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Freiras indianas, cristãos e membros de outras comunidades acendem velas durante uma marcha em solidariedade para homenagear as vítimas dos atentados do Sri Lanka, em Siliguri, Índia, 26 de abril. Foto: DIPTENDU DUTTA / AFP
Freiras indianas, cristãos e membros de outras comunidades acendem velas durante uma marcha em solidariedade para homenagear as vítimas dos atentados do Sri Lanka, em Siliguri, Índia, 26 de abril. Foto: DIPTENDU DUTTA / AFP| Foto:

Os atentados terroristas que deixaram mais de 250 mortos no Sri Lanka no domingo de Páscoa mostraram o lado mais extremo da perseguição sofrida por cristãos em grande parte do mundo.

Três igrejas, três hotéis e outros dois locais foram atacados em um curto período de tempo por homens-bomba ligados ao grupo radical islâmico National Thowheed Jamaath, um pequeno grupo local que até então era conhecido por ter praticado vandalismo contra estátuas budistas no Sri Lanka, em dezembro passado.

Especialistas já apontavam o possível envolvimento do Estado Islâmico (EI) nos ataques, por causa dos níveis de sofisticação e coordenação envolvidos. E na terça-feira (23), o EI reivindicou a autoria dos atentados, dizendo que o alvo eram cristãos e cidadãos dos “países da aliança” – aqueles envolvidos na coalizão militar liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico na Síria.

A maneira como o EI atuou em conjunto com o grupo terrorista local ainda precisa ser esclarecida. De toda forma, o caso mostra como o EI ainda tem influência mesmo após perder os territórios que controlava na Síria e no Iraque. Especialistas em terrorismo afirmam que os ataques fazem parte de uma nova tática do EI para reconquistar relevância: aliar-se a pequenos grupos regionais para ganhar terreno no Oriente Médio e na Ásia e estimular conflitos em países com presença muçulmana.

Perseguição minimizada

A perseguição aos cristãos tem sido ignorada ou minimizada no Ocidente. Em seguida aos ataques do Sri Lanka, houve muitas críticas à maneira como algumas autoridades se manifestaram a respeito do massacre.

Pelo Twitter, o ex-presidente americano Barack Obama e a ex-secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton falaram em “adoradores da Páscoa”, evitando os termos “cristãos” e “igrejas” ao expressar seu repúdio aos ataques. Muitos viram essas declarações como um exemplo de como o politicamente correto proíbe as pessoas de falarem sobre a violência anticristãos perpetrada por muçulmanos pelo mundo.

Mas o fato é que essa violência existe, e os lugares onde é mais perigoso praticar a fé cristã são frequentemente ignorados pela mídia ocidental, o que contribui para ofuscar a questão.

Os cristãos são o maior grupo religioso do planeta: 31% da população mundial é cristã, de acordo com o Pew Research Center, em comparação com 24% de muçulmanos.

Dos cerca de 2,2 bilhões de cristãos, a maioria vive em regiões onde a liberdade de religião não é garantida, e muitas vezes eles fazem parte de minorias étnicas, culturais e linguísticas, o que acaba agravando a sua situação de risco.

O recente massacre no domingo de Páscoa faz parte de um padrão global de violência anticristã em dias sagrados, como o escritor John L. Allen Jr., autor do livro “The Global War on Christians” (A Guerra Global Contra os Cristãos, sem tradução para o português), explicou em um artigo para o jornal americano Washington Post.

“Nas principais datas sagradas cristãs, em algum lugar do mundo, é provável que cristãos sejam mortos por nenhum motivo além de terem escolhido participar de cultos religiosos”, disse Allen Jr. No Natal e na Páscoa, os dias mais sagrados para os cristãos, as igrejas tendem a estar lotadas, o que as torna alvos do ódio contra a religião.

Por exemplo, em 2016, enquanto cristãos celebravam a Páscoa em um parque após um culto em Lahore, Paquistão, bombas explodiram matando 75 pessoas e ferindo mais de 300. Um caso  de atentado contra cristãos que celebravam o Natal aconteceu em 2011, quando o Boko Haram fez vários bombardeios pela Nigéria, incluindo um ataque contra uma igreja católica que deixou 37 mortos.

