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Mais de 200 imigrantes ilegais fizeram greve de fome em Atenas na semana passada buscando obter a residência legal, em mais um capítulo da crescente crise imigratória que o país atravessa | Yiorgos Karahalis/Reuters
Mais de 200 imigrantes ilegais fizeram greve de fome em Atenas na semana passada buscando obter a residência legal, em mais um capítulo da crescente crise imigratória que o país atravessa| Foto: Yiorgos Karahalis/Reuters

Barreiras históricas

Desde o início da evolução humana, muralhas ou muros são utilizados como forma de proibir o acesso de civilizações consideradas inimigas a um determinado território.

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  • Confira no mapa o local de construção do muro

Na semana passada, 237 imigrantes ilegais iniciaram uma greve de fome na Grécia. Eles se reuniram na Faculdade de Direito da Universidade de Atenas para pe­­dir a legalização de sua situação no país. Centenas de policiais cercaram o centro universitário para realizar a desocupação e, após cin­co dias de protestos, os manifestantes resolveram desistir. A saí­­da foi negociada e todos deixaram o prédio pacificamente. Lon­­ge de ser só mais uma notícia que morreu, o protesto renovou a preocupação europeia com a entrada de clandestinos no bloco – e seu "trabalho de Sísifo" ao tentar barrá-los.

"O objetivo dos imigrantes não é buscar emprego somente na Grécia, que sofre com a severidade da sua crise econômica. Eles bus­­cam oportunidades na França, na Alemanha, no Reino Unido e em outros países do bloco", explica o coordenador do núcleo de Pes­­quisas em Relações Interna­­cionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexsandro Eu­­genio Pereira.

Isso explica o projeto grego, apoiado informalmente por países europeus, de construir um mu­­ro na fronteira com a Turquia, por onde entra a maior parte dos ilegais. Segundo estimativas, cerca de 90% dos imigrantes que in­­gressam de forma ilegal na comunidade europeia o fazem por meio da fronteira entre a Grécia e a Tur­­quia. Analistas veem na obra, condenada por defensores dos direitos humanos, uma repreensão eu­­ropeia não só aos imigrantes, que vêm da África e do Oriente Médio, mas também à Turquia e a seu pro­­jeto de adesão ao cobiçado bloco.

Origens

Todo o problema teria sua gê­­nese na decisão da Turquia em abrir suas fronteiras para que tu­­ristas das nações da África e do Ori­­­­ente Médio entrem sem necessidade de visto. Em busca de me­­lhores oportunidades, muitos des­­ses viajantes tentam migrar ilegalmente para a Grécia e dali para outras nações da UE.

"De certa forma, a proposta do muro significa que a Turquia não estaria fazendo sua parte na contenção de imigrantes ilegais com destino à UE", avalia Sergio Gil Marques, professor do curso de Re­­lações Internacionais das Facul­­dades Integradas Rio Branco.

Na opinião de Alexsandro Pe­­reira, o crescimento significativo dos fluxos migratórios rumo às nações mais desenvolvidas é um reflexo da falta de oportunidades em seus países de origem. Uma situação que agrava a crise empregatícia que a Europa atravessa – já que esses imigrantes ilegais pas­­sam a disputar parte do mercado de trabalho com os europeus já fixados, natos ou não, em determinado país da UE.

Reprovação

Apesar da intenção grega, especialistas têm uma opinião consensual sobre a construção de um muro como modo de tentar evitar a entrada de imigrantes ilegais na UE. "Já se percebeu que a ideia de construir um muro pode até re­­duzir a imigração, mas não a evita completamente – além dos des­­gastes políticos que causa. O mais adequado seria o policiamento ostensivo e intensivo de toda a ex­­tensão da fronteira", afirma Ser­­gio Gil Marques.

A ideia de que o problema não será resolvido apenas com a construção de um muro fronteiriço é também compartilhada por Alex­­sandro Pereira. "Não será a construção de um muro que limitará o fluxo de imigrantes para a Euro­­pa", afirma. Segundo Pereira, en­­quanto os países mais ricos não as­­sumirem suas responsabilidades pela crescente desigualdade econômica e social no mundo, es­­tes continuarão lidando apenas com as consequências da desigualdade. "Dessa forma, nunca enfrentarão a origem do problema", completa.

Apesar de ser contrário à construção de uma nova barreira física entre os dois países, Marcos Dias de Araújo, historiador e professor do curso de Relações Internacio­­nais da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), faz questão de deixar claro que, na verdade, já existe – além das diferenças históricas entre os dois povos – um muro que os separa. Essa barreira está localizada na ilha de Chipre e divide o território cipriota entre gregos e turcos. Para o historiador, a ma­­nutenção ou construção de mu­­ros nos dias atuais é uma aberração.

A construção do muro deve ser iniciada já em março deste ano. De acordo com o projeto, será er­­guida uma barreira de 12,5 quilômetros de extensão nas proximidades de Orestiada, considerada o principal ponto de entrada de imigrantes clandestinos na UE. Ores­­tiada é a cidade grega localizada mais ao nordeste do país, nos limites da fronteira seca com a Tur­­quia.

Confira no mapa a localização aproximada de algumas dessas barreiras

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