
Os mercados financeiros dos EUA estão em chamas, prestes a ruir. Mas, faltando apenas seis semanas para os americanos elegerem o seu novo presidente, os eleitores se sentem desamparados: não acreditam que o governo de George W. Bush conseguirá solucionar o problema, e tampouco confiam na habilidade de John McCain ou Barack Obama de resolver a questão.
Nenhum dos dois candidatos ainda conseguiu convencer a maioria dos eleitores de que sabe como lidar com a crescente crise econômico-financeira. McCain tem exibido uma extraordinária capacidade para se contradizer a respeito do assunto, além de apenas sugerir medidas paliativas. O democrata Obama, numa posição mais cômoda depois de oito anos de uma sofrível administração republicana também tem sido vago.
Ambos vêm se esmerando na troca de acusações mútuas, em vez de projetar um plano específico de resgate. Atentos, e por isso aflitos, os eleitores têm demonstrado sua frustração. Apenas 24% dizem que é muito provável que Obama traga o tipo de mudança necessária para fazer de Wall Street um porto seguro das finanças. Um grupo um pouco maior (29%) acha que é capaz de Obama conseguir fazer isso. Mas é bem maior (42%) o contingente dos que acreditam que ele não conseguiria dar um jeito nessa situação segundo a mais recente pesquisa da Rasmussen Reports. McCain tampouco merece confiança. As cifras referentes a ele são semelhantes.
Apenas 25% acham que o republicano conseguiria produzir reformas que afetassem Wall Street. Outros 25% acreditam que ele faria isso. E 38% não apostam um centavo em sua capacidade. Ambos os candidatos aparentemente não se deram conta, ainda, de que nada menos do que 48% dos americanos que têm dinheiro aplicado afirmam que suas finanças pessoais estão piorando. Sem contar que 49% dos eleitores acreditam que o governo não fará o suficiente para salvar o país de um desastre financeiro.
"O povo americano está preocupado com a situação de nossos mercados financeiros e com a nossa economia. E eu compartilho de suas preocupações", limitou-se a dizer Bush, num comunicado emitido quinta-feira passada.
McCain se atrapalhou diante da crise. Segunda-feira, quando o quarto maior banco de investimentos do país, Lehman Brothers, entrou em concordata, causando pânico nos mercados, o republicano insistiu que "os fundamentos econômicos do país são sólidos". No dia seguinte, quando o governo teve de desembolsar US$ 85 bilhões para salvar a AIG, maior seguradora do país, McCain mudou de opinião: "Estamos numa crise. Todos sabemos. Estamos numa crise total".
Ele também escorregou em seus princípios. Até terça-feira era ardoroso defensor da auto-regulação dos mercados, sem qualquer interferência do governo inclusive na monitoração de seus procedimentos. Na quarta-feira, McCain emergiu prometendo submeter o sistema financeiro à rigorosa regulação do governo: "Vamos acabar com os abusos em Wall Street. Vamos pôr um fim à mesquinharia!", afirmou.
Obama praticamente limitou-se a reafirmar que realizará mudanças profundas. Na sexta-feira, quando o governo anunciou a criação de um pacote financeiro, o democrata foi pressionado a dizer que medidas práticas, afinal, ele próprio apresentaria para resolver a questão. Mas esquivou-se: "vou esperar primeiro que o governo apresente as suas propostas. Aí, então, revelarei as minhas".



