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Cidade do Vaticano – O Papa Bento XVI fez ontem um balanço de sua viagem ao Brasil e afirmou que não se pode ignorar as "injustiças infligidas" aos primeiros moradores da América Latina durante o processo de colonização. "A lembrança de um passado glorioso não pode ignorar as sombras que acompanharam a obra de evangelização do continente latino-americano", disse o líder católico diante de 50 mil pessoas no Vaticano. "Não é possível, de fato, esquecer o sofrimento e as injustiças infligidas pelos colonizadores às populações indígenas, freqüentemente esmagando seus direitos humanos fundamentais", acrescentou.

No dia 13 de maio, o Papa pregou aos bispos do continente, na abertura da 5.ª Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que "o anúncio de Jesus e de seu Evangelho" aos povos indígenas da América "não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estrangeira". Também afirmou que os povos indígenas ansiavam por Cristo, mesmo sem conhecê-lo, e que "a utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, as separando de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas um retrocesso", ou "uma involução a um momento histórico ancorado no passado".

As declarações foram criticadas por lideranças indígenas e políticas. "É arrogante e desrespeitoso considerar nossa herança cultural inferior", disse Jecinaldo Sateré-Mawé, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente da Funai, Márcio Meira, afirmou que a catequização dos indígenas brasileiros foi um processo de imposição, "muitas vezes pelo uso da força".

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou o Pontífice de ignorar os crimes que se seguiram ao desembarque de Cristóvão Colombo. "Com todo respeito a Vossa Santidade, peça desculpas, porque houve um verdadeiro genocídio aqui", disse Chávez.

Apesar das declarações amenas, o Papa não fez ontem um pedido de desculpas formal aos índios, tal como João Paulo II. Em 1992, o antecessor de Bento XVI rogou aos descendentes indígenas que perdoassem os crimes cometidos pelos conquistadores espanhóis.

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