "observar" um pêndulo. Os "cientistas automáticos" podem acelerar o ritmo das descobertas. Po­­rém, no caminho, devem alterar a própria natureza científica. Há séculos, os cientistas resolvem problemas a partir da intuição. Os resultados apresentados pelos computadores, entretanto, serão ao mesmo tempo ótimos para fazer novas previsões e impenetráveis para as mentes humanas. Talvez tenhamos de programar as máquinas para que expliquem essas descobertas. Do contrário, elas se tornarão uma espécie de oráculo, com revelações prontas para os meros mortais.

Tradução: João Paulo Pimentel

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