Massacres aumentam tensões religiosas

Certamente os cristãos não são a única religião perseguida no mundo, como mostram os recentes tiroteios que deixaram 50 mortos em duas mesquitas no mês passado em Christchurch, na Nova Zelândia, feitos por um homem supremacista branco australiano. O ministro da Defesa do Sri Lanka afirmou que as investigações sugerem que o massacre no domingo de Páscoa tenha sido realizado em retaliação ao atentado da Nova Zelândia.

O resultado desses casos para as comunidades religiosas nos dois lados é um ciclo vicioso. As tensões religiosas aumentaram no Sri Lanka, país de maioria budista, e muitos muçulmanos tiveram que fugir das suas casas em algumas cidades do país, temendo retaliações após o início de uma onda de ódio e ameaças de violência contra o grupo.

Pelo menos 700 refugiados islâmicos saíram de Negombo, uma das cidades em que as explosões ocorreram, e estão sendo abrigados e protegidos pela polícia após protestos da comunidade local.

Ranking

A organização internacional Open Doors, que atua em mais de 60 países para apoiar cristãos perseguidos, elabora um ranking anual dos países mais hostis para o grupo religioso, que serve como um indicador global das nações onde direitos humanos e religiosos são violados.

A organização afirma que os cristãos são um dos grupos religiosos mais perseguidos do mundo, e define essa perseguição como qualquer hostilidade experimentada como resultado da identificação com Jesus Cristo. Entre as formas de hostilidade estão o risco de prisão, perda de casas e bens, tortura física, decapitações, estupro e até a morte.

De acordo com o Open Doors, todos os meses, em média, 345 cristãos são mortos por motivos relacionados à sua fé; 105 igrejas ou locais cristãos são queimados ou atacados; 219 cristãos são detidos sem julgamento, sentenciados ou presos. Estima-se que 245 milhões de cristãos vivam atualmente nos 50 países que sofrem as restrições mais rígidas.

Pela primeira vez desde que a organização monitora a questão, com início na década de 1970, a Índia entrou para o top 10 dos países mais opressores aos cristãos. Ao mesmo tempo, a China subiu 16 posições, passando do 43º para o 27º lugar. Como cada um dos dois países tem população de mais de um bilhão de pessoas, os coordenadores do ranking veem essa tendência com preocupação.

O país com as piores condições para os cristãos é a Coreia do Norte, por 18 anos seguidos. Nessa ditadura comunista, é ilegal ser cristão e muitos são mandados para campos de trabalhos forçados quando são descobertos, segundo a Open Doors.

Alguns países com grande população cristã aparecem no ranking. A organização explica que há várias razões para esses casos. Na Colômbia, por exemplo, cristãos são perseguidos por rebeldes em algumas regiões do país, assim como outros grupos que sofrem com essa violência. Líderes cristãos são vistos como ameaça porque muitas pessoas deixam os grupos rebeldes após se juntar à religião.

Em sete dos dez países mais hostis, a principal motivação para a perseguição é a opressão islâmica. Mas as causas para as condições de risco para cristãos são variadas. Em países comunistas, como a Coreia do Norte, que ocupa o topo da lista, governos autoritários tentam controlar todas as expressões religiosas. Esses governos veem grupos religiosos como possíveis inimigos do Estado, porque as suas crenças poderiam desafiar a lealdade da população aos governantes.

É comum também a hostilidade contra minorias ou grupos não tradicionais. Por exemplo, na República do Níger, 98% da população é islâmica, e a perseguição contra cristãos vem mais da sociedade do que do governo.

Outra situação é a falta generalizada de atenção aos direitos humanos básicos. Por exemplo, na Eritreia, ocorrem violações das liberdades de expressão, reunião e de crença religiosa, além de assassinatos extrajudiciais, desaparecimentos, prisões e torturas, que causam a fuga de muitos cidadãos do país.

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