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O presidente dos EUA, Joe Biden
O presidente dos EUA, Joe Biden| Foto: EFE/EPA/Ron Sachs / POOL

A crise migratória que assola a fronteira sul dos Estados Unidos tem sido um ponto de tensão política e humanitária para os americanos. No entanto, para algumas organizações não governamentais (ONGs) pode estar representando uma grande oportunidade de lucro.

É o que aponta uma reportagem do site americano Free Press, que analisou dados de 2022 (o último disponível) de três organizações proeminentes que mais recebem dinheiro do governo americano para atuar na fronteira sul dos EUA prestando assistência a imigrantes, especialmente aos menores desacompanhados. São elas: a Global Refuge, a Southwest Key Programs e a Endeavors.

De acordo com a reportagem, a atual crise migratória contribuiu para aumentar ainda mais os cofres dessas ONGs, bem como para possivelmente engordar de forma significativa os salários de seus executivos, tudo isso graças aos repasses que são feitos pela Casa Branca, atualmente liderada pelo democrata Joe Biden.

A reportagem mostrou que as receitas combinadas dessas ONGs, provenientes de fundos federais, aumentaram de US$ 597 milhões em 2019 para cerca de US$ 2 bilhões em 2022, já sob a administração Biden.

O Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR, na sigla em inglês), da Administração para Crianças e Famílias, que integra o Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo dos EUA, é a entidade responsável por repassar recursos públicos para essas ONGs.

Nos EUA, o acolhimento de imigrantes menores que cruzam a fronteira do país sem um responsável legal recai sobre o “Programa de Crianças Desacompanhadas”, uma iniciativa também controlada e financiada pela Casa Branca.

No entanto, a execução prática dessa responsabilidade tem sido em grande parte delegada pelo programa para ONGs, especialmente para as três que foram citadas. Tais organizações atualmente são responsáveis pela gestão de abrigos que são montados nos estados do Texas, Arizona e Califórnia, onde esses menores imigrantes geralmente são alojados de forma temporária enquanto aguardam o reencontro com familiares ou a designação de tutores legais.

O orçamento federal destinado para o ORR tem sido aumentado de forma significativa ao longo dos últimos anos, crescendo de US$ 1,8 bilhão em 2018 para US$ 6,3 bilhões em 2023.

Os documentos examinados pela Free Press indicam que os CEOs dessas organizações também podem estar se beneficiando desse aumento nos repasses públicos. Segundo a reportagem, nos últimos anos, os salários desses executivos subiram para aproximadamente US$ 500 mil por ano, com o CEO da Southwest Key chegando a alcançar o patamar de US$ 1 milhão anual em remuneração.

A Southwest Key Programs, cujo CEO se chama Anselmo Villarreal, é conhecida por ter enfrentado diversos escândalos nos últimos anos. O mais notável deles foi o caso envolvendo um de seus funcionários, chamado Levian Pacheco, que foi condenado a 19 anos de prisão em 2019 por abusar sexualmente de adolescentes imigrantes em um abrigo da ONG localizado no Arizona durante os anos de 2016 e 2017. Segundo informações do promotor do Arizona, o indivíduo, além de cometer os abusos, expôs as vítimas ao vírus HIV.

Mas, ao que tudo indica, isso não foi suficiente para que o governo americano decidisse encerrar o envio de fundos para a ONG. Em 2022, já sob a administração Biden, os repasses governamentais para a Southwest Key chegaram a quase US$ 790 milhões.

Discrepância entre financiamento e assistência

Os números analisados pela Free Press se tornam ainda mais surreais quando se considera que, em alguns casos, o aumento do dinheiro governamental repassado para tais organizações não corresponde ao crescimento proporcional da assistência prestada por elas.

A reportagem destacou o caso da ONG Global Refuge como um exemplo disso. No ano de 2019, a organização atendeu a 2.591 menores com um orçamento financiado pelo poder público de US$ 30 milhões. Surpreendentemente, em 2022, apesar de ter prestado assistência a apenas 1.443 menores, os gastos dispararam para cerca de US$ 82,5 milhões.

Esse incremento substancial no custo por menor atendido levantou questões significativas sobre a falta de fiscalização, eficiência e a gestão dos recursos públicos que estão sendo destinados para essas organizações, que são considerados pelo governo democrata como “vitais” para assistência humanitária.

Charles Marino, que trabalhou com Janet Napolitano, a secretária do Departamento de Segurança Interna do governo de Barack Obama (2009-2017), afirmou ao site americano que "a quantidade de dinheiro dos contribuintes que eles [as ONGs] estão recebendo é obscena". Ele acrescentou que, em caso de uma investigação mais aprofundada do tema, "vamos descobrir que o desperdício, a fraude e o abuso do dinheiro dos contribuintes [que é enviado para essas organizações] vão rivalizar com o que vimos com o dinheiro federal da Covid”.

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