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CRISE POLÍTICA

Países da região vão enviar comissão ao Paraguai

Governo brasileiro defende preservação da estabilidade e da ordem constitucional no país vizinho

Faixa assinada pelo Partido Liberal, que rompeu com o governo e apoia o impeachment, pede a renúncia do presidente Lugo | Jorge Adorno/Reuters
Faixa assinada pelo Partido Liberal, que rompeu com o governo e apoia o impeachment, pede a renúncia do presidente Lugo (Foto: Jorge Adorno/Reuters)

Os países que integram a­­ União de Nações Sul-Ame­­ri­­canas (Unasul) decidiram ontem enviar uma comissão de chanceleres ao Paraguai para acompanhar a crise que se desenvolve no país. O anunciou foi feito pelo ministro das­­ Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, no Rio de Janeiro.

Segundo Patriota, o governo brasileiro posiciona-se pela preservação da estabilidade e da ordem constitucional paraguaia e pelo direito de defesa e devido processo legal do presidente.

"Nosso compromisso é com a democracia. A Unasul conquistou a muito custo a democracia e todos nós devemos ser defensores da integridade democrática da América do Sul", disse Patriota.

A Unasul é um organis­­mo político formado por Ar­­gentina, Bolívia, Brasil, Co­­lômbia, Chile, Equador, Guia­­na, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Criado formalmente em 2008, o bloco de países sul-americanos serve como um foro de discussão, e como uma "plataforma" para que essas nações anunciem posições conjuntas sobre temas como a crise global, e tomando, inclusive, providências comuns.

Em abril, por exemplo, a­­ secretária-geral do bloco, a colombiana María Emma Mejía, entregou ao seu colega das Nações Unidas Ban Ki-moon uma declaração com o apoio unânime da América do Sul às reivindicações argentinas ao Reino Unido pelas Ilhas Malvinas.

O assessor de Assuntos In­­ternacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse que o episódio que deflagrou o processo de impeachment contra Lugo – a retirada de trabalhadores sem-terra de uma fazenda – foi em cumprimento a uma ordem judicial.

Garcia disse que as informações que ele tem é de que as perspectivas no Senado paraguaio "não são boas" para Lugo.

EntrevistaJosé Maria Costa, professor na Universidade Nacional de Assunção.

"Ineficiência de Lugo para governar levou à atual situação"

O presidente Fernando Lugo é o principal responsável pela crise por "ineficiência para governar e incapacidade para comandar a aliança que o levou ao poder". A opinião é do professor José Maria Costa, da Universidade Nacional de Assunção. Nesta entrevista à Agência O Globo, ele diz que "os escândalos de paternidade minaram a credibilidade de Lugo, mas a situação atual é consequência de sua falência como chefe de Estado".

Como se explica um processo tão rápido de deterioração política do presidente?

O desgaste de Lugo começou há muito tempo e o impeachment foi possível graças à decisão do Partido Liberal de abandonar a aliança de governo. Muitos liberais estão insatisfeitos com o presidente faz tempo, mas hoje (ontem) o partido finalmente rompeu com Lugo e respaldou o pedido de impeachment.

Por que os liberais se afastaram do presidente?

Porque Lugo não lhes deu o espaço que eles queriam no governo. O último conflito foi desencadeado pela nomeação do ministro do Interior, que é do Partido Colorado (o mais tradicional do Paraguai). O Partido Liberal era o único sócio político importante do presidente, e ele acaba de perdê-lo. Todos os partidos importantes já decidiram pôr fim ao governo de Lugo, a questão é saber quando. Mas não vejo possibilidade de recuo.

Pode ser num prazo breve?

Vai depender da tensão no país. Já temos marchas em direção a Assunção de grupos sociais aliados ao presidente e também reações opositoras. O massacre de 18 pessoas (11 camponeses sem terra e 7 policiais) ocorrido fim de semana passado foi muito grave e terminou acelerando um processo que já estava sendo discutido por muitos partidos. Cubas (o ex-presidente Raúl Cubas) renunciou ao cargo depois de oito mortes nas ruas do país. Estamos falando de 18 vítimas; é difícil pensar na permanência de Lugo depois disso.

Como o país chegou a esta situação?

Pela ineficiência do presidente para administrar o Estado e sua incapacidade política para comandar a aliança que o levou ao poder. Lugo não soube negociar com seus aliados e os grupos minoritários de esquerda que acompanham o presidente ocuparam excessivos espaços na estrutura de governo. Isso incomodou os liberais, que acabaram optando por romper a aliança que venceu em 2008.

Os escândalos de paternidade têm peso nesta crise?

Não, os escândalos de paternidade minaram a credibilidade e o prestígio de Lugo, mas a situação atual é consequência de suas falências como chefe de Estado.

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