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A tradicional tolerância espanhola à imigração parece estar endurecendo com a chegada permanente de barcos cheios de africanos e as acusações da oposição de que a permeabilidade da fronteira está levando ao aumento da criminalidade.

Uma pesquisa publicada pelo jornal "El Mundo" mostrou que 70% dos espanhóis acham que o país tem imigrantes demais, dez pontos percentuais acima do índice apurado em pesquisa semelhante, há apenas cinco meses. Muitos dos imigrantes vêm da América Latina, do Marrocos e do Leste Europeu.

Segundo a sondagem, 70% dos entrevistados também acreditam que a anistia dada a 600 mil imigrantes ilegais no ano passado foi responsável pelo aumento de 500% na chegada ilegal de africanos nas ilhas Canárias.

O governo socialista espanhol está com dificuldades para conter o afluxo de embarcações improvisadas. Enviou mais barcos-patrulha para as Canárias e pediu ajuda a Bruxelas.

A administração também mobilizou mais policiais na Catalunha, onde as autoridades atribuem o aumento nos roubos a gangues do Leste Europeu. Houve aumento também no número de sequestros em Madri.

"Trinta por cento das mortes e dos ferimentos são obra de criminosos estrangeiros", afirmava a manchete de um jornal espanhol.

O Partido Popular (PP), conservador, acusou o governo de perder o controle das fronteiras espanholas e de permitir o início de uma onda de crimes. Um socialista chegou a comparar o secretário-geral do PP, Angel Acebes, ao direitista francês Jean-Marie Le Pen.

Em seu discurso do Estado da Nação na terça-feira, o premiê José Luis Rodríguez Zapatero disse que a Espanha só pode aceitar imigrantes legais e que estejam de acordo com as necessidades do mercado de trabalho, mas afirmou que os espanhóis precisam se lembrar de seu passado.

- A Espanha é um país de imigrantes. Devemos tratar quem vem de fora do mesmo modo como historicamente exigimos que nossos compatriotas fossem tratados quando tiveram de procurar um futuro além de nossas fronteiras - disse ele ao Parlamento.

- O problema que mais preocupa os espanhóis neste momento é a imigração, com bons motivos - respondeu o líder do PP, Mariano Rajoy.

A imigração em grande escala é um fenômeno tão recente na Espanha que o país experimentou poucas tensões racistas, ao contrário de países como França, Grã-Bretanha e Alemanha.

Os partidos de extrema direita contam com apoio escasso, e a violência contra minorias étnicas é rara, mesmo logo depois dos ataques islamitas a bomba em Madri, há dois anos.

Em 2001, havia um milhão de estrangeiros legais no país. Mas agora o país é o maior destino migratório da União Européia. Dados do governo afirmam que havia 2,7 milhões de imigrantes legais em dezembro de 2005, 39% acima dos números de 2004.

De acordo com Carlos Malo de Molinos, chefe do instituto Sigma Dos, que conduziu a pesquisa para o El Mundo, o número de imigrantes legais e ilegais pode estar acima de 5 milhões - mais de 10% da população espanhola, de 44 milhões de habitantes.

- A lei da anistia foi bem recebida de início, mas as percepções mudaram, também em função da avalanche de imigrantes nas Canárias - disse ele.

O maior grupo de imigrantes, 36%, é de latino-americanos.

- Na Espanha, os imigrantes são geralmente bem recebidos e vistos como uma necessidade, principalmente os europeus e latino-americanos. Mas os africanos têm uma recepção pior. São as diferenças culturais, a língua e a religião - disse Molinos.

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