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Manifestantes com bandeira da União Europeia gritam frases contra Yanukovich, que viajou a trabalho para a China | Sergii Polezhaka/Reuters
Manifestantes com bandeira da União Europeia gritam frases contra Yanukovich, que viajou a trabalho para a China| Foto: Sergii Polezhaka/Reuters

Artigo

O que está em jogo?

Assim como os brasileiros, os ucranianos foram às ruas impulsionados por insatisfações com a condução política do país. Porém, os protestos na Europa Oriental possuem uma característica que remonta aos embates da Guerra Fria.

O anúncio, feito pelo presidente da Ucrânia, Viktor Yanykovych, do cancelamento das negociações que aproximariam a Ucrânia da União Europeia (UE) gerou uma onda de protestos e destacou um problema com linhagem histórica: o da influência da Rússia sobre o governo ucraniano.

As multidões em Kiev mostram uma polarização entre setores da sociedade ucraniana e os grupos políticos – os primeiros são apoiadores da integração com os europeus e os segundos defendem a consolidação de uma aliança política e econômica mais estreita com os vizinhos russos.

Essa polarização detonou a Revolução Laranja de 2004, que levou Viktor Yushchenko, simpático à União Europeia, ao poder. Entretanto, nas eleições presidenciais de 2010, o aliado de Vladimir Putin, Viktor Yanukovich, derrotou a candidata de Yushchenko, a premiê Yulia Tymoshenko, que pouco tempo depois foi condenada e enviada à prisão por suposto abuso de poder.

Aproveitando o cancelamento dos acordos com a UE, a ex-premiê, que mesmo presa mantém influência política na Ucrânia de Yanukovich, tenta mobilizar os simpatizantes da aproximação com a União Europeia na busca por antecipar as eleições presidenciais previstas para 2015, tentando surfar nos protestos da forma mais rápida possível, vez que até 2015 os protestos podem perder força e as demandas podem se dissipar.

Entretanto, é importante que se observe atentamente como o presidente Yanukovich irá lidar com uma mobilização popular capitaneada por sua adversária política, pois o medo de antecipação da eleição pode gerar uma repressão violenta por parte de um governo que acaba de se mostrar fiel à toda poderosa Rússia de Putin.

Está em jogo na Ucrânia algo que vai além de uma mera demanda doméstica. Trata-se de uma batalha geopolítica com raízes históricas que pode atravessar as fronteiras ucranianas.

Eduardo Saldanha, doutor em Direito e coordenador do curso de Direito da FAE, em Curitiba.

Ex-boxeador conquista força política

Um dos maiores pugilistas do mundo quer derrubar, no ringue da política, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich. Desde que se posicionou como candidato a presidente nas eleições de 2015, o lutador de boxe Vitali Klitschko, de 42 anos, virou um opositor declarado do atual governo.

Campeão mundial dos pesos-pesados pelo Conselho Mundial de Boxe, ele esbanja 47 lutas na carreira, com 45 vitórias (41 nocautes) e apenas duas derrotas.

Os fãs o chamam de "Doctor Ironfist" – "doutor Punho de ferro", em inglês. Seu irmão, Wladimir, 37, o "Martelo de Aço", também é campeão mundial da mesma categoria, mas por outras entidades, como a Associação Mundial de Boxe.

Vitali Klitschko entrou para a política em 2005, quando se lançou candidato a prefeito de Kiev. Perdeu, mas conseguiu se consolidar como uma liderança de destaque, principalmente pelo sucesso nos ringues do boxe. Criou o partido com a sigla "Udar", "soco" em ucraniano. A legenda conseguiu 40 das 450 cadeiras do parlamento ucraniano nas últimas eleições legislativas.

O pugilista tem sido um dos principais protagonistas das manifestações que tomaram conta de Kiev desde o último final de semana depois que o presidente Yanukovich não quis assinar um acordo previsto com a União Europeia.

