
Jacques Mistral, membro do Conselho de Análise Econômica (círculo de economistas influentes ligado ao primeiro-ministro da França, François Fillon) acredita que o presidente eleito americano não defenderá o protecionismo e que aproximará os Estados Unidos de seus ideais: prosperidade, poder e respeito pelo mundo. Veja na entrevista:
A Europa pede uma verdadeira parceria com o novo presidente americano. O continente quer mais espaço na gestão do mundo?
Jacques Mistral Não é depois de uma brilhante vitória como a de Barack Obama, num momento em que a América vê com clareza o que quer, a hora de a Europa pedir mais espaço na gestão das questões do mundo. O que muda agora é que podemos reiniciar com base em uma relação de maior confiança.
Com a crise financeira, a Europa está em posição de força em relação aos Estados Unidos?
Estou convencido de que o sistema americano e a confiança absoluta na desregulamentação foi profundamente quebrada pela crise financeira atual. É um contexto em que a Europa, por ter uma visão menos ingênua do mercado financeiro, poderá exercer um papel de influência na reforma do sistema financeiro internacional.
É um peso novo para a Europa na história recente?
Há uma abertura para a Europa. Mas acho que os americanos vão buscar respostas da sua maneira. A Casa Branca, o Banco Central americano, Congresso, o lobby, Wall Street é que vão decidir. Seria sábio para os europeus serem muito hábeis neste momento.
Ser sábio significa, por exemplo, não dar lição para os americanos?
Sim. É importante compreender que os americanos questionam problemas de forma diferente dos europeus. Sarkozy propõe refundar o capitalismo, uma idéia perfeitamente francesa. Em Paris, as pessoas entendem. Estou em Washington e ninguém entende o que se quer dizer por refundar o capitalismo. Ninguém.
Se a política de Bush favorecia os ricos, a de Obama será mais à esquerda e pragmática?
Será de um pragmatismo esclarecido. Obama não tem uma doutrina detalhada, contrariamente a Bush, que tinha uma ideologia muito forte e uma resposta automática a não importa que problema: baixemos os impostos. A equipe de Obama terá uma visão de mundo bem mais complexa e se adaptará com mais flexibilidade.
Podemos esperar uma América mais protecionista?
A equipe de Obama não vai defender o protecionismo. Sua visão é de uma América que ganha, competitiva e aberta ao mundo.
O mundo corre o risco de se decepcionar com Obama?
Evidentemente. O mundo inteiro vai descobrir que o trabalho de um presidente dos EUA é defender os interesses de seus eleitores. Não se deve esperar mudanças brutais da política econômica dos EUA, nem em matérias diplomáticas e de segurança.



