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| Foto: Felipe Lima: Ilustração

Apesar de décadas de esforços de saúde pública para diminuir o consumo de tabaco, 20% dos norte-americanos ainda fumam. Novas pesquisas sugerem que a causa disso possa ser genética.

Embora as campanhas anti-tabagismo tenham o crédito de ter conseguido diminuir o consumo de tabaco drasticamente ao longo dos últimos 40 anos – de 42% de todos os norte-americanos para menos de 20% em 2010 –, o número de pessoas que não conseguiram largar o hábito tem se mantido baixíssimo em anos recentes, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA.

Dois a cada três adultos fumantes querem parar, segundo um relatório do CDC do começo do mês, e mais da metade (52%) tentou parar no ano passado.

Os autores do novo estudo, publicado no periódico Demo­­graphy, dizem que novas táticas podem ser necessárias para ajudar os fumantes restantes.

"Políticas federais e sociais podem ser menos eficazes agora talvez porque a composição daqueles em risco [os fumantes] tem mudado", diz Fred Pampel, coautor do estudo, professor de sociologia da Universidade de Colorado em Boulder e pesquisador associado do Instituto de Ciências do Comportamento. Aqueles que podiam deixar de fumar com facilidade já o fizeram, segundo os autores.

Políticas públicas

O principal autor do estudo, Jason Boardman, professor associado de Sociologia da Univer­­sidade do Texas, afirma que "as mensagens antitabagismo, impostos mais altos e restrições sobre o tabagismo já fizeram a diferença. Mas, para fumantes radicais, pode haver alguma outra coisa em jogo". Essa "outra coisa" é provavelmente genética, ele acrescenta.

Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após analisarem os hábitos de tabagismo entre 1960 e 1980 de quase 600 pares de gêmeos que responderam a um extenso questionário sobre saúde – 363 eram pares de gêmeos idênticos e 233 eram gêmeos fraternos. Gêmeos idênticos provêm do mesmo óvulo fertilizado antes de ele se dividir em dois embriões e compartilham os mesmos genes ou DNA, enquanto irmãos fraternos vêm de dois óvulos fertilizados separados e compartilham apenas algumas similaridades genéticas.

No grupo dos gêmeos idênticos, 65% de ambos os indivíduos pararam de fumar dentro de um período de dois anos um do outro, enquanto apenas 55% dos gêmeos fraternos o fez dentro desse mesmo período de tempo.

"A lógica aqui é que gêmeos idênticos têm os mesmos genes, logo eles agirem de modo semelhante provavelmente reflete um componente genético", diz Pampel.

A nova pesquisa acrescenta a uma crescente literatura que sugere ser provável haver uma influência genética substancial no que diz respeito ao vício em nicotina, observa Aditi Satti, professora assistente de medicina e diretora do programa de cessação de tabagismo no Hospital da Universidade Tem­­ple na Filadélfia. Mas os cientistas ainda estão tentando situar exatamente qual o gene ou genes envolvidos, ela diz.

"Não tem apenas um gene específico ligado ao vício em nicotina", afirma Satti.

Ela notou que, embora o número de fumantes tenha diminuído ao longo dos anos, o tabagismo ainda está em alta entre mulheres e afro-americanos, o que é possivelmente outra pista sobre quem é o grupo de maior risco genético. Populações de bairros centrais, de baixa educação formal e nível socioeconômico são mais passíveis de serem fumantes, também, acrescenta Satti.

"Uma combinação de produzir medicamentos melhores e educar as pessoas, mesmo se os médicos passarem apenas cinco minutos falando com o paciente sobre o cigarro, irá levar a melhores taxas de cessação de tabagismo", argumenta a pesquisadora.

Boardman considera que uma mudança de políticas pode ser necessária. Em vez de campanhas anti-tabagismo se focarem em impostos altos e propagandas espalhafatosas, ele diz que os fumantes atuais podem obter mais sucesso utilizando medicamentos que visem o vício em nicotina, além do aconselhamento.

"Eu defendo que terapias de substituição de nicotina podem ser mais eficazes com os fumantes que já tentam parar do que pôsteres que mostram imagens horríveis de fumantes. Os esforços para mudança de comportamento – eu não acho que vão ajudar quem fuma dois maços por dia."

Dano à saúde

Doenças relacionadas ao tabagismo são a causa de aproximadamente 443 mil mortes por ano nos Estados Unidos, inclusive de bebês nascidos prematuramente de mães que fumam durante a gravidez e fumantes passivos, de acordo com a Associação Americana do Pulmão (ALA, na sigla em inglês).

Satti se preocupa que o vício em cigarro não seja suficientemente levado a sério.

"Talvez nós não vejamos o tabagismo como sendo tão importante quanto o vício em álcool ou drogas, mas eu sou pneumologista e vejo doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema e câncer de pulmão todos os dias", observa. "E agora sabemos que a fumaça do tabaco está relacionada a doenças cardiovasculares e AVC. É uma das coisas mais fáceis de se prevenir. Se você parar de fumar, verá um impacto enorme na saúde", conclui a pesquisadora.

Tradução: Adriano Scandolara

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