• Carregando...

O Papa Bento XVI embarca na terça-feira para a Turquia, numa das viagens mais delicadas de seu pontificado, devido aos ressentimentos no país a respeito de recentes comentários dele sobre o Islã e de sua oposição à adesão de Ancara à União Européia.

Inicialmente, a visita foi pensada para ser um evento eminentemente cristão, centrado no encontro do Papa -- líder de 1,1 bilhão de católicos romanos -- com o patriarca Bartolomeu, de Istambul, representante de 250 milhões de cristãos ortodoxos do mundo.

Mas a viagem assumiu ramificações políticas ligadas às relações do Ocidente e do Catolicismo com o Oriente e o Islã. Na Turquia, um país majoritariamente muçulmano, mas oficialmente laico, a atitude em relação a Bento XVI varia da indiferença dos não-religiosos à ira dos devotos e ativistas.

O Papa enfureceu os muçulmanos de todo o mundo em setembro, com uma palestra na qual aludia ao Islã como uma religião irracional e violenta. Ele lamentou a reação de seus comentários, mas não chegou a se desculpar por eles.

Muitos líderes turcos querem que o Papa aproveite a visita para declarar que o Islã é pacífico.

- Acho que a atitude do Papa deveria ser de que nem o Islã nem o Cristianismo são fontes de violência - disse recentemente Ali Bardakoglu, chefe do Diretório Geral de Ancara para Assuntos Religiosos, que controla os imãs turcos e escreve seus sermões.

Um possível gesto de conciliação acontecerá na quinta-feira, quando o Papa fará uma visita, programada às pressas, à famosa Mesquita Azul, de Istambul.

Será a segunda vez que um Papa vai a um templo islâmico. A primeira foi em 2001, quando João Paulo II entrou numa mesquita de Damasco.

A Turquia preparou um forte esquema de segurança para o Papa, que visitará Ancara, Istambul e o local, perto de Izmir, na costa do Egeu, onde a Virgem Maria teria vivido e morrido.

Ao contrário do que ocorre habitualmente em viagens, o Papa não se deslocará no papamóvel, e sim num carro fechado.

O primeiro-ministro Tayyip Erdogan, que inicialmente disse não ter espaço na agenda para receber o Papa, recuou depois de sofrer críticas e marcou um rápido encontro no aeroporto de Ancara, antes de embarcar para uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Antes de ser eleito Papa, em 2005, o então cardeal Joseph Ratzinger manifestou sérias restrições à adesão da Turquia à União Européia, citando diferenças culturais e religiosas.

O Vaticano agora diz não se opor à participação turca no bloco, e o Papa evita o assunto desde que assumiu o pontificado. O patriarca Bartolomeu disse que pretende falar ao Papa que a UE não pode ser um "clube cristão'' e que a Turquia deveria poder aderir.

Há apenas 120 mil cristãos na Turquia, sendo 30 mil católicos. Há um século, havia 2 milhões de cristãos no país.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]