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Nikki Haley, menos de dois anos depois, deixará o cargo de embaixadora dos EUA na ONU | OLIVIER DOULIERY/AFP
Nikki Haley, menos de dois anos depois, deixará o cargo de embaixadora dos EUA na ONU| Foto: OLIVIER DOULIERY/AFP

Depois de menos de dois anos no cargo, Nikki Haley está planejando deixar o cargo de embaixadora dos EUA da Organização das Nações Unidas(ONU) no fim de 2018. Seu mandato relativamente curto não é incomum para a posição – ela permaneceu mais de metade do tempo em relação a seus 10 últimos antecessores –, mas sua decisão, ainda assim, pegou Washington de surpresa.

Houve especulações imediatas sobre o motivo pelo qual Haley está deixando o cargo, sendo que a maioria concentra-se em uma potencial corrida para a presidência dos EUA. Mas Haley disse a repórteres na Casa Branca, onde anunciou sua renúncia ao lado do presidente Donald Trump, que não concorreria ao cargo em 2020 e que apoiaria Trump. 

O que quer que tenha feito Haley decidir "tirar uma folga", as consequências dessa decisão serão observadas em todo o mundo. Mas quando se trata de mudanças reais na política externa dos EUA, a diferença pode estar mais no estilo do que na substância. 

Isso não significa que Haley não fosse uma figura importante. Apesar das frequentes críticas de Trump às Nações Unidas, ele seguiu a política das administrações de Clinton e Obama e fez do embaixador dos EUA na ONU um cargo no nível de alto gabinete. Quando o primeiro secretário de Estado de Trump, Rex Tillerson, mostrou-se tímido na mídia, Haley se tornou a voz de fato da política externa do governo. 

Para muitos republicanos do establishment, Haley era um dos poucos "adultos na sala" quando se tratava de política externa, promovendo a ideia de que o "America First" (América em primeiro lugar, slogan da administração Trump) não precisava significar "América sozinha". Ela se opôs a algumas políticas administrativas, como a recente redução do número de refugiados reassentados nos Estados Unidos, e assumiu uma posição pública mais dura contra a Rússia do que seu chefe. 

Algumas pessoas até mesmo afirmaram que Haley pode ter sido a infame "funcionária sênior" na administração Trump, que escreveu um artigo do New York Times dizendo que muitas pessoas dentro do poder executivo tentavam silenciosamente conter os piores impulsos de Trump.  

Mas se Haley fosse aquela funcionária anônima, há pouca evidência de que o próprio Trump suspeitasse disso. Na Casa Branca, na terça-feira, ele elogiou suas realizações e disse que ela tornou a posição do embaixador da ONU "glamourosa". De fato, segundo a maioria dos relatos, Haley teve um relacionamento caloroso com o presidente. 

Trump tinha bons motivos para valorizar Haley. Ela pessoalmente apoiou muitos de seus mais controversos movimentos de política externa, inclusive reconhecendo Jerusalém como a capital de Israel e transferindo a embaixada dos EUA de Tel Aviv e retirando os Estados Unidos do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ela também apoiou o esforço de Trump para cortar o financiamento dos EUA para países que não querem apoiar a política externa americana e adotou uma linha dura com inimigos como Irã e Venezuela. 

Haley respondeu às amáveis palavras de Trump sobre ela ao elogiar o presidente e sua família com um toque trumpiano: o genro presidencial Jared Kushner é "um gênio oculto que ninguém entende", disse ela, e os Estados Unidos são agora "respeitados" graças a Trump. 

Perdendo o brilho? 

Ainda assim, como relataram os repórteres Anne Gearan e John Hudson, do Washington Post, no mês passado, Haley havia assumido um papel menos importante nos últimos meses. O substituto de Tillerson como secretário de Estado, Mike Pompeo, prometeu revigorar o Departamento de Estado com "arrogância" e assumiu grande parte do trabalho diplomático quando se tratava da Coreia do Norte e do Irã, possivelmente os dois problemas mais importantes da política externa de Trump. 

Trump também contratou um novo conselheiro de segurança nacional, John Bolton, que é ex-embaixador dos EUA nas Nações Unidas e crítico da instituição. Bolton possui uma compreensão detalhada da maneira como a ONU trabalha – e tem sua própria agenda de como enfraquecê-la. 

O que quer que seja que tenha motivado a decisão de Haley de renunciar, parece provável que um fator é que ela não seja mais tão necessária quanto à época em que a administração Trump selecionava sua equipe. 

Futuro

O próximo passo que Haley vai dar não está claro. "Ela está correndo atrás de alguma coisa – nós simplesmente não sabemos o quê", como Susan Glasser, da New Yorker, escreveu. Enquanto uma corrida para a presidência em 2020 aparentemente não está entre as opções, ela provavelmente deve estar considerando algo mais adiante. Seu curto período na ONU lhe proporcionou uma experiência crucial em política externa que ela não havia conquistado em suas carreiras anteriores nos negócios e na política. 

Também não está claro quem ocupará o lugar de Haley, embora Trump diga que já tem alguns nomes em mente e anunciará o novo embaixador dentro de algumas semanas. Entre os nomes que estão sendo mencionados como prováveis opções: Dina Powell, executiva e ex-vice-assessora de segurança nacional do presidente Trump; o senador republicano Marco Rubio; o embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell; o senador Tom Cotton; e até a filha do presidente, Ivanka Trump. Outra teoria popular é a de que Haley ocuparia a cadeira do senador Lindsay Graham, republicano da Carolina do Sul, e que ele ocuparia o dela nas Nações Unidas. Ou talvez o lugar do procurador-geral Jeff Sessions. Nesta administração, tudo parece possível.

Mas é difícil imaginar qualquer um desses sucessores mudando o curso da política externa dos EUA em questões importantes. Em vez disso, parece que o próximo embaixador da ONU terá ainda menos independência política ou visibilidade na imprensa em comparação com o que Haley desfrutou. 

Mas será que essa independência de Haley realmente existiu? Ela é uma pessoa confiante, inteligente e politicamente ambiciosa que brigou com Trump antes de ele ser eleito. No entanto, seu período na ONU ainda consistia principalmente em promover políticas de Trump que alienaram os Estados Unidos do resto do mundo. Seus críticos não se lembrarão dela como uma "adulta na sala", mas como uma facilitadora dos objetivos estrangeiros, frequentemente brutais, de Trump.

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