Opinião: Uruguai sem grandes turbulências após eleições

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Os resultados do primeiro turno presidencial no Uruguai imprimiram um caráter meramente formal ao segundo: Tabaré Vázquez será o sucessor de José Mujica. Contrariando as previsões da maioria dos analistas políticos, a Frente Ampla obteve naquela oportunidade 47,8% dos votos e a maioria parlamentar. Agora, confirmou o favoritismo com 52,8% dos votos. O próximo governo assume em um cenário sem grandes turbulências econômicas. Além de níveis de inflação que não ficam abaixo de 8% e um déficit fiscal em torno de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), o país tem uma perspectiva de crescimento econômico para 2014 e 2015 na casa dos 3%. A dívida líquida do setor público se encontra em torno de 25% do PIB, a taxa de emprego se encontra em seus maiores níveis históricos e o desemprego ronda os 6%.

Um dos desafios do próximo governo será elevar a qualidade dos empregos gerados nos últimos dez anos. Cabe recordar que aproximadamente 40% da população economicamente ativa recebe salários em torno de 14 mil pesos (cerca de R$ 1,4 mil), segundo estimativa do Instituto Cuesta Duarte da Central Única dos Trabalhadores. Com esse objetivo, as empresas públicas uruguaias vêm encabeçando algumas transformações econômicas, como as mudanças na matriz energética do país. Ao desenvolvimento dos combustíveis vem se somando a energia eólica, a biomassa e a solar, além da construção de uma usina de gás e uma nova central elétrica.

Com essas inversões público-privadas, o país não apenas substitui importações e agrega uma nova modalidade de exportação, como também impulsiona uma nova cadeia industrial com múltiplas sinergias. Uma delas é o desenvolvimento de conhecimento aplicado, uma área à qual Vázquez deu ênfase em suas manifestações públicas e na qual se comprometeu a incrementar os níveis de inversão.

O Uruguai enfrenta outros problemas na educação, alguns mais debatidos, como os relacionados à educação secundária, e outros muito menos abordados, como a formação dos pesquisadores. Entre os docentes universitários, apenas 10% têm estudos de pós-graduação, um número extremamente baixo.

No campo social, a Frente Ampla propôs implementar um Sistema Nacional de Cuidados. O objetivo central desse programa é distribuir de forma mais igualitária os custos associados à primeira infância e à terceira idade, através da expansão de creches para as crianças de 0 a 3 anos e uma política de subsídios para aqueles que empreguem pessoas com deficiência. Desse modo, a esquerda uruguaia continuará redefinindo o papel do Estado na construção de uma sociedade mais justa.

Maximiliano Duarte, uruguaio, pesquisador do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)