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Família palestina acampa sobre os destroços de casa destruída pelas forças de Israel em dezembro do ano passado: ataques causaram a morte de 1,4 mil palestinos e 13 israelenses | Mohammed Salem/Reuters
Família palestina acampa sobre os destroços de casa destruída pelas forças de Israel em dezembro do ano passado: ataques causaram a morte de 1,4 mil palestinos e 13 israelenses| Foto: Mohammed Salem/Reuters

Reação

Israelenses criticam resolução

Folhapress

Tel Aviv - O governo de Israel rejeitou ontem a "injusta’’ resolução do Conselho de Direitos

Humanos, que "ignora os ataques assassinos perpetrados pelo Hamas e outras organizações terroristas contra civis israelenses’’.

"Essa resolução encoraja organizações terroristas pelo mundo e solapa a paz global’’, disse o governo em nota.

O chanceler Avigdor Liberman dissera na quinta-feira que "quem quer que

vote a favor do relatório deve entender que da próxima vez (as acusações de crime de guerra) serão (contra)soldados da Otan no Afeganistão, e depois contra soldados russos na Tchetchênia’’.

Entre grupos palestinos, a reação ao endosso da resolução que condena as políticas de Israel foi de aprovação.

O líder no exílio do Hamas, Khaled Meshaal, disse que a resolução aprovada "é uma vitória dos palestinos e de seus mártires’’ e um trunfo do direito e da Justiça.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas afirmou que a decisão da ONU "será um meio de pressão para proteger os palestinos’’.

Genebra - O Conselho de Direitos Huma­­nos da ONU aprovou ontem uma resolução que condena as políticas restritivas de Israel em Je­­rusalém Oriental e exorta israelenses e palestinos a investigarem crimes de guerra cometidos por ambos os lados no mais re­­cente conflito em Gaza, como recomenda um polêmico relatório sobre o tema.

A margem estreita ilustra as turbulências causadas pelo texto entre os 47 membros do conselho. Houve 25 votos a favor, 11 abstenções e 6 votos contra. Cin­­co países se negaram a votar – inclusive França e Reino Unido. Paris alegou que a votação foi "prematura’’ e que a decisão é uma "farsa diplomática’’.

Avalizam a resolução o Brasil, a Rússia, a China, a Índia, a Áfri­­ca do Sul, os demais países latino-americanos com exceção de Mé­­xico e Uruguai (que se abstiveram) e os grupos árabe e africano, além do Movimento dos Não Ali­­nha­­dos e da Conferência Islâ­­mica.

O texto votado ontem foi recolocado em discussão pela Au­­toridade Nacional Palestina em caráter extraordinário após pressões internas sobre o presidente Mahmoud Abbas, que retirara sem explicar uma proposta de resolução similar colocada há duas semanas, durante a sessão ordinária do conselho.

A resolução se divide em três pontos, mas seu cerne é o segundo, que endossa o relatório da missão investigativa liderada pe­­lo juiz sul-africano Richard Golds­­tone sobre a ofensiva militar israelense contra Gaza em dezembro e janeiro passados e pede a implementação de suas recomendações.

Goldstone, que é judeu, concluiu que as Forças Armadas israelenses e o grupo radical palestino Hamas, que controla Gaza, cometeram crimes de guerra du­­rante o conflito, que deixou cerca de 1.400 palestinos e 13 israelenses mortos.

Mas embora condene os militantes palestinos, é muito mais duro com os israelenses, acusados de visar civis deliberadamente. Israel não colaborou com a missão, que usou como base testemunhos e entrevistas com autoridades.

Por fim, em uma longa lista, o juiz recomenda que, se as investigações de ambos os governos não forem consideradas satisfatórias pelo Conselho de Direitos Humanos, em seis meses a questão deve ser remetida ao Conse­­lho de Segurança da ONU e teoricamente aos promotores do Tri­­bunal Penal Internacional (TPI).

Segundo o jornal Financial Times, o promotor-chefe do TPI, Luis Moreno-Ocampo, examina se tem jurisdição sobre os crimes em Gaza. Israel não reconhece o tribunal.

O texto foi intensamente criticado pela imprensa norte-americana e mesmo pela europeia, apesar do endosso da maioria dos governos durante o debate ocorrido há duas semanas. On­­tem, a maioria dos países europeus se absteve, sendo que a Itá­­lia, a Hungria, a Holanda, a Ucrâ­­nia e a Eslováquia votaram contra, assim como os EUA, aliados de Israel, que se declararam "desapontados’’.

Mesmo entre os países fa­­voráveis houve dissonância, sendo a principal do Brasil, que votou pelos palestinos, mas fez ressalvas.

O tema de­­ve voltar a ser abordado na pró­­xima sessão regular do conselho, em março.

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O documento

Fonte: Folhapress

Relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU será enviado para o Conselho de Segurança da organização.

O que diz a resolução?

- Condena Israel pelas políticas restritivas e discriminatórias contra os palestinos em Jerusalém Oriental, inclusive pelo confisco de terras; 2) Endossa o Relatório Goldstone, que aponta crimes de guerra de ambos os lados em Gaza, e pede a implementação de suas recomendações; 3) Exorta o Conselho a monitorar o tema.

O que diz o relatório?

- Segundo o texto, palestinos e sobretudo israelenses cometeram crimes de guerra em Gaza e no sul de Israel durante o conflito entre dezembro e janeiro últimos. Ambos os governos devem investigar culpados e, na falta de avanço, o tema deve ser remetido ao Conselho de Segurança da ONU e ao Tribunal Penal Internacional.

Como se vê o relatório?

- A maioria dos países, inclusive o Brasil e os europeus, endossa o texto resultante da apuração do juiz sul-africano Richard Goldstone e sua equipe. Israel, que não colaborou para a investigação, o rechaça, e os EUA (o governo e a mídia) o qualificam de "profundamente falho’’. Goldstone rejeita as acusações de partidarismo.

O que pode acontecer?

- Ambos os governos devem, sob mandato do Conselho, investigar e punir culpados pelos crimes de guerra. Israel diz já tê-lo feito, mas a avaliação por ora é que as ações foram insuficientes. Se em seis meses a avaliação for a mesma, o tema deve passar ao Conselho de Segurança, onde os EUA vetam resoluções contra Israel.

O caso vai ao TPI?

- Dificilmente. Embora o relatório recomende que as conclusões das investigações sejam entregues aos promotores do Tribunal Penal Internacional, isso precisaria da anuência (improvável, dado o veto americano) do Conselho de Segurança. Ademais, nem Israel nem os EUA reconhecem o TPI, o que limita suas ações.

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