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Rio de Janeiro – Um dos pioneiros do estudo de Relações Internacionais no Brasil e co-autor de um recém-lançado dicionário sobre o tema, o professor Williams Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) acha que os Estados Unidos "não aprenderam a lição do 11 de setembro". Confira a opinião do analista sobre o quadro geopolítico pós-atentados.

O que mudou desde 2001?

Williams Gonçalves – O quadro foi alterado, desfavorecendo a idéia inicial dos EUA de agir sobre o mundo para torná-lo mais adequado aos interesses nacionais. Além de não conseguir transformar o Iraque em uma liberal-democracia, uma vitrine para o restante do Oriente Médio como prova de seu êxito político, Bush perdeu importantes aliados europeus, como o espanhol José María Aznar e o italiano Silvio Berlusconi (derrotados nas urnas), e assiste ao enfraquecimento do premier britânico Tony Blair.

Onde o governo Bush errou após o 11/9?

Uma alternativa teria sido liderar uma grande mobilização política a partir da ONU para, com o uso dos serviços de inteligência, reduzir o espaço de atuação dos terroristas, sem abrir mão de medidas repressivas. O erro foi superestimar a capacidade dos EUA, achando que suas instituições mudariam o mundo de acordo com a vontade de seus dirigentes, sem enfrentar resistência.

Afinal, que lição se tirou do 11 de setembro?

Não sei dizer se os EUA aprenderam alguma lição. O 11/9 e a reação norte-americana mostraram que o grande problema das relações internacionais do pós-Guerra Fria tem sido a forte concentração de poder nas mãos dos Estados Unidos. Enquanto não houver certo equilíbrio de forças, suas elites vão se sentir tentadas a intervir para mudar o mundo de acordo com seu ponto de vista. Iniciar guerras preventivas é prova disso.

Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, classificou de "medíocre" e "lamentável" a atuação do país na guerra ideológica contra o extremismo. Em um país onde as idéias são tão importantes, como isso é possível?

O governo Bush quis preencher o espaço que a URSS ocupava como inimigo estratégico com o terrorismo internacional, mas o terror não se presta a tal papel. Há, inclusive, dificuldade em defini-lo. Daí, o obstáculo para manter a sociedade permanentemente mobilizada. O inimigo não apresenta proposta ideológica, não oferece alternativa de organização social e política. Simplesmente não há resposta e, quando ela vem, é na forma de atentado.

Como os EUA resolverão o dilema democrático no Oriente Médio?

Eles partem da idéia de que poderão estabelecer a democracia de fora para dentro. Assim não funciona. Se os EUA quisessem mesmo mudanças político-institucionais na região, deveriam ajudar esses Estados a promover o desenvolvimento socioeconômico. Isso contraria, porém, cálculos geopolíticos e geoeconômicos, no centro dos quais está a necessidade de fontes seguras de suprimento de petróleo para manter sua economia funcionando.

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