Washington - Menos de 24 horas depois de dizer que apoiava "totalmente'' o democrata Tom Daschle para o Departamento da Saúde, o presidente Barack Obama viu seu escolhido renunciar ao cargo por problemas com imposto de renda. É a primeira crise interna de um governo que completa 15 dias.
Desde que o caso veio a público, na sexta-feira, revelou-se que Daschle sabia de seus problemas com o fisco há mais tempo do que disse ao governo e antes de ser oficialmente convidado. Além disso, já na nova administração, ele teria feito lobby por um cargo para Leo Hindery, proprietário da InterMedia Partners, para o Departamento de Comércio.
O problema é que o empresário em questão é o mesmo que pagou mais de US$ 1 milhão em salários a Daschle e que cedeu por um ano um carro com motorista ao político, a origem dos impostos não pagos pelo ex-senador, que chegam a US$ 130 mil.
Para agravar a situação, outra indicada por Obama retirou candidatura ontem, por problemas com impostos de renda não pagos.
Nancy Killefer era a "czarina da performance'', convidada há um mês para fiscalizar os gastos governamentais, cargo subordinado à Casa Branca. Ex-chefe da divisão de Washington da consultoria McKinsey & Co., foi indicada no dia 7, quando Obama afirmou que ela ajudaria "a restaurar a confiança do povo americano no governo''.
A crise marca o fim da breve lua-de-mel do novo governo com Washington. O clima podia ser sentido na entrevista coletiva de ontem, em que os habituais gracejos entre o porta-voz, Robert Gibbs, e os repórteres que cobrem a Casa Branca deram lugar a uma nervosa série de perguntas.
"Eu acho que ambos (Daschle e Killefer) reconheceram que não se pode estabelecer um exemplo de responsabilidade e aceitar um padrão diferente para quem presta serviços'', disse Gibbs. "Ambos reconheceram que suas indicações iriam ser um desvio às metas importantes e à agenda fundamental que o presidente quer implantar.''
Com a dupla de ontem, são três os indicados de Obama que revelaram ter problema com o fisco. Completa o grupo o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que deixou de pagar o que devia durante sua passagem pelo FMI. No seu caso, no entanto, a oposição avaliou que uma eventual rejeição deixaria os mercados em pânico e aumentaria ainda mais a crise econômica, e ele foi aprovado.
Os casos colocam em dúvida a qualidade do processo de checagem por que passaram os convidados por Obama, tido como extremamente rigoroso. Os cargos políticos que cada presidente aponta ao chegar ao governo somam 3.300, e um terço precisa de aval do Senado.
Escolha
Ainda ontem, Obama anunciou o terceiro republicano de seu ministério. Como antecipado pela imprensa, o senador Gregg Judd, de New Hampshire, aceitou o convite para ser secretário do Comércio. Também aqui, um aparente tiro saiu pela culatra democrata.
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