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Há pouco tempo, a historiadora da arte Núria Rivero me levou a conhecer uma suntuosa mansão da época de ouro de Barcelona, que hoje pertence à cidade, mas um dos principais destaques era o que não havia nas paredes.

Um buraco de prego aqui. Outros acolá. Marcas descoloridas nas paredes. Para ela, os sinais marcam o local onde se encontravam as pinturas.

Só que não são só pinturas – tudo indica que algumas eram obras-primas de Rembrandt, El Greco e Goya, além de tapeçarias flamencas e outros objetos, 658 no total.

O sumiço das 352 pinturas e esboços, além de tapeçarias e outros trabalhos, constitui um roubo em grande escala para a Prefeitura, que acusa de posse indevida e fraude quatro filhas de Julio Muñoz Ramonet, industrial catalão que deixou sua propriedade à cidade de Barcelona ao morrer, em 1991.

Após 17 anos de batalhas legais sobre a validade do testamento do milionário, a Suprema Corte da Espanha deu ganho de causa a Barcelona, em 2012. A cidade agora acusa as filhas de retirarem a maior parte da coleção de arte do pai da mansão antes de serem forçadas a entregarem as chaves, um ano depois da sentença.

"Estamos falando de quantidades e qualidade de obras de arte desaparecidas que poderiam encher um museu de classe internacional", diz o advogado criminal Marc Molins, representante da cidade.

As filhas negam qualquer transgressão. Seu representante, Sergio Azcona, explicou que Barcelona recebeu todas as obras relacionadas à propriedade, de acordo com o inventário de 1998. Quaisquer outras peças de propriedade das filhas vieram de outras empresas do pai ou através de conexões familiares.

Azcona admitiu que a mansão de Muñoz Ramonet pode até conter menos objetos de arte que no primeiro inventário, mas isso não constitui prova de roubo por parte das filhas. "Se há quadros faltando é porque, muito provavelmente, foi o próprio industrial que os tirou de lá na época".

Muñoz Ramonet se tornou um dos maiores magnatas do país depois da Guerra Civil Espanhola graças a investimentos que iam desde tecelagens a companhias de seguro.

Algumas das obras de maior destaque ele ganhou ao assumir a coleção de um empresário têxtil, Ròmul Bosch i Catarineu, pouco antes desse morrer, em 1936. Depois da guerra civil, Muñoz Ramonet viu sua influência crescer graças às relações estreitas que mantinha com a ditadura de Franco. Nos anos 80, depois que a Espanha voltou à democracia, Muñoz Ramonet foi alvo de uma investigação de fraude de seguro – e acabou fugindo para a Suíça, onde passou a última parte de seu exílio em um hotel de luxo.

Quando perguntado se o fato de Muñoz Ramonet ter caído em desgraça afetaria os planos da Prefeitura para o local, o Secretário da Cultura Jaume Ciurana foi diplomático.

"Não estou aqui para julgar as contradições da vida e do trabalho de Muñoz Ramonet, mas sim para garantir que a cidade possa fazer uso integral do incrível presente que ele lhe deixou", disse.

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