A oposição, incluindo o lutador de boxe, acusa Yanukovich de ceder às pressões do governo da Rússia, contrário à aliança ucraniana com o bloco europeu. Klitschko, que tem um discurso a favor dos países do ocidente, tem pedido a renúncia do presidente.

Folhapress

Interatividade

O que é melhor para a Ucrânia: se alinhar com a Rússia ou investir na relação com a União Europeia? Por quê?

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  • Vitali Klitschko: boxeador ex-campeão mundial de pesos-pesados quer derrubar adversários no ringue político

Depois da cobrança política da União Europeia, o governo da Ucrânia sofreu críticas dos chanceleres da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, uma aliança militar ocidental) pela repressão aos protestos que tomaram as ruas da capital ucraniana, Kiev.

Reunidos em Bruxelas, os membros da Otan criticaram ontem a reação do governo de Viktor Yanukovich.

"Nós condenamos o uso excessivo da força contra manifestações pacíficas na Ucrânia", diz comunicado divulgado pela Otan, que reúne 28 países, entre eles Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido.

A atitude é simbólica porque pela primeira vez os americanos se manifestam sobre a situação em Kiev, agravada nos últimos dias por causa da pressão do governo russo para que Yanukovich recuasse de um acordo com a UE.

Desde o fim de semana, milhares de manifestantes, sob a liderança de políticos da oposição, foram às ruas pedir a renúncia do presidente, acusado de se aliar à Rússia contra o bloco europeu. Na segunda-feira, o presidente Vladimir Putin saiu em defesa do colega.

O grupo de chanceleres ressaltou que é preciso respeitar os "compromissos internacionais" e "defender a liberdade de expressão e de reunião" dos seus cidadãos.

Além do comunicado, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou: "Violência não tem lugar num estado europeu".

Desculpa

Ainda ontem, o primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, pediu desculpas no Parlamento pelo comportamento das forças policiais.

A declaração foi dada durante sua defesa para derrubar uma moção de censura que a oposição tentou aprovar contra ele.

A moção só conseguiu o apoio de 186 dos 450 deputados, 40 a menos que o necessário para retirar o voto de confiança do premiê, o que poderia desestabilizar ainda mais Yanukovich.

Segundo Azarov, não é possível romper com o governo de Vladimir Putin por causa de contratos de gás assinados com os russos em 2009 pela ex-premiê Yulia Tymoshenko.

Identidades - Quem quer tirar Viktor Yanukovich da Presidência da Ucrânia?

• Klitschko

Provavelmente o manifestante mais conhecido é Vitali Klitschko, ex-campeão de boxe que virou líder opositor. Ele comanda um movimento chamado Udar (soco) e planeja concorrer à Presidência em 2015.

• Svoboda

Movimento considerado ultranacionalista e liderado por Oleh Tyahnybok.

• Yatsenyuk

Um dos mais importantes manifestantes ucranianos é Arseniy Yatsenyuk, líder do segundo maior partido ucraniano, chamado Pátria. Ele é aliado de Yulia Tymoshenko, ex-premiê hoje na cadeia cumprindo pena por abuso de poder e principal rival política do presidente Yanukovich.

• Tymoshenko

Reconhecida internacionalmente como símbolo da oposição ao atual presidente e virou causa célebre na Europa. Ela foi presa em 2011 acusada de uso indevido de poder em um acordo sobre gás com a Rússia em 2009. Políticos europeus aceitaram sua versão de que sua condenação a sete anos de prisão foi motivada politicamente.

Influência

Para analistas, a decisão do governo ucraniano de suspender a negociações pela entrada na União Europeia se deve diretamente à pressão da Rússia – o governo russo adotou medidas como inspeções demoradas nas fronteiras e o banimento de doces ucranianos, além de ter ameaçado Kiev com várias outras medidas de impacto econômico.

Viagem

O presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, viajou ontem para a China, saindo do país em um momento de tensão, com manifestações nas ruas devido à decisão do governo de rejeitar o convite para entrar na União Europeia, decisão tomada sob pressão da Rússia.

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